Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

quarta-feira, 27 de março de 2013

Homens que conhecem a Deus não se dobram diante do mundo - Dn 3

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 02 de outubro de 2011
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos ler Daniel cap. 3
1 O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha sessenta côvados de altura e seis de largura; levantou-a no campo de Dura, na província da Babilônia. 2 Então, o rei Nabucodonosor mandou ajuntar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias, para que viessem à consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado. 3 Então, se ajuntaram os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os juízes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das províncias, para a consagração da imagem que o rei Nabucodonosor tinha levantado; e estavam em pé diante da imagem que Nabucodonosor tinha levantado.
4 Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: 5 no momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. 6 Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente. 7 Portanto, quando todos os povos ouviram o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério e de toda sorte de música, se prostraram os povos, nações e homens de todas as línguas e adoraram a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor tinha levantado.
 8 Ora, no mesmo instante, se chegaram alguns homens caldeus e acusaram os judeus; 9 disseram ao rei Nabucodonosor: Ó rei, vive eternamente! 10 Tu, ó rei, baixaste um decreto pelo qual todo homem que ouvisse o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música se prostraria e adoraria a imagem de ouro; 11 e qualquer que não se prostrasse e não adorasse seria lançado na fornalha de fogo ardente. 12 Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província da Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti, a teus deuses não servem, nem adoram a imagem de ouro que levantaste.
13 Então, Nabucodonosor, irado e furioso, mandou chamar Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. E trouxeram a estes homens perante o rei. 14 Falou Nabucodonosor e lhes disse: É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que levantei? 15 Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se não a adorardes, sereis, no mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?
16 Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. 17 Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. 18 Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste.
19 Então, Nabucodonosor se encheu de fúria e, transtornado o aspecto do seu rosto contra Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, ordenou que se acendesse a fornalha sete vezes mais do que se costumava. 20 Ordenou aos homens mais poderosos que estavam no seu exército que atassem a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego e os lançassem na fornalha de fogo ardente. 21 Então, estes homens foram atados com os seus mantos, suas túnicas e chapéus e suas outras roupas e foram lançados na fornalha sobremaneira acesa. 22 Porque a palavra do rei era urgente e a fornalha estava sobremaneira acesa, as chamas do fogo mataram os homens que lançaram de cima para dentro a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego.
23 Estes três homens, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa. 24 Então, o rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. 25 Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses. 26 Então, se chegou Nabucodonosor à porta da fornalha sobremaneira acesa, falou e disse: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde! Então, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram do meio do fogo. 27 Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores e conselheiros do rei e viram que o fogo não teve poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles.
28 Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus. 29 Portanto, faço um decreto pelo qual todo povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas em monturo; porque não há outro deus que possa livrar como este. 30 Então, o rei fez prosperar a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na província da Babilônia.
Em nosso estudo anterior[1], vimos que o rei Nabucodonosor havia sonhado com uma grande estátua, feita de metais. A cabeça desta estátua era de ouro puro, os braços e o peito eram de prata, o ventre e os quadris eram de bronze, e as pernas de ferro. Os pés eram de ferro entremeado de argila.
Enquanto Nabucodonosor olhava, surgiu uma rocha, não cortada por mãos humanas, que foi lançada contra os pés da estátua e a destruiu completamente. Todas as partes da estátua foram feitas em pó que o vento levou. E a rocha, ao contrário, foi crescendo, e crescendo cada vez mais, a ponto de se tornar uma imensa montanha que cobriu a terra inteira.
Daniel interpretou o sonho do rei: segundo Deus revelou, a cabeça de ouro representava Nabucodonosor e seu reino. Depois surgiria outro reino, inferior ao seu, representado pelo peito e braços de prata. Vimos que foi o reino medo-persa. Em seguida, representado pelo ventre e quadris de cobre, um terceiro reino, que foi o período grego. Um quarto reino viria em seguida, simbolizado pelas pernas e pés de ferro, entremeados de barro: seria o império romano. Por fim, disse Daniel, a rocha que homens não haviam preparado seria um reino suscitado por Deus, que destruiria todos os reinos anteriores, aliás, todos os reinos deste mundo, e ocuparia toda a terra. Seria um reino eterno.
