Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 15 de abril de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Meus
amados, vamos ler Mateus 5:1, 2
1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se
assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; 2 e ele passou a
ensiná-los...
Quando estudamos o capítulo 4 aqui de Mateus,
vimos que Jesus, depois de ter sido batizado e ungido com o Espírito Santo,
começou a pregar o Evangelho, a boa notícia da chegada do reino de Deus. Ele ia
de cidade em cidade, por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, curando os
enfermos, libertando os oprimidos pelo diabo.
Foi neste período que ele também começou a chamar
algumas pessoas para que o acompanhassem mais de perto, como discípulos seus,
como era o costume dos mestres da Bíblia naqueles dias. Mateus menciona quatro
deles: os irmãos Pedro e André, e os irmãos Tiago e João.
E de toda a Galiléia, e da Judéia, das cidades que
ficavam além do rio Jordão, e até mesmo da Síria, muitas pessoas iam a
Cafarnaum, a fim de ouvir os ensinamentos de Jesus.
Em nosso estudo anterior, falamos sobre a primeira
pregação de Jesus, quando ele dizia: “Arrependei-vos,
porque é chegado o reino dos céus”. Esta
palavra de arrependimento estava no coração da mensagem de Jesus, e também
foi a mensagem que ele incumbiu aos discípulos de pregar em todas as nações.
Vimos que arrependimento é “metanóia, mudança de
mente, transformação do entendimento, para algo melhor, superior”. Uma
transformação interior que toca o entendimento, a vontade, as decisões, de tal
maneira que afeta toda a existência, que muda a vida daqueles que se arrependem.
Pois “...Se
alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas”.[1]
Agora, no capítulo 5, Mateus nos diz que “vendo Jesus as multidões, subiu ao monte”.
E como se assentasse (a posição típica de um mestre), os discípulos perceberam
que ele tinha algo a dizer, e se aproximaram. Então ele passou a ensiná-los.
Estando entre as colinas de Cafarnaum, ao norte do
Mar da Galiléia, Jesus procurou um lugar plano e se assentou para ensinar os
discípulos. Quando as multidões perceberam, aproximaram-se também, mas o que os
evangelistas querem demonstrar é que aquilo que Jesus vai ensinar agora é mais
específico para os seus discípulos, aqueles que ouviram e atenderam ao chamado
do Senhor ao arrependimento.
Agora o que Jesus vai fazer é explicar o que
significa, na prática, ter uma mente transformada. Ainda que não tenha a forma
de um sermão, esses ensinos têm sido chamados assim desde quando, no século IV,
Santo Agostinho se referiu a eles como “O Sermão do Monte”.
Neles, Jesus ensina aos seus discípulos o que na
prática significa arrependimento, o que significa ter mente e vida
transformadas. É um conjunto de ensinamentos nos quais Jesus revela como deve
ser a vida daqueles que agora fazem parte do reino de Deus. Você já tem fé em
Jesus como seu Deus, seu Senhor e Salvador? Já está seguindo a Jesus? O que
Jesus ensina aqui é para você; o que nosso Senhor espera de mim e de você.
Em nosso estudo de hoje eu pretendo fazer um breve
resumo, uma síntese do conteúdo destes ensinamentos. Então, de acordo com
Jesus, o que significa ser uma pessoa transformada?
Neste sentido podemos apontar o capítulo 6,
versículo 8 como a síntese de tudo o que Jesus diz a respeito do crente.
Capítulo 6:8
Não vos assemelheis,
pois, a eles...
A eles quem? A Galiléia dos dias de Jesus, podia
ser contemplada como sendo composta de gentios e judeus, ou também em termos
religiosos, de “pagãos” e “judeus”, considerando que judeu não é apenas uma
designação étnica, mas também religiosa.
1.1 – Ora, várias vezes aqui Jesus se refere aos
gentios como pessoas que não conhecem a vontade de Deus.
No versículo anterior, ele estava falando que os
gentios, ao orar, não oram de fato, pois pensam na oração como uma mágica, um
conjunto de palavras que deve ser repetido até que desejo aconteça.
