Mateus 28: 18-20
Igreja Evangélica Presbiteriana,
Domingo, 4 de março de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Meus amados, vamos ler Mateus 28:18-20
18 Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra. 19 Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
século.
Certo dia, há muito tempo atrás, numa cidadezinha
da Galiléia chamada Cafarnaum, um homem comum, cobrador de impostos chamado
Mateus, novamente levantou-se pela manhã e saiu para mais um dia de trabalho.
Assim como para a maior parte do povo judeu, a
vida de Mateus não era fácil. Porque mesmo quando um povo é governado pelos
seus compatriotas, na maior parte das vezes a injustiça social é muito grande.
Mas os judeus daqueles dias eram dominados pelos
romanos. Eles não podiam se dirigir pelas suas próprias leis internas. Todos os
servidores públicos trabalhavam para os romanos. Os impostos eram altíssimos, e
a vasta maioria da população era muito pobre.
E então o povo, de modo geral, se sentia oprimido,
triste e insatisfeito, e orava ansiosamente para que, a exemplo do que havia
acontecido na antiga história de Moisés, a providência divina lhes enviasse um
salvador. Aliás, eles não somente oravam, mas muitas vezes havia levantes
populares, buscando, através da luta armada, a libertação de Israel. Levantes
populares que foram todos sufocados pelas forças militares romanas.
Eles oravam porque eram um povo extremamente
religioso. Entendiam-se como uma nação que veio à existência por causa da aliança
que Deus fizera com o seu grande patriarca Abraão, havia mais de dois mil e quinhentos
anos. Um povo que, segundo as promessas de Deus, se multiplicou, recebeu a
Palavra do Senhor por meio dos profetas, e deveria ser uma luz com a mensagem de
Deus para todas as nações.
Mas, se de um lado, politicamente falando eles
estavam oprimidos sob o domínio dos romanos, por outro lado a vida religiosa
não era diferente; pois a fé judaica estava amarrada a um emaranhado de
invenções, tradições e leis humanas, e dividida em vários grupos sectários que,
mesmo tendo as Escrituras na mão, haviam se distanciado dos ensinamentos delas,
e não andavam conforme os desejos de Deus.
Então havia as facções dos fariseus e dos
saduceus, e dentro destes grupos, os escribas e os sacerdotes. Sem falar dos
zelotes, que eram religiosos guerrilheiros; e dos essênios, uma seita com
tendências místicas, que vivia separada da sociedade em geral. E havia uma
coisa em comum entre todos estes grupos: é que poucas pessoas eram realmente
piedosas, tementes a Deus, que seguiam as Escrituras. A vasta maioria não era
assim.
A população, de modo geral, tinha respeito pelos
líderes religiosos, mas sentia-se oprimida também por eles, pois eram
autoritários, desamorosos, condenadores. Do ponto de vista de muitos destes
líderes, para os que caíam em pecados grosseiros, como adultério e
prostituição, não havia perdão.
Aliás não havia perdão para muitas “modalidades de
pecado”, incluindo aí muitos tipos de profissão, entre elas a dos cobradores de
impostos, como era o caso de Mateus. Pois, segundo eles, como Deus poderia
perdoar alguém que trabalhava para os inimigos do seu povo escolhido? E
naturalmente, sendo um cobrador de impostos, Mateus também era desprezado por
muitas pessoas do povo em geral.
Mas o que aconteceu naquele dia mudou
completamente a vida de Mateus. Ele estava na coletoria, fazendo o seu trabalho,
quando Jesus passou por ali. Jesus era um Mestre religioso, mas não como os
outros. E não sei o que Mateus conhecia de Jesus antes daquele dia, mas sei que
quando Jesus passou por ele, olhou bem nos olhos e disse: “Segue-me”. E Mateus simplesmente levantou-se imediatamente, e
passou a ser um discípulo de Jesus.[1]
Daí em diante começou a ouvir ensinamentos do
Senhor, completamente diferentes de tudo quanto escutara antes. E não somente
ele, mas multidões de pessoas, a ouvir os ensinamentos de Jesus, exclamavam:
“Que doutrina extraordinária”. Pois chamava a todos, indistintamente, ao
arrependimento; falava sobre salvação para todo tipo de pessoas. Os piores
pecadores se aproximavam dele e tinham seus pecados perdoados. Suas vidas eram
restauradas.
