Domingo,
31 de outubro de 2010
Pr.
Plínio Fernandes
Amados irmãos,
por favor, abram suas Bíblias em Efésios capítulo 1. Hoje, com base neste belo
hino da Bíblia sagrada, vamos focalizar nossa atenção no último, desta série de
cinco princípios que temos estudado, da Reforma Protestante.
A cada domingo
deste mês temos estudado um deles:
No primeiro
domingo estudamos a afirmação teológica que chamamos “Somente as Escrituras”. Destacamos
a nossa crença em que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, e que nela
encontramos toda a vontade de Deus revelada a nós, para que possamos conhecê-lo
na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, e nele encontrar a salvação de nossas
almas. Quando dizemos “Somente as Escrituras”, estamos afirmando a nossa fé na
Bíblia como Palavra de Deus, e que todas as nossas crenças devem ser baseadas
somente nela.
Depois, no
segundo domingo, estudamos a doutrina bíblica de que Jesus Cristo é o Filho de
Deus, criador de todo o universo, e que por amor a nós deixou sua glória no
céu, se fez homem e habitou entre nós, morreu pelos nossos pecados e depois
subiu novamente ao céu, onde está intercedendo por nós junto ao Pai. Jesus é um
salvador perfeito que realiza em nosso favor uma obra de perfeita salvação. Então,
segundo as Escrituras, ele, e somente ele é quem nos salva. Não precisamos
qualquer outro salvador além de Cristo: Cristo, e “Somente Cristo”.
E nos dois
domingos anteriores meditamos noutras duas grandes verdades reveladas na Bíblia:
as verdades de que somos salvos pela
graça de Deus por meio da fé, isto é, por meio da confiança no que ele nos diz. Não compramos nossa
salvação, nem com dinheiro, nem com boas obras, nem com cerimônias religiosas,
nem com a observação de leis; mas somos salvos somente porque Deus nos ama, e
em seu amor enviou Jesus para nos salvar. Tudo o que precisamos fazer para
desfrutar das alegrias da salvação é crer em Jesus, e até mesmo esta fé é um
dom de Deus a nós.
Todos estes
princípios, irmãos, nos levam a esta conclusão: Deus, e somente Deus, é o autor
da nossa salvação. Ele é quem recebe todo o crédito. Pois a nossa salvação não
é o resultado do trabalho de Deus mais o nosso trabalho, ou o trabalho de mais
ninguém. Daí emerge o último de nossos
princípios: se, para todas as coisas, na criação, no governo, na preservação de
todo o universo, se em tudo nós dependemos de Deus, e mais especialmente, na
nossa salvação, se tudo provém de Deus, então, por tudo, inclusive por causa da
nossa salvação, nós devemos dar glória a Deus, e somente a Deus.
Com base em
nosso texto de hoje, nós vamos considerar esta doutrina. Neste texto, como já
dissemos, a doutrina assume a forma de um hino de louvor a Deus por causa de todas
as bênçãos espirituais que ele nos concede em Jesus Cristo. Então leiamos, do
v. 3 ao 14.
3 Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo, 4 assim como nos escolheu, nele,
antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e
em amor 5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por
meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para
louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, 7
no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça, 8 que Deus derramou abundantemente sobre nós
em toda a sabedoria e prudência, 9 desvendando-nos o mistério da sua
vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, 10 de
fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas,
tanto as do céu como as da terra; 11 nele, digo, no qual fomos
também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas
as coisas conforme o conselho da sua vontade, 12 a fim de sermos
para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13
em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da
vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da
sua propriedade, em louvor da sua glória.
Neste texto o
apóstolo Paulo nos convida a bendizer ao nosso Deus, porque, por meio de Jesus
Cristo, que está assentado nos lugares celestiais, à direita de seu Pai, temos
sido abençoados com toda a sorte de bênçãos espirituais.
Ele menciona
especificamente cinco bênçãos neste texto
Primeira: a bênção da eleição – v. 4 – fomos
escolhidos por Deus desde antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
diante de Deus
Segunda: a bênção da predestinação – v. 5 –
fomos predestinados para sermos filhos de Deus por meio de Cristo
Terceira: a bênção da redenção – v. 7 – através
do sangue de Jesus fomos perdoados e libertados de nossos pecados
Quarta: a bênção da revelação – vs. 8-10 –
fomos iluminados por Deus para que entendêssemos que Jesus Cristo é o Senhor de
todo o universo
E quinta: a bênção do selo com o Espírito Santo –
vs. 13 e 14 – o Espírito Santo habitando em nós é a garantia de que pertencemos
a Deus e que no dia em que Cristo voltar para buscar sua igreja nós estaremos
para sempre com ele
Por todas estas
coisas, Paulo começa dizendo: “Bendito seja Deus”. A respeito da nossa
salvação, eu quero destacar três razões para nós darmos glória somente a Deus:
Esta
é a maravilha revelada em palavras como elegeu,
predestinou, em amor
vs.