E vimos que, tal como Daniel predisse, assim aconteceu: nos dias de césar Augusto, para que se cumprisse a Palavra do Senhor, nasceu o rei dos reis. O reino de Deus não veio segundo as maneiras humanas, com golpes militares, com força bélica. Mas veio humilde, através da vida obediente de Jesus, no poder do Espírito Santo, obediente até à sua morte na cruz pelos nossos pecados. É um reino que se instala no interior de todo a aquele que crê em Jesus, e que pela fé o recebe, em seu coração, como seu Senhor e Salvador; mas desde então, é uma reino que tem crescido, e que nunca será destruído. É um reino eterno.
Diante do que o profeta falou, Nabucodonosor se prostrou e disse que o Deus de Daniel era o maior de todos os deuses. Mas parece que ele não entendeu a mensagem em sua totalidade. O sonho dizia que Nabucodonosor era a cabeça de ouro, pois Deus lhe havia dado o reino. Mas também dizia que o seu reino seria suplantado por todos os outros. Dizia que Nabucodonosor não era eterno, mas que eterno somente o reino de Deus. Parece que Nabucodonosor só ficou com a imagem da cabeça de ouro na mente, e isto lhe “subiu à cabeça”.
Então, o cap. 3 nos conta que algum tempo depois, não sabemos quanto, ele resolveu fazer uma estátua de ouro. Por meio desta estátua, construída para ser adorada, ele reivindicaria autoridade total sobre todos os povos de seu vasto reino. Seria uma estátua imensa, com 27 metros de altura e 2,70 de largura, quase tão grande quanto o Colosso de Rodes.[2] Seria colocada no campo de Dura, uma planície entre os montes[3], distante cerca de 10 quilômetros da cidade.[4] Seu fulgor brilhando ao sol seria visto de longe.
Ele planejou como seria o dia da consagração da imagem: ali estariam pessoas de todos os lugares de seu grande reino: os sátrapas (esta palavra significa “protetores”), os prefeitos, os governadores, os magistrados, os juízes. Todas estas pessoas eram autoridades das várias nações conquistadas.[5] E além delas, é claro, o povo comum. Uma grande orquestra, composta de instrumentos musicais de várias nações também: instrumentos gregos, persas e judeus.[6] Assim, seria um ajuntamento representativo de todo o reino em volta daquela imagem colocada no vale.
Interessante que a Bíblia não diz ser ela a imagem de um deus – talvez representasse o próprio Nabucodonosor – mas foi erigida com o propósito de ser adorada. A insistência do rei era no sentido de que a imagem e os seus deuses babilônicos deviam ser adorados.
Muito bem: Nabucodonosor a fez construir, colocou-a no campo de Dura, reuniu as autoridades, a grande orquestra, e a multidão. Era uma solenidade oficial. De repente, fez-se silêncio, e um arauto do rei fez soar a sua potente voz, de modo que todos pudessem ouvi-lo claramente:
- “Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e homens de todas as línguas: no momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou” (vs. 4 e 5).
Note as palavras: todos devem se prostrar e adorar a imagem que o rei Nabucodonosor levantou. Esta frase, “a imagem que o rei Nabucodonosor levantou” é repetida mais sete vezes até o v. 18. O que toda esta iniciativa do rei deixa claro é que ele pretendia ser reconhecido como a autoridade suprema na vida de todas as línguas, povos e raças por ele conquistadas.
A estátua que ele fez devia ser adorada, e também os seus deuses. Obedecer ao rei nesta ordem implicava reconhecer a sua autoridade soberana. E se alguém não se curvasse e adorasse, isto é, e se alguém não reconhecesse a Nabucodonosor como rei supremo, e não adorasse aos seus deuses? No v. 6 o arauto responde – Qualquer que se não prostrar e não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente”.
Jeremias 29:22 nos revela que era conhecido o fato de que Nabucodonosor costumava assar no fogo as pessoas que se opunham a ele. Fora dos textos bíblicos, uma carta babilônica do séc. 19 A. C., e um documento palaciano assírio, do séc. 12 A. C., nos mostram que na Babilônia o lançar uma pessoa na fornalha era um meio de execução conhecido,[7] assim como mais tarde a cova dos leões entre os medo-persas, e a crucificação entre os romanos. Estas “fornalhas de fogo ardente” eram grandes fornos para a fabricação de tijolos. As altas temperaturas garantiam a qualidade dos tijolos, muitos dos quais perduram até hoje.