Mateus, assim como os demais discípulos, viu Jesus
pregar a mensagem do reino de Deus, viu Jesus libertar pessoas oprimidas pelo
diabo, viu Jesus curar enfermos, ressuscitar mortos, ouviu Jesus dizer que ele
era o Cristo, o Messias prometido pelos profetas. Ouvir Jesus dizer que
morreria pelos pecadores, mas que depois de três dias ressuscitaria. Mateus não
somente ouviu Jesus falar isto, mas viu Jesus ser preso, crucificado e morto. Também
viu Jesus ressuscitado. E assim como mais de quinhentas pessoas, viu Jesus
subir ao céu diante dos seus olhos, prometendo que um dia voltará para nos
buscar. Por fim, assim como os demais apóstolos, Mateus ouviu as palavras de
Jesus, no sentido de que, quando viesse sobre eles o poder do Espírito Santo,
eles deveriam ir por todo o mundo pregando o evangelho da salvação, até que ele
volte, para que todos quantos ouvirem tenham a oportunidade de conhecer o
caminho do reino de Deus.
Assim, Mateus, juntamente com os demais apóstolos,
depois da partida de Jesus, no dia do Pentecoste, recebendo o Espírito Santo
prometido, dedicou-se a pregar o Evangelho. E muitos anos mais tarde, inspirado
pelo mesmo Espírito, colocou os ensinos de Jesus por escrito, de maneira que
eles pudessem ser transmitidos de geração em geração.
É desta forma que, através de quase dois mil anos,
pela vontade de Jesus, o Evangelho de Mateus chegou até nós: é o testemunho de
um homem que encontrou Jesus, ou para falar de um modo mais preciso, foi
encontrado por ele, que teve sua vida transformada, que viu muitas vidas serem
transformadas, que foi ensinado pessoalmente pelo Senhor, que o viu morrer,
ressuscitar, subir ao céu, e que anos depois selou o testemunho de sua fé dando
sua própria vida [2]. Hoje
nós vamos começar nossos estudos neste Evangelho.
Primeiramente vamos considerar...
1. O que
é Evangelho
A palavra evangelho é de origem grega, e significa
“boa notícia”. Dentro do contexto bíblico ela é usada para designar a boa
notícia do amor de Deus por nós, que o motivou a enviar Jesus para ser o nosso
Salvador. No Antigo Testamento há uma passagem muito bonita, que mais tarde o
apóstolo Paulo cita na carta aos Romanos[3],
anunciando o Evangelho da Salvação em Jesus:
Is 52:7
Que formosos são sobre os montes os pés do que
anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz
ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!
Esta palavra, “boas-novas”, no texto grego, é
“evangelho”. O profeta nos diz que “evangelho” é notícia boa, notícia de paz,
notícia que fala do reino de Deus, que fala de salvação. Assim, uma palavra que
podemos dizer, era “comum” na língua grega, tornou-se um termo próprio da
religião cristã, para designar a notícia do amor de Deus por nós e da vida
eterna.
Os evangelistas, quero dizer, os homens que
escreveram os Evangelhos que temos na Bíblia, usam esta palavra para resumir
tudo quanto Jesus ensinou. Por exemplo:
Mt 4:23
Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas
sinagogas, pregando o evangelho [isto é, a boa notícia] do reino e curando toda
sorte de doenças e enfermidades entre o povo
Mt 24:14
E será pregado este evangelho [boa notícia] [4]
do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim
Mt 28:18-20
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra.
19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século”
Esta foi a grande missão que Jesus aos seus
apóstolos, depois de sua ressurreição, a sua última ordem antes de subir ao
céu. Aqui nós vemos que o ensino dele deve ser transmitido de geração em
geração, para pessoas de todas as nações, a fim de que elas também se tornem
discípulos do Senhor.