Capítulo 6:7
E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem
que pelo seu muito falar serão ouvidos
No capítulo 5 ele diz
que os gentios amam somente aqueles que os amam, mas que os seguidores de Jesus
não podem ser assim; mas que devem amar até mesmo aos seus inimigos:
Capítulo 5:47
E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
gentios também o mesmo?
E em 6:32 ele mais uma
vez se refere aos gentios.
Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste
sabe que necessitais de todas elas...
Está falando que os
gentios vivem em função de bens materiais, mas os filhos de Deus têm uma
postura diferente. Então vejam: seja na oração (relacionamento com Deus), seja
no amor (relacionamento com os homens), seja em relação aos bens materiais, os
cristãos devem ser diferentes dos gentios; não podem ser semelhantes a eles.
O segundo grupo de
habitantes da Galiléia que mencionamos eram os judeus. Os judeus, por sua vez,
faziam divisão entre si mesmos, tendo alguns como pecadores, como por exemplo
os publicanos, e outros como pessoas “de bem”, religiosas, como os escribas e
os fariseus.
1.2 – Jesus ensina que
os cristãos, além de não serem como os gentios, também devem ser diferentes das
pessoas que são conhecidas como notórios pecadores.
Capítulo 5:46
Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os
publicanos também o mesmo?
Um publicano, cobrador
de impostos, na mente de um judeu religioso, fazia parte daquela classe de
pessoas extremamente indignas, porque sua profissão era caracterizada pela
extorsão, e muitas vezes pelo suborno. Era uma maneira desonesta de ganhar a
vida, assim como a prostituição e outros pecados. Então, falando numa linguagem
que todos entenderiam, Jesus diz: “Vocês
também não devem ser semelhantes aos publicanos”. Nem semelhantes aos
gentios, nem semelhantes aos pecadores.
1.3 – Mas também não
deveriam ser semelhantes aos religiosos “de aparência”.
Capítulo 6:2
Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em
verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
Capítulo 6:5
E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em
pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em
verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
Capítulo 6:16
Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque
desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos
digo que eles já receberam a recompensa.
Existem outras razões
pelas quais o Senhor reprovava duramente a religião dos escribas e fariseus –
nós as estudaremos posteriormente – mas aqui fala sobre as motivações erradas
com as quais eles praticavam sua religião: eram pessoas que no coração tinham o
mesmo amor pelo mundo que os gentios e os publicanos. Pois faziam as coisas,
não por amor a Deus, mas por amor a si mesmos, buscando serem reconhecidos como
pessoas espirituais diante dos homens, e não diante de Deus. Eram pessoas
religiosas apenas de nome, apenas com o propósito de buscarem seus interesses
grosseiros. Em outras palavras, os cristãos deveriam ser pessoas “diferentes de
todas”.
Assim nós podemos notar
que desde o começo de seu ensinos, Jesus aponta como virtudes cristãs coisas
que para o mundo são defeitos; coisas como humildade, mansidão, convicção de
pecado, misericórdia. Para os muitos que não conhecem a Deus, estas qualidades
são fraquezas que um homem não deve ter. Por isto o mundo despreza uma pessoa
assim. Depois Jesus fala sobre várias posturas que o homem de Deus assume
diante da vida: nos relacionamentos com amigos e inimigos, com os da fé e os de
fora. A postura do crente em relação ao dinheiro e aos bens materiais. A vida
presente e a vida futura. Em tudo os crentes precisam ser diferentes.
Interessante, irmãos,
que neste sentido, o chamado de Deus para o seu povo não era uma doutrina nova.