Elas tinham uma abertura do lado, por onde as pessoas entravam para colocar os tijolos e o carvão para queimar. E no alto havia também uma grande abertura para a circulação do ar, o que garantia uma temperatura elevada. Calcula-se que chegavam a 900 ºC. Pelo texto bíblico entendemos que, se alguém fosse condenado à fornalha ardente, seria lançado ali pela abertura de cima, e os outros ficavam observando pela abertura do lado.
Acontece que durante a cerimônia de consagração e adoração da imagem, três conhecidos nossos, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, os companheiros de Daniel, servos do Deus altíssimo, adoradores do Senhor, não se curvaram. No mesmo instante e eles foram delatados ao rei, como gente rebelde e desobediente.
Depois que o Nabucodonosor insistiu com eles para que adorassem a imagem, e não conseguindo demovê-los, ficou enfurecido. Tanto que o seu rosto se transformou. Ele ordenou que a fornalha fosse superaquecida, e que sem demora aqueles insubordinados fossem lançados ali. E se aqueles três eram desobedientes, os demais que estavam ali não eram.
Imediatamente amarraram os servos de Deus e os lançaram no forno. O fogo estava tão alto que queimou os que foram lançar os três lá dentro. Enquanto isto, Nabucodonosor e as demais autoridades ficaram a observar pela abertura lateral, para ver a morte deles. Mas qual não foi a surpresa! Eles não haviam lançado três homens, amarrados? No entanto agora eles viam quatro homens, livres, e passeando entre as chamas! E o quarto, disse o rei, não é um homem comum. É semelhante a um filho dos deuses. Isto porque Nabucodonosor não tinha discernimento; ele não poderia mesmo reconhecer o Filho de Deus.
Então ele chama os três: - “Sadraque, Mesaque, Abede-Nego, servos do Deus altíssimo, saiam daí, venham para fora”.
Os três saíram, e todos ficaram admirados: nenhuma queimadura, nenhum sinal de fogo, nem nas roupas deles, nem ao menos cheiro de fumaça. Nabucodonosor? Adorava fazer decretos, e fez mais um, ordenando que todos respeitassem o Deus deles três, e os fez prosperar.  
Eu gostaria de fazer uma aplicação devocional a um pequeno detalhe: eram quatro homens lá dentro. Saíram três. Jesus ficou lá, no fogo. Porque será? Acho que, entre outras coisas, ele quis dizer prá nós que toda a vez que um crente é lançado na fornalha, ele não estará sozinho, porque Jesus já está lá dentro esperando por ele. Pois através dos séculos, irmãos, e é assim até hoje, e será assim até que Jesus venha em seu reino, os filhos de Deus serão perseguidos, caluniados, maltratados, afligidos por amor ao nome de Jesus.
Até a volta do Filho de Deus os filhos do reino serão provados neste mundo. Mas ele disse: “Nunca te deixarei, jamais te abandonarei... Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o SENHOR, teu Deus, teu Salvador; e tu és meu...” [8]
O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo[9]. Se esforçará e fará proezas.[10]
Já temos visto que no cap.1, a proeza deles foi a santificação. No cap. 2, a proeza foi o uso dos seus dons. E agora no capítulo 3, os homens que conheciam a Deus não se curvaram diante dos ídolos.
1º - Eles não se curvaram diante da coação social
Digo “coação social” porque havia todo um contexto social e político que estavam vivendo naquela hora, e que pretendia forçá-los a fazer algo que sua consciência não permitia. Estes três homens judeus faziam parte das autoridades do reino de Nabucodonosor, e como tais, de um lado, tinham posição muito importante diante do povo, inclusive diante de todo o povo judeu que havia sido deportado para lá. Além de ser uma posição de destaque, era de grande responsabilidade. Era também o trabalho deles, o seu modo de ganhar a vida. Por outro lado, tinham também uma grande responsabilidade diante do rei, não somente como bons administradores, mas também em sujeição a ele. Se as próprias autoridades não obedecem ao rei, quem mais obedeceria?