Note três coisas importantes nesta tarefa de fazer
discípulos: Primeira: que os
discípulos sejam batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As
implicações deste mandamento do Senhor nós iremos considerar em ocasião
oportuna. Segunda: que os discípulos
devem ser ensinados, não somente sobre o batismo, mas também sobre tudo quanto
Jesus ordenou. Isto quer dizer, meus irmãos, que aprender dele é tarefa para
nossa vida inteira. Terceira: à
medida em que o ensino de Jesus está sendo transmitido, aqueles que o ensinam
podem contar com a assistência dele. A promessa é esta: “eis e que estou convosco todos os dias, até à consumação do século...”
Agora vejamos o texto paralelo, em Marcos:
Mc 16:15-16
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o
evangelho a toda criatura. 16
Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”.
A palavra que ele usa para o ensino de Jesus é
Evangelho. À luz do que temos dito até agora, será que para uma pessoa ser
salva ela precisa conhecer cada palavra que Jesus ensinou, e obedecer cada
mandamento inquestionavelmente? Não. Não é isto o que Jesus nos diz.
Quando Jesus ensinou a respeito do reino, quando
deu mandamentos, o que ele estava fazendo era colocar diante de nós, aquilo que
Deus deseja, e consequentemente os alvos que devemos ter como seus seguidores.
Por isto devemos aprender, nos esforçarmos por viver de acordo com isto, e
também ensinar para outras pessoas. Para isto podemos contar com a ajuda do
Espírito Santo.
Mas a nossa salvação não nos é dada como
consequência de nossas obras. Se assim fosse, nenhum de nós seria salvo. Pois,
por mais que ansiemos e busquemos, não chegaremos a uma maturidade tão grande
que nos tornaremos impecáveis. A salvação, nos ensina Jesus, é pela fé. “Quem crer e for batizado será salvo. Quem
porém não crer, será condenado”. Note que Jesus não disse: “quem não for
batizado será condenado”. Ele disse: “quem não crer será condenado”. A condição
então é que creiamos em Jesus.
Nós não temos, agora, como ver tudo quanto Jesus
ensinou (para aprender um pouco mais é que vamos passar alguns domingos
meditando sobre o Evangelho de Mateus), mas eu quero apenas assinalar o que ele
diz sobre o perdão dos nossos pecados para a salvação. Este ensino foi dado,
entre outras ocasiões, na noite em que Jesus foi traído por Judas, a noite em
que ele instituiu a santa ceia:
Mt 26:26-28
Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e,
abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o
meu corpo. 27 A seguir, tomou
um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele
todos; 28 porque isto é o meu
sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão
de pecados
Evidente que o pão e o cálice de vinho não eram,
literalmente corpo e sangue de Jesus, mas os simbolizavam. Jesus diz que o
sangue dele, que seria derramado na cruz, na manhã seguinte, era o sangue da
nova aliança de Deus conosco, para a remissão, isto é, para o perdão dos nossos
pecados. Mais tarde, o apóstolo Paulo escreveu que esta é a essência de todo o
evangelho de Jesus: Se você crer que Jesus morreu pelos seus pecados, você será
salvo.
1ª Co 15:1-4
Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos
anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; 2 por ele também sois salvos, se
retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em
vão. 3 Antes de tudo, vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo
as Escrituras, 4 e que foi
sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras
Evangelho, pois, é a boa notícia do amor de Deus
por nós; amor que se manifestou em enviar Jesus, o seu Único Filho, ao mundo,
para nos ensinar sobre o reino de Deus, para nos dar fé, para morrer pelos
nossos pecados; a fim de salvar a todo aquele que nele crer.
Mas os irmãos notaram que estamos falando do
Evangelho “no singular”, como sendo a totalidade da mensagem de salvação que
nos foi trazida em Jesus Cristo. Então, porque também falamos dos “Evangelhos”,
no plural? Porque Evangelho de Mateus, Evangelho de Marcos, Evangelho de Lucas
e Evangelho de João? E porque Paulo fala de seu ensino sobre Jesus como sendo
“o meu Evangelho”?[5]
Porque
quatro evangelhos, se a mensagem é uma só?
2.
Porque quatro evangelhos em nossas Bíblias
Quero apresentar duas razões básicas pelas quais
temos estes “quatro evangelhos” em nossas Bíblias.
