Domingo,
31 de março de 2013
Pr.
Plínio Fernandes
Meus irmãos,
vamos ler Mateus 12:1-14
1 Por aquele tempo, em dia de
sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome,
entraram a colher espigas e a comer.2 Os fariseus, porém, vendo
isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer
em dia de sábado.3 Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez Davi
quando ele e seus companheiros tiveram fome?4 Como entrou na Casa de
Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito comer, nem
a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos sacerdotes?5
Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado
e ficam sem culpa? Pois eu vos digo:6 aqui está quem é maior que o
templo.7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero
e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.8 Porque o Filho
do Homem é senhor do sábado.
9 Tendo Jesus partido dali, entrou
na sinagoga deles.10 Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos
ressequida; e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Jesus: É lícito
curar no sábado?11 Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o
homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo
o esforço, tirando-a dali?12 Ora, quanto mais vale um homem que uma
ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem.13 Então, disse ao
homem: Estende a mão. Estendeu-a, e ela ficou sã como a outra.14
Retirando-se, porém, os fariseus, conspiravam contra ele, sobre como lhe
tirariam a vida.
Nos
últimos vs. do cap. 11, lemos o Senhor Jesus fazendo um convite maravilhoso a
todos os que se sentem cansados e sobrecarregados para que venham a ele, a fim
de que encontrem descanso para suas almas. Jesus, nosso manso e humilde Salvador,
promete a todos os que o seguem que encontrarão alívio para seus corações
aflitos. Promete que seu fardo é leve, que seu jugo é suave, que não impõe
sobre nós cargas difíceis de serem levadas.
E aqui,
nos versículos 1-14 deste capítulo temos dois acontecimentos que ilustram como Jesus
cumpre a sua palavra, como de fato o seu fardo é leve. Mateus nos conta que
eles estavam passando por uma plantação, num dia de sábado. Enquanto caminhavam,
os discípulos de Jesus tiveram fome, e como era o costume em Israel, eles
passaram a colher algumas espigas (provavelmente de trigo, ou de cevada) e se
alimentavam delas.
Os
fariseus estavam sempre prestando muita atenção ao que Jesus falava e fazia;
não com o propósito de aprender a ser como ele – isto eles não queriam; a
mansidão e humildade de Jesus não lhes despertava admiração – , mas de
encontrar algum motivo para acusá-lo. E quando viram o
que os discípulos estavam fazendo naquele dia, encontraram o que desejavam.
É que de
acordo como os fariseus, para que as pessoas guardassem o mandamento de
santificar o dia do descanso (que sempre é transliterado sábado), havia trinta
e nove coisas que eles não podiam fazer, e entre elas, pelo menos três que os
discípulos estavam violando: eles estavam colhendo,
esfregando as espigas com as mãos[1] e
assim, preparando a sua refeição. De
acordo com os fariseus, tudo isto significava trabalho, o que a lei do Antigo
Testamento proibia.
Trinta e
nove pequenos detalhes a respeito do sábado que, segundo os fariseus, deveriam
ser rigorosamente observados para não cair no desagrado de Deus. Conforme já
dissemos em outras ocasiões, para os fariseus havia
um total de 613 mandamentos que deveriam ser guardados, sendo 248 positivos e
365 negativos. Se você os guardasse seria uma pessoa “perfeita”.
Mas
no entendimento de Jesus, quando Deus ordenou o descanso do sétimo dia, não
estava pensando nestes acréscimos todos colocados pelos intérpretes da lei. Não
é à toa que em Mateus 23:4 Jesus censura os fariseus por colocarem fardos
pesados sobre as pessoas, que nem mesmo eles estavam dispostos a carregar. E
estes fardos farisaicos, Jesus não carregava, e também não permitiria que
fossem colocados sobre os seus discípulos. Assim, quando os fariseus se
aproximam para colocar culpas em seus discípulos, ele cumpre o que dissera, e
não permitiu que impusessem sobre eles coisas que Deus não desejava.