Então, naquele dia, estão todos reunidos: o rei, os muitos governadores do império (a Bíblia não diz onde Daniel estava, mas, uma vez que ele era o responsável pela província da Babilônia, é de se crer que ele havia ficado na capital, a cuidar dos negócios do rei), e numerosa multidão. O momento é solene, pois trata-se de uma cerimônia que tem por fim reafirmar a unidade do reino através de um reconhecimento comum da autoridade do rei e seus deuses. O arauto do rei diz que todos, sem exceção, devem se prostrar e adorar a imagem do rei e os seus deuses. A estátua brilha reluzente ao sol. As multidões em volta. As autoridades aos lados, ou talvez atrás de Nabucodonosor. Então as trombetas, as cítaras, os instrumentos de percussão e todos os outros são tocados, dando ao momento uma solenidade ainda maior. E todos se curvam.
Agora vejam que, para aquelas autoridades todas, e também para a imensa multidão, adorar uma imagem a mais ou uma imagem a menos não fazia diferença alguma. Eles eram politeístas. Além disto, Nabucodonosor havia conquistado todas aquelas nações. Isto implicava que os deuses dele eram mais fortes. Inclusive para muitos judeus deportados, pois o grande pecado deles, que levou para o cativeiro foi justamente o pecado da adoração de ídolos. Então era uma coisa com a qual eles estavam acostumados. E naturalmente, esperava-se que todos se curvassem.
Mas para estes três judeus as coisas não eram assim. E a atitude deles foi tão radical que não dava nem para disfarçar. Não havia meio de não serem notados. Quando todos se curvam, ou se prostram e adoram, três permanecem em pé, eretos e firmes em sua posição.
Creio que, numa escala bem menor, a maioria de nós já esteve em situação parecida, seja na escola, seja entre amigos, seja no trabalho, ou até entre familiares. Eu me lembro de certa ocasião, eu estava no terceiro ano primário (fundamental), e uma freira católica foi fazer uma visita à classe em que eu estudava. Então, depois de dizer que estava ali para nos abençoar, ela convidou aos alunos para que a acompanhassem numa prece à virgem Maria. Nós tínhamos que começar fazendo o sinal da cruz.
Quando percebeu que eu não fiz, ela perguntou: - “Porque você não está fazendo também”? É claro que não havia maldade nenhuma nela. Aquela querida freira não quis me constranger. Por outro lado, eu também não queria ser mal educado com ela. Mas também não podia fazer uma coisa que, embora eu ainda não fosse convertido, entendia ser errado: rezar à virgem Maria. Mas o fato é que naquela época o número de protestantes era bem menor que hoje; eu era o único na minha classe; todos então ficaram sabendo que eu não estava fazendo o mesmo que a maioria. E quando você não faz o que a maioria faz, as pessoas estranham.
Aliás, amados, as pessoas do mundo estranham muitas coisas que o crente pensa e faz. Mas a atitude que os três amigos tiveram foi a mesma que mais tarde Pedro incentivou a que tenham todos os crentes.
1ª Pe 4:1-5
1 Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado,2 para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus.3 Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. 4 Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, 5 os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos.
Pedro está aqui nos exortando à santidade, e diz que diante desta opção pela santidade muitas pessoas do mundo vão achar estranho. Que no tempo em que os crentes viviam no pecado estavam fazendo a vontade dos que não conhecem a Deus: sensualidades, brincadeiras censuráveis, festas inconvenientes, idolatrias odiosas e coisas parecidas. E quando os crentes não fazem isto, diz o apóstolo, os que são do mundo acham estranho. E falam mal, difamam. Mas há uma coisa que eles não levam em consideração. Vejam o versículo 5 – Eles vão ter que prestar contas diante de Deus.
Alguns anos atrás eu conheci uma senhora que me falou de sua dificuldade para entregar a vida a Jesus. Ela me disse que, devido à carreira profissional de seu marido, ele precisava constantemente participar de certas festas nas quais não era conveniente um crente estar presente. E ele precisava que ela participasse daquelas festas. Então ela tinha a consciência de sua responsabilidade como esposa, mas tinha também consciência da responsabilidade como crente. Eu disse que iria orar por ela, mas que ela precisava decidir, porque diante de Deus o que estava em pauta era a alma dela, e não a mera carreira do marido. Não demorou muito tempo, e ela se converteu a Jesus. E o fato de ela se ausentar das festas mundanas não prejudicou em nada a vida do marido, ao contrário do que o diabo queria que ela pensasse.