2.1 – A primeira delas é o desenvolvimento histórico
natural da Igreja Cristã.
Depois que Jesus subiu ao céu, em cumprimento de
sua missão, os discípulos começaram então a pregar o Evangelho, primeiramente
em Jerusalém, depois por toda a Judéia, na Samaria e assim por diante, até
chegar à capital do império, a cidade de Roma. Na carta de Paulo aos
Colossenses, parece que ele dá a entender que o Evangelho foi pregado em
praticamente todo o império romano [6].
E assim, o número de cristãos foi se multiplicando.
Com o passar do tempo, como é natural, começou-se
a sentir a necessidade de transmitir por escrito os ensinamentos de Jesus,
tanto para os que já eram discípulos quanto para a divulgação da fé entre os
que ainda não haviam ouvido o Evangelho. Assim, em vários lugares, as obras e
os ensinamentos de Jesus começaram a ser escritos.
Existem vários registros históricos que nos falam
da maneira como os quatro Evangelhos surgiram. Ainda que não o mais antigo, um
dos mais completos foi escrito por aquele que é considerado o primeiro
historiador da igreja, Eusébio de Cesaréia.
Entre outras coisas ele escreveu que Mateus, tendo
“pregado aos hebreus, quando estava a ponto
de ir para outros, entregou por escrito seu Evangelho, em sua língua
materna, fornecendo assim por meio da escritura o que faltava de sua
presença entre aqueles de quem se afastava...”[7]
A respeito de Marcos, Eusébio também nos conta que ele
era companheiro do apóstolo Pedro em suas viagens missionárias. E que quando
estavam em Roma, não satisfeitos em ouvir muitas vezes as história de Jesus que
Pedro contava, os romanos insistiram com Marcos, a fim de que ele as
escrevesse. Foi assim que, após a partida de Pedro, surgiu o Evangelho de
Marcos.[8]
Da mesma forma que Marcos recebeu seu Evangelho dos
ensinamentos de Pedro, Lucas, além de ter ouvido Paulo muitas vezes, fez uma acurada
pesquisa, tanto em livros, como entre os que foram testemunhas oculares da
história de Jesus, e com base no testemunho deles escreveu tanto o seu “Evangelho
de Lucas” como a sequência dele, o “Atos dos Apóstolos”.
Tanto no Evangelho como em Atos, Lucas inicia seus
livros dirigindo-se a um homem chamado Teófilo (um nome grego que significa
“que ama a Deus”), explicando que os escreveu a fim de que Teófilo pudesse ter
plena certeza das coisas que ouvira sobre Jesus.[9]
Assim temos o Evangelho de Mateus, que foi escrito
para os hebreus, o Evangelho de Marcos, que foi escrito para os romanos, o Evangelho
de Lucas, que foi escrito para um grego, chamado Teófilo.
E por último, Eusébio nos diz que João escreveu seu
Evangelho na Ásia, em Eféso, no fim de sua vida, para suprir relatos que
faltavam nos três primeiros[10].
Desta maneira, nós temos quatro relatos do Evangelho
em nossas Bíblias por causa dos desenvolvimentos históricos pelos quais a
Igreja de Cristo passou em seus primeiros anos.
2.2
– A segunda razão básica para termos quatro Evangelhos é, digamos assim, doutrinária
Com isto quero dizer que, por trás dos acontecimentos
históricos, estava a boa mão de Deus, usando homens com personalidades e
culturas diferentes, estilos diferentes, que tinham “auditórios” com necessidades
diferentes, inspirando estes homens para que cada um nos desse sua contribuição
particular, a fim de que tenhamos um conhecimento maior de Jesus. Embora
concorde com as narrativas dos demais, cada um deles ressalta um aspecto
importante de Jesus; de sua pessoa e de suas obras.
Por isto, desde há muito tempo, foi observado que Mateus,
sem deixar de falar sobre outros aspectos de nosso Salvador, nos apresenta
Jesus proeminentemente como o Messias, o rei prometido através dos profetas.[11]
A ênfase de Mateus está em Jesus como o rei ungido,
enviado por Deus para manifestar seu reino entre os homens. Em Mateus,
Cristo é apresentado como o Filho de Davi, o Rei dos judeus, e tudo em suas
narrativas gira em torno dessa verdade. O Evangelho é o Evangelho do Reino dos
céus. Isso explica porque Mateus começa com a apresentação da genealogia real
de Cristo, e porque no segundo capítulo registra a história da viagem dos
sábios do Oriente, que chegaram a Jerusalém perguntando “Onde está o
recém-nascido Rei dos judeus?”.