Como
foi que Jesus lidou com aqueles fariseus? O que nós devemos aprender de Jesus,
para que não sejamos escravizados a legalismos farisaicos? Há três princípios sobre
os quais devemos nos firmar, que eu desejo destacar.
1º. Precisamos nos firmar na autoridade de Jesus
No v. 8 Jesus nos diz algo de suprema importância: “Porque o Filho do Homem é senhor do
sábado.”
Embora esta expressão, “Filho do homem” seja usada
comumente para designar “um homem, um ser humano”, com base na profecia de
Daniel[2] ela
assume uma conotação escatológica, messiânica, nos lábios de Jesus. Por
exemplo, em Lucas 19:10, ele se apresenta a nós como o Filho do homem que veio
buscar e salvar o que estava perdido. Em João 6:27, ele é o Filho do homem que
nos dá o pão da vida eterna. Em Mateus 24 e 25, ele é o Filho do Homem que virá
com seus anjos, em majestade, entre as nuvens, em poder e glória, no dia do juízo.
Em Mateus 16:13-16, o Filho do Homem é o Messias, o rei eterno, o Cristo, o
Filho do Deus vivo.
Por isto, aqui ele nos diz que o Filho do Homem é o
Senhor do sábado, isto é, o que tem autoridade sobre o sábado. Ele é a pessoa
que determina e sabe como o sábado deve ser vivenciado. Ele é a pessoa que determina
e sabe como toda a lei dada por Deus deve ser guardada.
Isto quer dizer, meus irmãos, que além de Jesus, nenhuma
outra pessoa tem autoridade, ou direito de estabelecer para nós as normas pelas
quais devemos conduzir nossa vida particular, de serviço a Deus ou em qualquer
outro sentido.
Ora, assim como no farisaísmo, em todas as religiões
existem pessoas que, a partir dos seus próprios pensamentos, de suas devoções e
de suas experiências, chegam à conclusão de que certas práticas é que são
agradáveis a Deus, e que para se agradar a Deus estas práticas devem ser
seguidas à risca.
Por exemplo, leiamos Cl 2:16-23:
16 Ninguém, pois, vos julgue por
causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, 17
porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é
de Cristo. 18 Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando
humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo
algum, na sua mente carnal,19 e não retendo a cabeça, da qual todo o
corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o
crescimento que procede de Deus. 20 Se morrestes com
Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos
sujeitais a ordenanças: 21 não manuseies isto, não proves aquilo,
não toques aquiloutro, 22 segundo os preceitos e doutrinas dos
homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. 23 Tais
coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de
falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a
sensualidade.
Ao que parece, na igreja de Colossos havia algumas pessoas
que se julgavam mais espirituais que a maioria. Estas pessoas espirituais
tinham uma aparência de maior humildade. Tinham visões, contato com anjos até. Eram
pessoas tão santas que se abstinham de muitas coisas lícitas, e diziam aos
crentes: “não toqueis nisto, não toqueis
naquilo, não comais isto, não comais aquilo outro.”Coisas que aparentemente
tornam uma pessoa mais espiritual, religiosa, mais decente e ordeira, mas que
não ajudam em nada na luta contra o pecado. Coisas que tornam os praticantes
orgulhosos de si mesmos, maldizentes em relação aos irmãos, enfatuados,
inchados de orgulho.
Ora, pessoas deste tipo têm a tendência de falar com
autoridade, determinação, e costumam impressionar aos demais. Pessoas assim
gostam de determinar como você deve viver. Como os fariseus.
Mas Jesus não deixou que os fariseus se impusessem sobre
os seus discípulos. E Paulo não deixou que os espirituais de Colossos se
impusessem sobre os crentes em Jesus. Para que não nos tornemos servos do
farisaísmo, precisamos nos firmar na autoridade de Jesus.
2º. Precisamos nos firmar na autoridade das Escrituras
Veja, no
v. 2, os fariseus dizem a Jesus: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito
fazer em dia de sábado. Isto
porque de acordo com as tradições dos fariseus, havia aquelas trinta e nove
ações que não podiam ser realizadas no dia de repouso.