Como veremos daqui a pouco, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sabiam que tinham um Deus a quem dar satisfações, e não era a pressão dos homens que iria demovê-los de sua posição. Por isto eles se armaram deste pensamento, conforme Pedro exorta no v. 1: - “Se for preciso sofrer, nós sofreremos, mas deixaremos o pecado.”
Isto nos leva um passo adiante na história.
2º - Eles também não se curvaram diante da pressão do rei
Assim que perceberam que os três servos de Deus não haviam se curvado, os servos do diabo foram delatá-los a Nabucodonosor. O rei ficou muito bravo. Bravo? A Bíblia diz que ele ficou irado e furioso. O seu rosto se transtornou. Já viu quando uma pessoa fica brava e o rosto muda? Isto é pouco diante de Nabucodonosor. Mandou chamá-los.
- “É verdade, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vocês não servem aos meus deuses, nem adoram a imagem de ouro que eu levantei?”
- “Agora, então, se preparem, e quando ouvirem o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrem-se e adorem a imagem que eu fiz; no entanto, se não fizerem o que eu estou mandando, na mesma hora serão lançados na fornalha.”
- “E quem é o deus que poderá livrar vocês das minhas mãos?"
Irmãos, vamos imaginar só um pouco, de modo um tanto fraco, a situação deles, como se nós estivéssemos ali. Diante de nós o rei, irado e furioso. As autoridades olhando prá nós. Todos nos encarando, com um olhar de reprovação. Bem perto, ao alcance dos nossos olhos, a fornalha. Dá até para sentir o calor do fogo. Dá até pra ouvir o crepitar das brasas de carvão. Basta o rei ordenar e seremos jogados nela. Você já queimou um dedo? Já queimou um braço? Imagine queimar o rosto, o peito, as pernas, o corpo inteiro. E os três sabiam que muito provavelmente seriam jogados ali dentro e morreriam queimados.
Por que digo isto? Será que eles duvidavam do poder de Deus? Vejamos a resposta deles (vs. 16-18):
vs. 16, 17
- “Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei.”
Eles não duvidavam do poder de Deus. Conheciam ao Senhor o suficiente para saber que ele tinha mais poder que Nabucodonosor e poderia livrá-los, não só da fornalha, mas do rei também. Conheciam a Palavra de Deus, as histórias sagradas. Por exemplo: sabiam de Senaqueribe, o poderoso rei da Assíria, que certa vez desafiara o rei Ezequias com palavras semelhantes: - “Que deus poderá vos livrar das minhas mãos?”, e sabiam que o Senhor feriu a Senaqueribe, livrando assim ao reino de Judá.[11]
Mas o que eles não sabiam era quais os propósitos de Deus. Pois, irmãos, o Senhor nosso Deus muitas vezes, podemos dizer na maioria das vezes, tem propósitos que não revela a nós.E da mesma forma eles conheciam histórias de servos fiéis que haviam perecido nas mãos de seus inimigos, mas que foram fiéis até à morte. Homens como os muitos profetas que foram mortos pela rainha Jezabel,[12] homens como Jeremias, que foram encarcerados, que passaram pela prova de escárnios e açoites, homens como Isaías, que segundo tradições judaicas e cristãs, foi serrado ao meio nos dias do perverso rei Manassés.[13] Sabiam de homens que, por sua fé, foram mortos ao fio de espada. Então não tinham uma teologia mal estudada, que dizia que, se tivessem fé suficiente, nada lhes aconteceria. Por isto as palavras do v. 18:
- “Se não (se o nosso Deus não quiser nos livrar), fique sabendo, ó rei, que ainda assim não serviremos aos teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste”.