Em
Marcos, temos a figura de Cristo como o Servo de Javé, aquele que, embora fosse
rei, se humilhou e “assumiu a forma de servo”. Tudo no Evangelho de Marcos
contribui com esse tema central. Não há genealogia em Marcos, por que Jesus é
apresentado já no começo do seu ministério público trabalhando: curando,
pregando, ensinando. Uma das palavras mais usadas em Marcos para descrever o
serviço de Jesus é “logo”. Aparece trinta e uma (31) vezes. “Logo Jesus foi
ensinar... logo Jesus expulsou o demônio... logo curou...”.
Os
quatro Evangelhos narram o milagre da multiplicação dos pães; mas Marcos é o
único a nos contar que antes disto Jesus havia se retirado com os discípulos
para descansar um pouco, e não puderam, porque tiveram que atender às
multidões. Marcos quer nos mostrar que Jesus era um homem de ação, que não
parava de servir.
Em
Lucas, Jesus é apresentado como o Filho do Homem. Se a genealogia de Jesus em
Mateus remonta até Abraão, mostrando assim que ele é o prometido de Deus por
meio de quem todas as famílias da terra seriam abençoadas, no Evangelho de
Lucas remonta até Adão, o primeiro homem. Jesus, como o Homem perfeito que é, mais do
que nos outros Evangelhos, é visto orando. Se em Mateus Jesus é chamado muitas
vezes “Filho de Davi”, em Lucas é mais vezes chamado “Filho do Homem”.
E no
quarto Evangelho, talvez aquele que nos seja o mais familiar, Jesus, acima de
tudo, nos é apresentado como o “Filho de Deus”. Por isto desde o começo, João
sobe, além das genealogias terrenas, para a eternidade, e desde os primeiros
versículos nos ensina que Jesus, antes de se encarnar, ou melhor, antes que
existisse o universo, já estava face a face com Deus.
Assim
que, embora todos sejam concordes entre si, cada um deles enfatiza um aspecto
diferente e complementar de Jesus: Jesus Cristo é o Filho de Davi, Filho de
Abraão, o Rei prometido, mas também é o Servo de Javé, o Salvador. Ele é o
Filho de Adão, o Filho do Homem, e também é o Filho Eterno de Deus.
Que
admirável provisão de nosso Pai celestial. Ele nos deu estes quatro Evangelhos,
a fim de alimentarmos nossas mentes, nossos corações, nossas almas, com todas
as coisas maravilhosas que nos são reveladas sobre Jesus.
Então consideremos...
3. O Evangelho de Mateus
O
Evangelho de Mateus inicia trazendo a genealogia de Jesus desde Abraão, o
patriarca da nação judaica. Embora para muitas pessoas nos dias de hoje esta
pareça uma apresentação desnecessária, não era assim que pensavam os judeus.
Mas
não é importante somente do ponto de vista da cultura judaica, ou das culturas
antigas de modo geral. É sumamente importante do ponto de vista teológico. Veja:
quando Mateus inicia seu Evangelho relatando quem foram os ancestrais do
Senhor, ele está começando a nos apresentar um ponto muito importante que irá desenvolver
em todo o seu livro: é que Jesus é o Cristo, aquela pessoa prometida por Deus
no Antigo Testamento, a quem os judeus tanto aguardavam.
No v.
1 ele diz: “Livro da genealogia de Jesus
Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”.
E
depois, dos vs. 2 a 17 ele segue desde Abraão até José, marido de Maria, o pai
adotivo de Jesus. Naturalmente que só o fato de ser descendente de Davi e de
Abraão não fazia de alguém o prometido de Deus, por isto a história segue até o
cap. 4 nos apresentando uma série de acontecimentos que nos dão a certeza
infalível. Mas por outro lado, ninguém poderia ser o Cristo se não fosse desta
linhagem genealógica.