Não penso, meus irmãos, que o comportamento dos fariseus quanto
a isto fosse deliberadamente mau. Ao contrário, creio que suas intenções eram
boas. Eles tinham o propósito de evitar o pecado contra Deus. Creio que cada
grupo cristão precisa estudar as Escrituras, sistematizar suas doutrinas,
aplicá-las à sua vida contemporânea. Mas ao mesmo tempo, cada grupo religioso,
lutando contra a tendência humana de ir além das Escrituras, precisa fazer
estas coisas com muito temor, para não acrescentar qualquer coisa fora da
intenção de Deus.
Ora, os fariseus, como é a inclinação natural humana,
tinham uma dificuldade enorme com isto, e então, em sua busca de aplicar os
mandamentos das Escrituras à sua própria vida e do povo em geral, acabavam
acrescentando, ainda que sem esta intenção, leis à Palavra de Deus, e com isto,
na prática, davam às suas próprias conclusões uma autoridade maior do que às
Escrituras. Se alguém deixasse de fazer alguma coisa conforme compreendida
pelos fariseus, na maneira deles entender, estava transgredindo a própria lei
do Senhor. E assim, nos lugar da Palavra de Deus, colocaram suas próprias
tradições.
Mas não era assim que Jesus entendia. Podemos dizer que para
ele, o “Juiz Supremo pelo qual todas as coisas da religião deveriam ser
determinadas não poderia ser outro a não ser o Espírito Santo falando por meio
das Escrituras”.[3]
Então, quando os fariseus acusam os discípulos de fazer o
que não era lícito em dia de sábado, o Senhor não usa argumentos tirados da
lógica humana; simplesmente recorre às Escrituras.
Nos vs. 3-7 ele cita quatro passagens do Antigo
Testamento, perguntando: “Mas vocês não
leram?...”, como quem diz: “Vocês se
julgam tão sábios, tão doutores, tão conhecedores dos preceitos de Deus..., e
não conhecem nada...”
Primeiramente, nos vs. 3 e 4, ele cita um acontecimento da vida de Davi e seus
homens, no tempo em que ele, embora já ungido por Deus, ainda não era rei de
Israel, e vivia fugindo da perseguição de Saul.
Esta história está registrada em 1º Sm 21. Davi foi até o
sacerdote Aimeleque e lhe pediu alimento. E não havia outra coisa, a não ser os
pães sagrados, que de acordo com a lei somente os sacerdotes poderiam comer. Mas
diante daquela situação o sacerdote deu aqueles pães a Davi.
Jesus aprova o que aconteceu ali. De acordo com ele, o alimentar
uma pessoa faminta era mais importante do que ficar se preocupando com o
cerimonialismo religioso.
Em segundo lugar, no v. 5, o Senhor, numa referência a Números 28,[4] cita
a própria lei, e mostra que de acordo com ela, os sacerdotes que trabalhavam no
templo violavam o sábado, e nem por isto eram tidos como culpados.
E em terceiro lugar, no v. 7, pela segunda vez aqui em Mateus Jesus recorre ao
profeta Oséias, onde Deus diz que o que ele deseja de nós não são sacrifícios e
holocaustos, mas que sejamos gente misericordiosa.
“Se vocês conhecessem o
significado da Palavra de Deus, onde ela diz: ‘misericórdia quero, e não
holocaustos’, não teriam condenado a inocentes.”
Então nós temos aqui um mais princípio, uma doutrina de
Cristo, da qual não podemos esquecer, se desejamos viver livre de fardos
impostos pelos homens: sobre nós, o que deve ter autoridade suprema não são as
interpretações dos antigos escritores, não são as elucidações particulares de
alguma pessoa piedosa, não são as tradições das igrejas. Sobre nós, o que tem
autoridade suprema é o Espírito Santo falando por meio das Escrituras.
Mas vejamos o terceiro princípio
sobre o qual devemos nos firmar:...