4, 5
“Assim como nos
elegeu nele, isto é, em Cristo, antes da fundação do mundo... e em amor nos
predestinou para ele...”
O
que é eleição? De um modo simples, “escolha”
Por
exemplo: “Hoje, através da eleição, o povo brasileiro escolheu o seu novo
Presidente da República”
Mas
há uma diferença entre a escolha que o povo brasileiro fez e a que nosso Pai
fez
É
que o povo brasileiro escolheu seu presidente com base naquilo que acredita
haver de bom no seu homem eleito.
Ao
contrário disto, a Bíblia diz que Deus nos escolheu, antes da criação do mundo,
não com base naquilo que faríamos de bom, mas com base no amor de Deus.
Em amor nos
predestinou para ele
Em
amor Deus traçou nossos dias de tal maneira que viríamos a ele
Outra
maneira de sabermos que a nossa salvação é a vontade de Deus está no v. 11
“Predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as coisas segundo a sua vontade”
Deus
não faz nada contrariado, e ele amou você porque assim desejou.
Apenas
para recordar, pois temos já enfatizado estas verdades em nossos dois últimos
estudos.
2ª
Tm 1:9
Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não
segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que
nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos
2ª
Ts 2:13
Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por
vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para
a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade
Sl
139:16
Os teus olhos me viram a substância ainda informe,
e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e
determinado, quando nem um deles havia ainda
Então,
você, que é crente em Jesus preste atenção nisto: Deus ama você, Deus quis e
escolheu você, Deus predestinou você para ser filho dele, para ser santo diante
dele, a salvação eterna.
A
tua salvação é a vontade de Deus.
Consideremos
mais uma vez esta frase:
“Predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade...”
– v. 11
Primeiro,
o apóstolo Paulo já nos disse que, lá “na eternidade passada”, Deus nos amou e decidiu
que iria nos salvar de nossos pecados e da condenação eterna. Depois, ele disse
que Deus, com base no seu desejo, nos predestinou, isto é, determinou o nosso
destino. Agora, ele nos diz que quando Deus deseja algo, ele não fica apenas desejando:
ele faz tudo de acordo com o conselho, isto é, de acordo com a determinação de
sua vontade.
Veja:
Deus, de fato, é Deus. Isto significa
que ele domina sobre tudo e sobre todos. Que ele governa toda a sua criação. Eu
gostaria de recordar com você dois textos do Antigo Testamento, que nos falam
da grandeza e do poder do nosso Deus neste sentido:
Is
46:9-10
9 Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que
eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim;10
que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as
coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé,
farei toda a minha vontade...
O Senhor nos diz que ele
anuncia as coisas que irão acontecer, mas não apenas porque ele vê o futuro. Ele
anuncia as coisas que irão acontecer porque ele mesmo é quem decide o que irá
acontecer: o meu conselho (o que eu determinei) permanecerá em pé, farei toda a
minha vontade.
Jó 42:1-2
1 Então, respondeu Jó ao SENHOR:2 Bem sei
que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.
Desta maneira,
filho de Deus em Jesus, o Senhor Deus não apenas desejou a sua salvação, mas
também a realizou. Primeiro, ele enviou Jesus para salvar você. Depois, por
meio do Espírito Santo e da pregação do Evangelho, ele levou você a crer em
Jesus e ser salvo. E depois, como garantia que você seja seguro até o fim dos
tempos, ele selou você com o Espírito Santo.
vs. 13 e 14
13 em quem também vós, depois que
ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também
crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é
o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua
glória.
Ser selado
significa ser marcado com o sinal de que pertencemos ao Senhor. O Espírito
habitando em nós é a garantia de que somos dele. Agora note: o próprio fato de
crer é a garantia desta habitação do Espírito
1ª Co 12:3
Por
isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma:
Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo
Espírito Santo.
Naturalmente
que este dizer “Senhor Jesus” é aquele que é fruto de um reconhecimento no
coração de Jesus como Senhor, e não apenas como uma fórmula de religião
exterior. Pois este Espírito habitando em nós produz uma vida nova, na qual se
manifesta o poder para testemunhar, o direito de frutificar, o de ser guiado
por Deus, pois todos os que são guiados pelo Espírito são filhos de Deus. E
neste habitar do Espírito temos mais uma manifestação do agir de Deus em nossa
salvação
Algum
tempo atrás, uma pessoa me falou com ressentimento: “Vocês, crentes, acham que vão para o céu. Quem vocês pensam que são?