Então, Nabucodonosor, de novo, se encheu de fúria e, transtornado o aspecto do seu rosto contra eles, ordenou que se esquentasse a fornalha sete vezes mais do que se costumava. Mandou aos homens mais fortes, que estavam no seu exército, (pois os três eram muito perigosos), que os amarrassem e os lançassem na fornalha. Os judeus foram então atados com os seus mantos palacianos, suas túnicas e chapéus e suas outras roupas e foram lançados na fornalha que estava mais quente que o normal. Já viram aquelas cenas em filmes quando mais carvão é jogado na fogueira para acelerar ainda mais a velocidade de um trem? O rei estava com muita pressa e a fornalha estava tão quente que as chamas do fogo mataram os homens que os lançaram de cima para dentro. E os três homens de Deus, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremodo acesa. Pois eram gente que preferia perder a própria vida, do que se submeter à vontade dos homens.
Faz pensar em Martinho Lutero, que um dia, diante de um tribunal humano que o ameaçou com a morte na fogueira, caso ele não se retratasse das coisas que escreveu, respondeu às autoridades que não era certo agir contra sua própria consciência, e assim se negou a retratar-se.
Faz pensar, por exemplo, nos muitos crentes coreanos que morreram durante a ocupação comunista, nos anos 50.
Sobre isto, eu vou ler para os irmãos o testemunho dado por Paul Yonggi Cho:
Aconteceu durante a guerra da Coréia quando 500 ministros foram capturados e imediatamente fuzila­dos e duas mil igrejas destruídas. Os comunistas eram cruéis para com os pastores. A família de certo ministro foi capturada em Inchon, Coréia, e os líderes comunistas submeteram-nos ao que chamavam de "Tribunal do Povo". Os acusadores diziam:
— Este homem é culpado de cometer este tipo de pecado e por esse pecado deve ser castigado.
A única resposta que recebiam era um coro unâni­me de vozes, dizendo:
— Sim, sim!
Desta vez cavaram um grande buraco, colocaram o pastor, sua esposa e vários de seus filhos dentro dele. Então o líder falou:
— Todos estes anos o senhor tem desviado as pessoas com a superstição da Bíblia. Se desejar agora retratar-se perante o povo aqui reunido e arrepender-se de sua má conduta, então o senhor, sua esposa e seus filhos serão libertados. Mas se persistir em suas superstições, toda a sua família vai ser enterrada viva. Tome sua decisão!
Todos os seus filhos começaram a chorar, dizendo:
— Papai, papai, pense em nós!
Imagine a situação desse homem. Se você estivesse em seu lugar, o que teria feito? Sou pai de três filhos e chegaria quase a preferir ser lançado ao fogo do inferno a ver meus filhos serem mortos.
Este pai estava profundamente abalado. Levantou a mão, dizendo:
— Sim, sim, fá-lo-ei. Vou denunciar... minha... Mas antes de poder terminar a frase a esposa tocou-lhe o lado dizendo:
— Diga NÃO!
E dirigindo-se aos filhos, essa valente mulher disse:
— Calem-se, filhos. Esta noite vamos jantar com o Rei dos reis e Senhor dos senhores!
Então começou a cantar o hino “No celeste porvir”. Seus filhos e marido a acompanharam no cântico enquanto os comunistas começaram a enterrá-los. Logo as crianças estavam enterradas, mas até que a terra lhes chegasse ao pescoço continuaram a cantar e o povo a olhar. Deus não os livrou, mas quase todos os que viram essa execução tornaram-se crentes. Muitos são membros de minha igreja.[14]
Isto também nos faz pensar em Estevão, que preferiu ser apedrejado até à morte, mas deu bom testemunho de sua fé em Jesus. Só que enquanto morria apedrejado, os olhos de sua alma também contemplavam o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Pois seja na fogueira, seja no céu, o Senhor Jesus está sempre a esperar por aqueles que lhe são fiéis.
Conclusão
A principal lição do cap. 3 de Daniel não é o grande milagre realizado, amados. Pois Deus poderia ou não ter realizado o milagre. A grande lição é que, com milagre ou sem milagre, não há Deus maior, não existe soberano maior sobre nossas vidas. Diante de Deus, o homem mais poderoso da terra não é nada, e aqueles que conhecem a Deus podem se manter firmes, pois o povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo. Se esforçará e fará proezas.
