Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Semelhantes ao Pai - Mt 5:38-48


Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 10 de junho de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Queridos irmãos, vamos ler Mateus 5:38-48
38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. 39 Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; 40 e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. 41 Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. 42 Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. 43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 44 Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; 45 para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. 46 Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? 47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? 48 Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.
A “sede de justiça”, no sentido comum desta expressão, é um sentimento universal entre o gênero humano, neste mundo cheio de pecado. Quando uma pessoa, por maldade, tira a vida de outra, nós sentimos que ela deve ser punida. Ou quando uma pessoa assalta, ou sequestra, ou violenta outra, o nosso desejo é que ela seja punida por causa disto. E não é um sentimento errado, meus irmãos. Tanto que na lei do Senhor, dada por intermédio de Moisés, havia instruções neste sentido para os juízes de Israel:
Êx 21:22-25
22 Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida, e forem causa de que aborte, porém sem maior dano, aquele que feriu será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como os juízes lhe determinarem. 23 Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, 24 olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, 25 queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe.
Estas instruções são repetidas em Levítico 24 e em Deuteronômio 19. À luz da Bíblia como um todo, podemos notar que havia várias razões para que estas disposições fossem estabelecidas na lei:
Entre elas, a santidade da vida: ninguém tem o direito de tirar a vida de outro ser humano impunemente, pois o homem foi criado à imagem de Deus. Então Deus estabeleceu que, se alguma pessoa assassinasse outra, deveria pagar com a sua própria vida. Se alguém ferisse a outra pessoa, deveria pagar por isto, recebendo, em si mesmo, algo equivalente ao mal que fizera.
Além disto, estas leis foram dadas também para a proteção da sociedade. Ainda que uma pessoa, individualmente, seja de valor inestimável, se esta pessoa for destrutiva, então a sociedade, através das autoridades instituídas, tem o direito de puni-la, para que ela não cause danos maiores.
E também estas leis dadas por Deus tinham o propósito de refrear os sentimentos de vingança, fazendo que a pessoa que cometesse males recebesse a exata retribuição, pois na antiguidade, como em muitos lugares até hoje, o sentimento de vingança faz com que não somente o culpado seja castigado além da medida, mas muitas vezes também seus familiares.
Então o Senhor Deus deu autoridade aos juízes em Israel, para que penalizassem os culpados de praticar o mal. Mas os escribas e fariseus, também nestes mandamentos haviam interpretado a vontade de Deus de maneira errada, e transferiram estas ordenanças, que diziam respeito às autoridades, para o terreno pessoal. E de um mandamento de Deus que visava produzir uma sociedade mais justa, fizeram uma desculpa para extravazar sua própria maldade.
Assim, se alguém lhes fizesse algum mal, ou eles assim pensassem, viam no mandamento uma sanção de Deus para se vingarem de seus desafetos, usando a Bíblia: “Olho por olho, dente por dente”.
Da mesma maneira haviam desvirtuado outro mandamento do Antigo Testamento, este sim, que dizia respeito aos relacionamentos pessoais. Pois Deus havia dito: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” .[1] Mas os escribas e fariseus acrescentaram: “e odiarás ao teu inimigo”, coisa que o Senhor nunca havia ordenado.
Assim, nestas duas últimas ilustrações de Jesus sobre a maneira como os escribas e fariseus, com suas interpretações e tradições humanas, distorciam a lei e os profetas, colocando-se longe da vontade do Senhor, ele mais uma vez nos mostra qual a intenção de Deus para nossa vida.
E nestas duas ilustrações o Senhor, por assim dizer, chega como que ao cume do Sermão do Monte. Pois se formos praticantes do que ele nos ensina aqui, estamos mais do que nunca vivendo no nível espiritual que ele deseja para nós. Na verdade, diz Jesus, se fizermos estas coisas, estaremos sendo, neste sentido, filhos do céu, semelhantes a Deus, perfeitos como é perfeito nosso Pai celestial. E as coisas ensinadas aqui, irmãos, assim como em todas as outras, ninguém as demonstrou em sua vida também, mais do que o próprio Senhor Jesus.
Para que sejamos semelhantes ao Deus que se fez carne, e assim ao Pai celestial, temos aqui duas orientações:
1. Devemos conscientemente nos desarmar de todo o espírito de ódio
Leiamos novamente o v. 38
Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente”.
Tomando estas palavras como dirigidas a si mesmos, os escribas e fariseus diziam e ensinavam que temos o direito de nos vingar daqueles que nos prejudicam. É preciso enfatizar que a lei e os profetas jamais ensinaram desta maneira[2]; ao contrário, ensinaram que este mandamento não se aplica aos relacionamentos pessoais.