3º. Nas Escrituras, devemos procurar entender qual
é o propósito de Deus
Jesus
conhecia as Escrituras como um ser humano que amava a lei do Senhor, que
meditava nela, mas também como o Filho de Deus, o autor das Escrituras. Aquele
que sabia de maneira perfeita o propósito de Deus ao nos dar a sua lei. Um
propósito que os fariseus bem poderiam conhecer se realmente buscassem a
vontade de Deus, pois a própria Escritura o revela.
Por
exemplo, leiamos Dt 10:12, 13
12 Agora, pois, ó Israel, que é que
o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os
seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e
de toda a tua alma,13 para guardares os mandamentos do SENHOR e os
seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?
Conforme
estes dois versículos, todos os mandamentos de Deus têm um duplo propósito: o
primeiro é que demos ao nosso Deus a glória que lhe é devida: que o amemos, que
o temamos, que andemos com ele; e o segundo, inseparável do primeiro, é o nosso
bem.
Nada
do que Deus ordena tem a finalidade de nos prejudicar. Nada nos é dado por “capricho”
de Deus, sem o grande propósito de nos abençoar.
Bem,
ainda que não haja uma referência direta a este texto nas palavras de Jesus no
episódio do sábado, o princípio aqui estabelecido aparece claramente.
Vamos
ler Mc 2:27, 28
27 E acrescentou: O sábado foi
estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado;28
de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado.
A intenção de Deus a nos dar o sábado é a mesma que teve
ao nos dar toda a sua lei: que tenhamos este dia para a glória do Senhor e que
nele sejamos abençoados; nós precisamos entender que Deus é honrado à medida em
que praticamos o que é bom, em que promovemos o bem estar do ser humano, criado
à imagem de Deus e para a glória de Deus.
Este é um assunto tão importante que vale a pena citar
também o apóstolo Paulo, demonstrando que ele seguia esta maneira de pensar. Para
entender melhor como ele o faz em 1ª Co 9:9, 10, nós vamos ler o contexto
imediato, desde o v. 6:
1ª Co 9:6-11
6 Ou somente eu e Barnabé não
temos direito de deixar de trabalhar?7 Quem jamais vai à guerra à
sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem
apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? 8
Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei?9 Porque
na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo.
Acaso, é com bois que Deus se preocupa?10 Ou é, seguramente, por nós
que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre
fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a
parte que lhe é devida.11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais,
será muito recolhermos de vós bens materiais?
Paulo está ensinando que os pregadores do evangelho têm o
direito de viver à custa do seu trabalho como pregadores. E para isto, entre
outras coisas, cita a lei de Moisés em Deuteronômio 25:4, onde Deus diz que
enquanto o boi estivesse pisando os grãos, a boca dele não deveria estar presa.
Pois assim o boi poderia comer enquanto trabalhava.
Então Paulo interpreta o texto dizendo que Deus não
estava pensando somente nos bois quando deu este mandamento, e usa isto como
uma ilustração de que aqueles que pregam o evangelho devem viver do evangelho. Isto
é, Paulo pensava em toda a lei do Senhor como dada para o bem dos homens.
Em consonância com isto, Mathew Henry, um famoso pastor puritano,
escreveu: “O descanso do dia de repouso
foi ordenado para o bem do homem. Não se deve entender nenhuma lei de tal forma
que contradiga a sua própria finalidade.” [5]
Claro, irmãos, que esta é uma verdade da graça de Deus
que pode ser distorcida pela mente carnal. O coração daquele que não teme ao
Senhor, pode usar isto como um pretexto para se desviar da lei do Senhor,
dizendo que está buscando um bem maior, quando na realidade quer apenas seguir
o engano do pecado. Até mesmo quando Paulo ensinava que a graça de Deus é maior
que os nossos pecados, algumas pessoas diziam que ele estava ensinado que
podemos praticar o mal para que recebamos o bem.[6]
Mas o homem que ama ao Senhor não pensará assim; ao
contrário, ele entenderá que quando o Senhor nos dá a sua lei é para o nosso
bem, e que na obediência ela está este bem e a glória do Senhor.