Porque
é importante frisar isto? Eu gostaria de responder apenas dizendo que esta era
a aliança de Deus com o patriarca Abraão e depois com o rei Davi.
3.1 –
A aliança de Deus com Abraão
Gn
12:1-7
1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da
tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te
mostrarei; 2 de ti farei uma
grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma
bênção! 3 Abençoarei os que
te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas
as famílias da terra. 4
Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o SENHOR, e Ló foi com ele. Tinha Abrão
setenta e cinco anos quando saiu de Harã.
5 Levou Abrão consigo a Sarai, sua
mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as
pessoas que lhes acresceram em Harã. Partiram para a terra de Canaã; e lá
chegaram. 6 Atravessou Abrão
a terra até Siquém, até ao carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam
essa terra. 7 Apareceu o
SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou
Abrão um altar ao SENHOR, que lhe aparecera.
Este é o primeiro instante, no livro de Gênesis,
que Deus faz a promessa a Abraão (que ainda era chamado Abrão), no sentido de
que através de sua descendência, literalmente, através da semente dele, todas
as famílias do mundo seriam abençoadas. No decorrer do tempo, os termos e as
promessas de Deus a Abraão foram se desenvolvendo, e apontando cada vez mais
para aquele que viria para ser uma bênção para o mundo inteiro. Todas as
famílias da terra tem o sentido de “todos os clãs”, isto é, todos os povos.
É fundamentado nesta história que Paulo argumenta
que todos nós, que somos crentes em Jesus, fomos alcançados pelas bênçãos da
promessa.
Vejamos o que ele escreveu sobre a semente de
Abraão em Gálatas 3:13-16:
13 Cristo nos resgatou da maldição da
lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito:
Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), 14 para que a bênção de Abraão
chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o
Espírito prometido. 15
Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez
ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa. 16 Ora,
as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos
descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo.
Não podemos nos deter agora neste texto
extraordinário. Quero apenas frisar dois fatos: Primeiro: no v. 16, Paulo nos diz que a promessa foi feita a Abraão
e sua semente, e não suas sementes. Falava de um só, que era o Cristo. Segundo: nos vs. 13 e 14 Paulo nos diz
que por meio da fé em Cristo a bênção prometida a Abraão chegou até nós, os
gentios, isto é, os não judeus. Pois Cristo nos resgatou da maldição que a lei
de Deus impunha sobre nós pelo fato de sermos pecadores, isto é, Cristo nos
resgatou da morte eterna; e também nos concedeu o Espírito Santo prometido, de
tal modo que pelo seu poder e direção em nossa vida, podemos viver em comunhão
com Deus. Desta forma é que todas os povos da terra são abençoados.
Então, ao começar seu Evangelho falando de Jesus
como descendente de Abraão, Mateus está mostrando que ele é o cumprimento da
promessa. Da mesma forma, era necessário que o Cristo fosse, não somente
descendente de Abraão, mas também do rei Davi.
3.2 – A promessa do Senhor à casa de Davi
A primeira vez que lemos
sobre isto na Bíblia é em 2º Samuel 7, mas devido ao nosso curto espaço de
tempo, vamos ao ponto de forma mais breve, a um texto do profeta Isaías:
Is 9:6-7
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu;
o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; 7 para que se aumente o seu
governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o
estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre.
O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto
Este é um dos vários lugares do Antigo Testamento,
em que os profetas nos ensinam que o Salvador seria um descendente de Davi. Desta
forma, ao começar seu Evangelho com a genealogia de Jesus até Abraão, Mateus
está nos dizendo o seguinte: “A pessoa de
quem vou falar nesta história, o homem que eu conheci, que mudou a minha vida,
que mudou a vida de muita gente, o homem que nos ensinou sobre Deus, sobre o
seu reino e sua vontade, o homem que deseja alcançar pessoas do mudo inteiro
com a boa notícia do amor de Deus, é o homem a respeito de quem, desde a
Antiguidade, Javé, nosso Deus, prometeu a nosso pai Abraão, e ao nosso rei Davi,
o seu ungido”.