Por exemplo Pv 24:28:
“Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra”.
Esta é uma dos muitos textos em que Deus nos diz que devemos tratar o nosso próximo do mesmo modo que desejamos ser tratados. Não desejamos que Deus nos trate segundo os nossos pecados, mas de acordo com a sua graça e misericórdia. Assim também devemos tratar ao nosso semelhante. Como disse Jesus em Mateus 7:12, “esta é a lei e os profetas”.
Mt 5:39-42
39 Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; 40 e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. 41 Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. 42 Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.
Jesus descreve quatro tipos de situação que têm todas uma coisa em comum – o fato de alguém estar usando de má fé para conosco:
Se alguém te ferir na face direita...
Isto não quer dizer somente violência física. Às vezes nós usamos a expressão “dar a cara prá bater”, com isto significando ter que suportar ofensas, incompreensão, agressões verbais e emocionais, sofrer humilhações. Por isto em Lamentações 3:30 o profeta Jeremias diz ao que está passando provações: “Dê a face ao que o fere. Farte-se de afronta”. Isto é, suporte as ofensas.
Ao que demandar contigo e tirar-te e túnica, deixa-lhe também a capa.
Os judeus pobres, em sua maioria, tinham apenas duas vestimentas: uma túnica e uma capa. A túnica, fazendo uma comparação, servia de calça e camisa, ou vestido, e a capa servia de cobertura, como as nossas blusas. Mas também de cama e cobertor muitas vezes. Túnica e capa são coisas básicas, sem luxo. Se alguém quiser tirar a tua camisa, dê-lhe também a blusa...
Os soldados romanos tinham o direito de a qualquer momento obrigar um judeu a transportar sua bagagem por uma milha (cerca de 1,5 Km). Imagine o sentimento de opressão, ultraje, humilhação que poderia sentir um judeu diante de uma situação assim.
Mas o Senhor diz:
Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas...
Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes...
A Bíblia deixa claro, irmãos, que estas palavras de Jesus não devem ser interpretadas de maneira literal, como se cada vez que vemos alguém sendo perverso não tenhamos que fazer nada. Por exemplo, quando em Antioquia, o apóstolo Paulo viu o apóstolo Pedro agindo com dissimulação, ele o repreendeu (a palavra é resistiu – a mesma usada por Jesus aqui, quando ele diz: não resistais); resistiu a Pedro face a face, para corrigi-lo de sua atitude errada; atitude que estava distorcendo o Evangelho e prejudicando a igreja (Gl 2:11).
Quando alguém prejudica a igreja, a nossa família, a sociedade ou a qualquer pessoa, precisamos, dentro da nossa esfera de ação, resistir-lhe. Se virmos alguém tentar cometer um crime e estiver ao nosso alcance, devemos resistir-lhe, seja chamando a polícia, seja impedindo pessoalmente.
Por exemplo, se uma criança é abusada sexualmente, então ela deve contar a alguma autoridade que possa tomar providência. Se nós ficamos sabendo devemos fazer isto. Da mesma forma a mulher que sofre violência do marido. Reagir em situações assim não é pecado: é dever. Omissão é que seria pecado. [3] Ou o empregado que sofre abusos da parte do patrão, e com isto não somente ele, mas toda a sua família é prejudicada. Se ele se queixar perante o governo ou sindicato isto não é pecado: é dever, sem que com isto esteja se vingando.
As leis civis são dadas para a proteção da sociedade. Em Romanos 13 o Espírito Santo nos diz que as autoridades do mundo são ministros de Deus na área secular. Da mesma maneira, dar a quem nos pede não significa que somos obrigados a dar dinheiro para alguém se embriagar ou fazer qualquer outra coisa má.  Tampouco significa tirar de nossa família para dar a quem pede só porque sabe que nosso coração é aberto. Não significa fazer tudo o que as outras pessoas querem.
Mas o que Jesus quer dizer com estas ilustrações é isto: não seja uma pessoa vingativa, não seja malicioso, não tenha o coração fechado. Seja humilde, mesmo quando estiver sendo maltratado. Não revide. Seja um homem de paz. Não seja mesquinho, não seja apegado às coisas deste mundo; tenha um coração generoso. Não seja apegado nem a si mesmo.
Meus irmãos, com toda a certeza ninguém demonstrou isto de forma mais evidente em sua vida do que o próprio Senhor Jesus. E Pedro nos chama para que imitemos o exemplo do Senhor.
1ª Pe 2:20-23
20 Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. 21 Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, 22 o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; 23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente.