Eles não se dobraram diante da pressão social. Não ficaram preocupados com o que as pessoas em volta iriam pensar deles. Não ficaram preocupados com seus empregos. Não ficaram preocupados com seu “status”. Eles poderiam perder muito mais do que isto. Poderiam perder a vida de maneira cruel. Também não ficaram preocupados com a fúria do rei, pois permaneceram na fé, como quem vê aquele que é invisível.[15] Pois eles sabiam em quem haviam crido. Eles conheciam a Deus.
Aplicação
Será que valeu a pena eles crerem em Deus? E quanto aos outros, que foram açoitados, serrados ao meio, que passaram fome, que foram maltratados, enforcados, queimados, “homens dos quais o mundo não era digno”, será que valeu a pena perderem tudo para ganhar as suas almas?
Eu gostaria de fazer duas aplicações gerais, amados:
Primeira: pensemos nos nossos irmãos que sofrem no mundo inteiro, por causa do Evangelho.
Hb 13:3
Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.
Não me parece, dentro do contexto de Hebreus, que ele esteja nos admoestando a lembrar dos que estão presos por terem praticado o que é mau, mas que nos lembremos daqueles que foram acusados do crime de serem filhos de Deus.
Nos dias de hoje, a igreja é perseguida em muitos lugares do mundo. Não só os países muçulmanos e no que sobrou do comunismo, mas também nos países capitalistas. Mas nestes últimos, de maneira velada, disfarçada de leis democráticas. Através de difamação, calúnias, restrições, propaganda ideológica e coisas semelhantes. Lembremo-nos dos nossos irmãos. E sejamos gente de intercessão.
Segunda: comparado com os sofrimentos que nossos irmãos passam, o nosso sofrimento é pouco.
Mas muitas vezes é suficiente para que fraquejemos. Então sejamos fiéis no pouco. Porque somente podem ser fiéis no muito aqueles que são fiéis no pouco. Estes três homens não conseguiriam ter resistido no momento difícil, se não tivessem sido fiéis alguns anos antes, quando era apenas uma questão de alimentação. Se tivessem fraquejado naquilo, dificilmente teriam forças agora.
Então, mesmo que seja em pequenas coisas – uma cerveja com os amigos, uma festa de caráter duvidoso, uma piada maliciosa, uma insinuação, um negócio desonesto, ou uma ordem direta do patrão. Se nos depararmos com alguma coisa que ponha em perigo a nossa consciência ou o nosso testemunho diante do mundo, sejamos fiéis.
Se caso percebermos que nalguma coisa temos sido infiéis, confessemos àquele que é fiel e justo para nos perdoar e purificar, renovemos nossa atitude, esqueçamos as coisas que ficam para trás e prossigamos para o nosso alvo de conhecer ao Senhor cada vez melhor.
Honrar a Deus. Adorar somente a Deus. Servir somente a Deus. Vale a pena.




[1] Sermão 34 de 2011 - Dn 02 19-49 - O Sonho de Nabucodonosor
[2] O Colosso de Rodes media 70 côvados (31,50m) contra os 60 desta estátua. J. G. Baldwin, Daniel, Introdução e Comentário, Série Cultura Bíblica (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1983, pág. 106)
[3] Stuart Olyott, Ouse ser firme (São José dos Campos, Fiel, 1996), pág. 39.
[5] Baldwin, pág. 108.
[6] Olyott, pág. 40.
[7] K. A. Kitchen, in Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo, Vida Nova, 1988), vol. I, pág. 636.
[8] Hb 13:5; Is 43:1-3.
[9] Dn 11:32b, ARA.
[10] Ibid. ARC.
[11] Is 36, 37.
[12] 1º Rs 19:10.
[13] Justino, o mártir, e Orígenes, bem como o apócrifo A Ascensão de Isaías, cf. Donald Guthrie, Série Cultura Bíblica, Hebreus, Introdução e Comentário (São Paulo, Vida Nova e Mundo Cristão, 1984), pág. 230.
[14] Paul Yonggi Cho, A quarta dimensão (Miami, Ed. Vida, 1983), cap. 4. Não concordo com a doutrina esposada por P. Y. Choo. No entanto, considerando o relato de muitos crentes em situações semelhantes, e também que o referido escritor é pastor de uma grande igreja cristã, creio na veracidade de seu testemunho.

[15] Como Moisés; Hb 11:27.

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