Jesus é o Cristo. Jesus é o nosso rei. Jesus é a
bênção prometida para todos os povos.
Concluindo...
Cada livro da Bíblia, nascido no coração de Deus,
tem a sua razão de ser. Cada livro da Bíblia é como uma joia, uma pedra
preciosa das abundantes riquezas do amor de Deus para conosco, revelado em Jesus
Cristo. Agora nós estamos diante do Evangelho de Mateus, e vamos passar um
tempo estudando seus ensinos inesgotáveis. Para quem estudar Mateus é
importante?
Primeiramente, para aqueles que estão seguindo a Cristo.
Pois como já dissemos, o Evangelho da nossa
salvação nos diz que somos salvos pela fé naquele que nos amou, e que em seu
amor deu sua vida por nós, ali na cruz. Por isto nós não somente cremos nele
para a nossa salvação. Nós o amamos, confiamos nele, e desejamos seguir seus
ensinamentos. Então, quanto mais conhecermos o que Jesus nos diz, melhor.
Em
segundo lugar, conhecer Mateus é
importante para aqueles que desejam falar de Cristo, o que quer dizer “todos os
que seguem a Cristo”. Então é uma sequencia natural. Quanto mais nos
alimentamos dos ensinos de Jesus, mais desejamos e teremos o que falar, pois
como ele mesmo diz, “a boca fala do que
está cheio o coração” [12].
Em
terceiro lugar, conhecer Mateus é
importante para aqueles que desejam a salvação em Cristo, para aqueles que
desejam seguir o Evangelho. Aliás, se você ainda não tem certeza da sua
salvação, você já está ouvindo o que Mateus ensina.
Lembre-se da promessa de Jesus. Ele diz que onde
quer que o Evangelho esteja sendo pregado, ele está conosco. Jesus está aqui. E
ele convida você a segui-lo. Ele quer ser seu Mestre, ser o seu Salvador, quer
ser o pastor da sua alma. E se diante do que a Bíblia diz, você reconhece ser
pecador, se você crê em Jesus, se você confia no amor que ele tem por você, se você
quer seguir a Jesus, o tempo de começar é hoje. Volte-se para Jesus, entregue
seus caminhos a ele. Entregue seu coração, sua vida, todo o seu ser. Peça que
ele perdoe seus pecados. Peça que ele seja seu Salvador. Siga a Jesus de agora
em diante. Se você começar a seguir agora, Jesus estará com você todos os dias,
para todo o sempre.
[1]
Mt 9:9
[2]
Veja John MacArthur, Doze Homens Comuns (São Paulo, Editora Cultura Cristã,
2004), pág. 152
[3]
Rm 10:15
[4]
Colchetes meus
[5]
Rm 2:16; 16:25; 2ª Tm 2:8
[6]
Cl 1:23
[7]
Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica
(São Paulo, Novo Século, 2002), XIV:6 e 7.
[8]
Ibidem, XV:1; cf. também Irineu (c. 125-140 a 200D.C.), in Walter A. Ewell e
Robert W. Yarbroug, Descobrindo o Novo
Testamento, (São Paulo, Ed. Cultura Cristã, 2002), pág. 82.
[9] Lc 1:1-4; At 1:1, 2
[10] Eusébio, op.cit., XIV:7
[11]
Veja, por exemplo A.W. Pink, Porque
Quatro Evangelhos (Monergismo.com), Henrietta
C. Mears, Estudo Panorâmico da Bíblia (E.U.A.,
Ed. Vida, 1997, 9ª impressão), págs.305-369
[12]
Mt 12:34
Pastor eu louvo a Deus por vc e sua familia, pelo dom que te deu de falar e escrever com muita clareza, atraves dessa amizade de mais de 15 anos, eu e minha familia tem sido abencoada e com
ResponderExcluircerteza temos crescido espiritualmente,
continue escrevendo pois estaremos desfrutando dessa maravilha
Amamos vc e sua familia
Simone, beto, Isa e Vitor
Olá queridos.
ResponderExcluirQue surpresa agradável tê-los por qui.
Espero que estejam bem, e que estas mensagens façam muito bem a vocês.
Também os amamos muito.
Um grande abraço a todos