Os fariseus não conseguiam entender nada disto. Também
não conseguiam entender que, o deixar pessoas passando fome só porque é sábado
não honra a Deus. Não conseguiam entender que colocar os cerimonialismos acima
do amor e a misericórdia não honra a Deus. Então entendiam que cada lei dada
pelo Senhor deveria ser explicada minuciosamente, desdobrada em muitos
detalhes, e obedecida cegamente, mesmo que isto implicasse danos para as
pessoas, como por exemplo, ficar sem comer num dia de sábado, se a comida não
tivesse sido preparada antes.
Da mesma maneira eles pensavam em relação aos enfermos. Nos
vs. 9-14 lemos esta outra história contada por Mateus, mostrando como Jesus não
impunha fardos pesados sobre as pessoas.
Era sábado, e Jesus estava numa sinagoga. Ali havia um
homem com uma das mãos enferma. Ora, de acordo com os fariseus, curar uma
pessoa num dia de sábado era trabalho, e seria pecado, a não ser que a pessoa
estivesse morrendo. E este homem não estava morrendo. Logo, seria pecado Jesus
curá-lo. Se Jesus quisesse curá-lo, que o fizesse no dia seguinte.
Sabem, meus irmãos, há muitas coisas que são ilícitas aos
olhos de pessoas legalistas, impuras e duras de coração, mas que não são
ilícitas aos olhos de Deus.[7]
Jesus entende que o sábado foi dado para o nosso bem. E
que então, se você faz qualquer coisa que promova o bem, não está pecando, ao
contrário, está obedecendo a lei do Senhor, que é perfeita, e que, longe de ser
dada para o mal, restaura a alma. Até mesmo quando nos condena por nossos reais
pecados, ela restaura nossa alma, pois neste condenar, nos convence do pecado,
nos mostra o Cordeiro de Deus, nos conduz a Jesus e nos torna sábios para a
salvação. Mesmo que com isto escandalize aos fariseus. Mesmo que contrarie.
Mesmo que provoque críticas.
Sendo assim, mesmo deixando aqueles homens profundamente
irritados, Jesus curou a mão daquele enfermo. E aqui nós vemos quão destrutivo
é o legalista: a pretexto de fazer o que diz a lei, os fariseus saíram dali e
foram fazer uma reunião para decidir como matariam “aquele rebelde”. Na visão
legalista, curar um homem no sábado é pecado. Tramar contra a vida de alguém
que promove o reino de Deus, a cura e a salvação dos outros não é.
Não é assim que age o fariseu? A pretexto de colocar Deus
e sua Palavra em primeiro lugar, é capaz de, com a difamação, a acusação,
destruir a vida, vale dizer, o ministério, a carreira, a boa fama e outras
coisas, daqueles que não se preocupam com as minúcias cerimoniais religiosas.
São capazes de condenar inocentes só porque não se adaptam às normas religiosas
que eles “cismam” de dizer que têm base bíblica, quando na verdade são apenas
resultado de tradições humanas.
Conclusão
Assim, nós temos três princípios estabelecidos por Jesus,
nos quais devemos nos firmar, para que o nosso fardo, tanto individual, como eclesiasticamente,
seja leve:
O primeiro, é que a suprema autoridade da nossa
vida é Jesus.
Não são as opiniões dos homens, não são as tradições
denominacionais, e com isto eu quero dizer que inclusive os pastores, por mais
piedosos que sejam, não têm o direito de impor aquilo que Jesus não impõe, sob
a pena de se tornarem fariseus. É Jesus a nossa autoridade.
O segundo, é o Espírito de Deus falando nas
Escrituras.
O Espírito de Cristo. Pois toda a argumentação de Jesus
se baseia no fato de que para ele as Escrituras são a Palavra de Deus, e toda a
nossa maneira de entender a vontade de Deus deve ser baseada nelas.
O terceiro, é que devemos procurar nas Escrituras a
intenção de Deus ao nos dar seus mandamentos.
E cada Escritura foi dada para a honra de Deus e o nosso
bem. Não devemos impor nada ao que Deus nos deu, pois isto pode nos conduzir a
uma obediência cega, não a Deus, mas a homens; pode nos levar a carregar fardos
que Deus não deseja que levemos.