De fato, Jesus deixou claro em sua mensagem que ele não veio mudar a lei, ou
anular, mas cumprir e ensinar a ser cumprida. Mas vejamos o que Deus já havia
revelado a Israel muito tempo antes:
Lv 18:1-4
1 Disse mais o SENHOR a Moisés:2 Fala aos filhos de Israel e
dize-lhes: Eu sou o SENHOR, vosso Deus.3 Não fareis segundo as obras
da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de
Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos. 4
Fareis segundo os meus juízos e os meus estatutos guardareis, para andardes
neles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Aqui temos um princípio
dado por Deus que se repete muitas vezes no Antigo Testamento. É que o povo de
Deus é um povo diferente dos demais povos do mundo. Seus princípios são
diferentes, seus valores, suas leis, sua postura. E há uma razão para isto; uma
razão que se repete, pois é mencionada no v. 2 e no v. 4: “Eu sou o Senhor vosso Deus”.
Veja também Lv 18:30
Portanto, guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando
nenhum dos costumes abomináveis que se praticaram antes de vós, e não vos
contaminareis com eles. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Mas outro fato que
vemos repetidamente no Antigo Testamento é que Israel não obedeceu ao Senhor.
Não guardou a sua aliança. Israel queria ser como as demais nações. Como diz o
Salmo, “... se mesclaram com as nações e
lhes aprenderam as obras...”.[2]
Por isto o Senhor lhes
disse que viria um tempo em que a aliança seria renovada, e a lei do Senhor
seria gravada no coração de seus filhos. Isto nos ajuda a ver melhor o que está
acontecendo aqui: assim como Moisés subiu ao monte e de lá desceu trazendo as
tábuas da aliança com as doze tribos de Israel, Jesus sobe ao monte, e diante
de seus doze apóstolos, o núcleo de sua igreja, ele trás as palavras da nova
aliança.
Por isto ele começa
tratando com o coração: para experimentar as bênçãos da promessa, precisamos
ser humildes de espírito, precisamos chorar por nossos pecados, precisamos ser
limpos de coração, precisamos ser mansos, ser misericordiosos ...
Isto nos conduz ao segundo ponto...
Capítulo 5:48
Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste
2.1 – Nós não vamos
gastar o nosso tempo aqui dizendo que é impossível sermos perfeitos como Deus.
Sabemos que Jesus não
está falando sobre perfeição à imagem de Deus, com isto significando uma vida
sem pecado. Se fosse assim, ele não ensinaria a orarmos pedindo perdão pelas
nossas dívidas. Sabemos também que ele não está falando sobre os poderes
inerentes a Deus, como onipresença, onisciência, onipotência. Mesmo os, digamos
assim, “poderes de realizar milagres, os dons” neste sentido, não são
concedidos a todos. Jesus não espera que todos os seus seguidores sejam
operadores de milagres. Por outro lado, no capítulo 7 ele ensina que realizar
milagres e profetizar em seu nome não é sinal inequívoco de discipulado, pois
um falso profeta pode fazer estas coisas.
2.2 – O que significa
então, ser perfeitos como é perfeito nosso Pai celeste?
No contexto
imediatamente anterior, Jesus está dizendo que o nosso Pai é caracterizado pelo
amor que tem por todos nós como seres humanos. Deus ama não somente os bons,
mas também os injustos, os ingratos e os maus.
Veja os vs. 44-46
44 Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem;45 para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste,
porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e
injustos. 46 Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa
tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?
Trate as pessoas do
mesmo modo como Deus as trata: ele as ama, ele cuida delas.
Lc 6:33-36
33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até
os pecadores fazem isso. 34 E, se emprestais àqueles de quem
esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos
pecadores, para receberem outro tanto. 35
Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma
paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é
benigno até para com os ingratos e maus. 36 Sede misericordiosos, como
também é misericordioso vosso Pai.
Outra maneira de
apresentar este assunto:
Jo 14:9
Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens
conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
“Quem me vê a mim”, disse Jesus, “vê o Pai”.
Por isso em Efésios
Paulo escreve: “Sede imitadores de Deus,
como filhos amados, e andai em amor como Cristo andou...”.[3]
E em 1ª Coríntios: Sede ... imitadores... de Cristo.[4]
O que é ter uma mente
transformada? É ter a maneira de Jesus pensar, falar, se relacionar, viver. Se
você olhar para as atitudes de Jesus, a maneira como ele falou, as coisas que
ele fez, verá que a vida dele na terra foi o retrato mais perfeito de tudo
quanto ele ensinou aqui. Jesus andou em verdade, santidade, justiça, amor,
graça, misericórdia. Ele andou assim porque o Pai é assim, porque ele é assim.