São melhores que os outros?”
E
respondi: “Sim, nós temos a certeza de
que vamos para o céu; mas não achamos que somos melhores que qualquer pessoa.
Se vamos para o céu é por causa da misericórdia de Deus; misericórdia que ele
oferece a todas as pessoas por meio de Jesus. Todo o que crer no Senhor Jesus
será salvo”.
No
cap. 2, ao descrever a graça de Deus em nos salvar, Paulo diz que então não
temos motivo algum para nos orgulharmos de ser salvos, como se fossemos para o
céu porque merecemos.
Ef
2:8-9
8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém
se glorie
Se existe alguma coisa que é
motivo de glória para nós não é o fato de que merecemos a nossa salvação. Não
fizemos nada para merecer, mas somente a graça de Deus nos alcançou. Ou como
diz a Palavra em outro lugar: “Longe de
mim esteja gloriar-me, a não ser na cruz”[1].
Por
outro lado, em três momentos deste hino Paulo nos diz que tudo quanto o Senhor
faz para a nossa salvação trás glória ao nome de Deus.
v.
6
Para o louvor da
glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no amado...
v.
12
A fim de sermos
para o louvor de sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo...
v.
14
... o qual é o
penhor da nossa herança, até o resgate de sua propriedade, em louvor da sua glória
De
que maneira a nossa salvação trás glória para o nome de Deus? Vamos mencionar
três:
Primeira, quando uma
pessoa é salva, há louvor a Deus no céu da parte dos seres celestiais; há
júbilo diante de Deus por um pecador que é salvo. A grandiosa sabedoria de Deus
é manifesta diante dos anjos.
Segunda, quando uma
pessoa é salva, ela adora a Deus de todo o seu ser, com gratidão, alegria, com
amor e temor, com um desejo santificado de viver uma vida nova, que adorne o
evangelho e enalteça o nome de Deus diante de todas as pessoas à sua volta. Ela
se prostra diante de Deus, e o reverencia, e cultua, e ama.
Terceira, ela proclama o
evangelho de Jesus, ela anuncia com alegria aquilo que Deus fez por nós,
enviando seu amado Filho para a nossa salvação.
O
evangelho torna conhecido o fato de que a salvação vem dele, é por meio dele, e
nos conduz a ale, de modo que toda a glória seja dada a ele. E então, o crente
diz: “Glória somente a ele”. Você,
que é salvo, tem todos estes sentimentos no coração, e nem pensa em atribuir a
salvação a si mesmo.
Estas
doutrinas que os irmãos receberam durante estes domingos com tanta
naturalidade, embora sejam as doutrinas do Cristianismo histórico, isto é,
aquelas que foram os fundamentos para a Cristandade de geração em geração,
infelizmente têm sido novamente esquecidas, e muitas vezes até mesmo negadas
por muitas igrejas nos dias de hoje.
Alguns
pregadores da mídia até mesmo dizem que algumas delas são diabólicas. Por isto,
alguns grupos de evangélicos têm reagido a isto, e trabalhado arduamente para
que a genuína mensagem protestante permaneça, apesar dos ventos contrários.
Em
1996, um grupo chamado “Aliança de Evangélicos Confessionais” se reuniu em
Cambridge, nos Estados Unidos, e elaborou um documento no qual foram reafirmados
os cinco somente da Reforma Protestante. Este documento foi chamado “A
declaração de Cambridge”. A respeito do nosso assunto de hoje eles escreveram,
nós concordamos de mente e coração,e queremos encerrar nosso estudo com as palavras
deles.
SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus[2]
Onde quer que, na igreja,
se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de
lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma
mesma razão:
Nossos interesses substituíram
os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da
centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa
perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do
evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a
fidelidade em ser bem-sucedido.
Como resultado, Deus,
Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso
irrelevante sobre nós.
Deus não existe para
satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos
interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa
adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades.
Deus é soberano no culto,
não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos
próprios impérios, popularidade ou êxito.
Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a
salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos
glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus,
sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos
apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com
entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou
se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se
tornem opções alternativas ao evangelho.
[1] Gl 6:14
[2] A Declaração de Cambridge sobre
os “Cinco solas da Reforma pode ser encontrada em http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/cinco_solas_reforma_erosao.htm