Aplicações
Vejamos algumas implicações destes princípios para nossa
vida:
1º. Eles devem nos alegrar e nos libertar.
E nesta alegria e liberdade, viver para a glória de Deus.
O propósito de Deus ao nos criar, e também ao nos redimir, ao nos dar sua
Palavra, é que nos alegremos nele e o glorifiquemos em toda a nossa maneira de
viver.
Existem vários tipos de fardo que podem nos impedir de
viver para a glória de Deus: o fardo dos nossos pecados, o fardo das
preocupações, o fardo da religiosidade carnal. Não conseguimos viver para a
glória de Deus debaixo de qualquer um deles, mas a verdade liberta. Jesus nos
liberta de todos os fardos, de todos os pesos, de todas as acusações de
Satanás.
Em 2ª Coríntios 3, Paulo explica que, quando nos
convertemos a Jesus, somos libertados de uma visão farisaica das Escrituras. E
por esta liberdade que ele nos dá, encontramos o caminho do crescimento
espiritual.
2ª Co 3:15-18
15 Mas até hoje, quando é lido
Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.16 Quando, porém,
algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.17 Ora, o
Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.18
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória
do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem,
como pelo Senhor, o Espírito.
2º. Esta alegria e liberdade deve nos aproximar
cada vez mais das Escrituras.
Uma vez que estamos convertidos ao Senhor, não temos
sobre nós um véu quando lemos a lei do Senhor. Ela não é para nós um
instrumento de escravidão, mas sim um meio para o qual somos conduzidos a
Cristo. A lei do Senhor recebe um maravilhoso adjetivo na carta de Tiago:
Vejamos Tg 1:25-27
25 Mas aquele que considera,
atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo
ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que
realizar. 26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a
língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. 27
A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os
órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado
do mundo.
Eu quis ler até o v. 27, pois mais uma vez temos o
princípio que rege toda a maneira pela qual devemos olhar para os mandamentos
de Deus: eles visam promover o nosso bem; e aqui Tiago aponta para o fato de
que a lei do Senhor nos leva a ser pessoas que não falam o que é mal, e que também
buscam o bem dos necessitados.
Agora, esta lei para a qual devemos atentar, ele chama no
v. 25 de “lei da liberdade”. Ela é a lei do Senhor, que é perfeita e restaura a
alma.
Eu preciso enfatizar: neste contexto, quando falamos lei
do Senhor, estamos nos referindo ao Antigo Testamento em sua totalidade, e não
daquela maneira seletiva, farisaica, legalista, que pensava nas Escrituras como
um conjunto de deveres que se cumpridos, tornavam o homem salvo. Mas a lei que
dá mandamentos, promessas graciosas, e que também nos apresenta Jesus, para que
sejamos salvos. Ela é a lei da liberdade, a lei da nossa salvação.
3º. Nesta alegria e liberdade que nos aproxima das
Escrituras, aprender o sentimento que há em Cristo Jesus, de tal maneira que, por um lado, não sejamos
escravizados ao farisaísmo que vem de fora, nem, por outro lado, ao farisaísmo
que vem de dentro.
Pois a inclinação natural do nosso coração, especialmente
de você for um instrutor da Palavra de Deus, é a de começar a criar pequenas
leis.
Tg 2:12, 13
12 Falai de tal maneira e de tal
maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.13
Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia.
A misericórdia triunfa sobre o juízo.
Existe alguma diferença de propósito da lei, entre aquilo
que Jesus e Tiago ensinam? O propósito de lei é a misericórdia, que triunfa
sobre o juízo. Se você é tão “justo” que não sabe exercer misericórdia, não
entendeu a justiça de Deus; pois ela é uma justiça inseparável da graça, do
amor, da misericórdia.
Se você é tão legalista que, para aceitar as pessoas,
elas têm que andar de acordo com os seus preceitos particulares, ou as
tradições da sua denominação, vá e aprenda o que significa “misericórdia quero,
e não sacrifícios.” Você ainda não aprendeu o que Deus quer.
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