E quer que aprendamos com ele.
Ele sabe que muitas
vezes, em nossas tentativas, falharemos. Por isto, neste próprio “sermão”, nos
ensina a buscar perdão, a nos arrependermos, a nos convertermos. E quando isto
acontece, duas grandes bênçãos do reino dos céus são desfrutadas:
A primeira, é que experimentamos o perdão, o amor, a graça, a
misericórdia de Deus. Através da oração humilde e confiante o nosso
relacionamento com o Pai é renovado e aprofundado. E a segunda é que aprendemos a fazer com os outros o mesmo que ele faz
conosco. Pois aquele que conhece a alegria da salvação, tem o coração tão
transbordante e grato, que trata ao seu semelhante da mesma maneira como se
sente tratado por Deus.
Nos ensinamentos de
Jesus nós aprendemos o que significa mente e vida transformadas:
Significa não ter uma
mentalidade mundana, seja na religião ou fora dela. Pois os religiosos aos
quais Jesus reprova tinham mentalidade mundana. Um membro de igreja pode ser
tão mundano como uma pessoa que não é de igreja. Significa não amar o que é do
mundo, seja em princípios, valores, prazeres, confiança, bem estar. Significa
ser diferente, e não se envergonhar disto, significa amar as coisas do céu, os
valores do reino de Deus, significa buscar o caráter de Cristo.
Em nossas próximas
mensagens, iremos nos deter ainda nos ensinamentos do monte.
Não poderemos examinar
detalhadamente cada versículo – se você desejar, existem pelo menos dois
excelentes livros em nosso idioma: Estudos
no Sermão do Monte, de D. Martyn Lloyd Jones, e Contracultura Cristã, de John Stott. Eu os recomendo com
entusiasmo. Mas queremos compreender melhor qual é a vontade de Deus para nossa
vida, e obedecê-la em amor.
Por isto eu gostaria de
encorajá-lo a contemplar as palavras de Jesus com certas atitudes:
1. Lembrando-se de quem
proferiu estas palavras:
7:28, 29
28 Quando Jesus acabou de
proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; 29
porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.
Aquele que disse, ou
melhor, aquele que diz estas palavras agora, através do Evangelho, é Jesus. É
Deus, nosso Pastor, nosso Senhor e Salvador. Por isto ele tem uma autoridade
singular, inigualável. Ele não é como qualquer escriba, isto é, qualquer
comentarista da Bíblia que já existiu ou existirá. E aqui ele está revelando os
santos e doces desejos do seu coração, propósito que ele tem para a nossa vida.
2. Deixe-se maravilhar,
deixe-se encantar pela doutrina de Jesus.
Como escreveu certo
pregador, seguir a Jesus é o mais fascinante projeto de vida.[5] A
vida de Jesus é a mais bela, a mais pura, a mais amorosa. Jesus é o Filho de
Deus, e o propósito de Deus é que sejamos semelhantes a ele.
Então leia, medite,
estude as doutrinas de Jesus. Pense em como ela é superior a toda a filosofia
humana. Como ela é mais alta, celestial mesmo. Imagine como é bonita esta vida
descrita no “sermão do monte”. Pense no que significa, em sua vida, em seus
relacionamentos, seja com Deus, seja com os homens, o ser parecido com Jesus. O
que significa ser como Jesus com seus amigos, com seus irmãos, com sua família?
3. Deixe-se quebrantar
pela doutrina de Jesus. Busque quebrantamento.
Você verá, na medida em
que estudamos, o quanto ainda estamos longe de ser como Jesus deseja. Então
permita que as palavras de Jesus revelem o teu coração, que te humilhem, te
convençam, te façam chorar por seus pecados. Permita que as palavras de Jesus
te façam ter fome de santidade, fome de justiça, fome de bondade em seu
coração. Então você poderá ser perdoado, consolado, renovado em sua caminhada
com Deus.
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