Veja o que Pedro diz: se você faz o que é bom, anda nos caminhos do Senhor, mas está sendo afligido e suporta com paciência, isto agrada a Deus. Agrada a Deus porque você está seguindo o exemplo de Jesus, seguindo os passos de Jesus. Quando Jesus era ofendido, não revidava com ofensa. Não insultava qualquer pessoa, não maltratava quem quer que fosse, não humilhava qualquer pessoa.
Você já foi maltratado por alguém, seja por palavras, seja fisicamente? Já foi difamado por alguém? Como é que você reage? Quando alguém te ofende, no trânsito, por exemplo, ou no trabalho, ou na escola, ou mesmo em casa, qual é a vontade que dá? Não é de revidar? Mas como fazia Jesus? Como Jesus fez quando cuspiram em seu rosto? Como reagiu quando zombaram dele? Que maldições ele lançou sobre os que o puseram na cruz?
Em todo o tempo ele foi humilde, paciente e sofredor. Não com pena de si mesmo “por sofrer tanto”. Jesus nunca teve pena de si mesmo. Nunca nutriu autocomiseração. Nunca disse: “ninguém me compreende”. Ao contrário, as vezes em que Jesus chorou foi por compaixão dos pecadores.  Por isto, amados, quando alguém nos maltrata, usa de má fé, não é de nós mesmos que devemos ter compaixão, mas entender que esta pessoa precisa de nossa oração.
2. Devemos conscientemente nos revestir de um espírito de amor
Mt 5:43-48
43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. 44 Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; 45 para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. 46 Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? 47 E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? 48 Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.
Enfatizemos: da mesma maneira como o Antigo Testamento nunca ensinou a vingança, jamais ordenou ou ensinou o ódio pelo inimigo.
Êx 23:4, 5
4 Se encontrares desgarrado o boi do teu inimigo ou o seu jumento, lho reconduzirás. 5 Se vires prostrado debaixo da sua carga o jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo.
Poderíamos parafrasear: “Se você encontrar alguma coisa que o teu inimigo perdeu, leve-a até ele. Se você estiver passando e aquele que te odeia estiver com o carro sem gasolina, dê uma carona até o posto, se estiver com o pneu furado, ajude a consertar...”
Pv 25:21, 22
21 Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber, 22 porque assim amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça, e o SENHOR te retribuirá.
O escritor de Provérbios nos faz duas promessas no v. 22:
Primeira: fazendo assim, promovendo o bem do nosso inimigo, estamos amontoando brasas vivas sobre a cabeça dele, quer dizer, a consciência dele não estará tranquila. Quem sabe através disto não alcançaremos seu coração?
Um pastor que eu conheci me contou que em sua igreja havia um irmão que simplesmente o maltratava, sem que houvesse uma razão aparente. Então ele orou: “Senhor, me ajuda a demonstrar amor por este irmão”. Alguns dias depois a esposa deste irmão ficou enferma, e hospitalizada. O pastor foi visitá-la, e quando chegou ao hospital, a irmã havia recebido alta, e poderia ir para casa. O pastor se dispôs a levá-la, e ao saírem do hospital, quando estavam entrando no carro, o marido dela chegou. Vendo o cuidado do pastor com sua esposa, aquele irmão passou a ter grande afeição e amizade com o pastor.
Segunda promessa: mesmo que ele, o nosso inimigo, nunca mude, o Senhor nos recompensará. Pois estamos vivendo de modo agradável a Deus. E o apóstolo Paulo acrescenta mais uma promessa: ele diz que quando fazemos isto, aí sim é que estamos vencendo o verdadeiro mal.
Vejamos o comentário que ele faz sobre este texto:
Rm 12:17-21
17 Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; 18 se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; 19 não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. 20 Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.
Note: no v. 21 ele diz que esta é a maneira de vencermos o mal. Você vence o mal porque não faz a vontade do diabo, e sim a vontade do Espírito Santo. Você exibe o fruto do Espírito em sua vida. Você vence o mal porque o teu coração tem paz. Vence o mal porque cresce espiritualmente. Vence o mal porque se torna semelhante a Jesus.
Então Jesus nos ensina: “Não odeie. Ame os seus inimigos e ore por eles”.
Lc 6:27, 28
27 Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; 28 bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.
Veja – se você, como Jesus na cruz, orar para que o Senhor perdoe os que lhe fazem mal, duas consequências práticas acontecerão:
Primeira: você será incapaz de se vingar; ao contrário, sempre que você tiver oportunidade, você fará o bem para esta pessoa. Dará de beber ao que tem sede; dará de comer ao que tem fome. Falará bem dele. Entregará o que ele tiver perdido. Ajudará em suas dificuldades.
Segunda: leiamos Lc 6:32-36
32 Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. 33 Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. 34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. 35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.36 Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.
Os pecadores, diz Jesus, vivem fazendo o bem para aqueles que lhes fazem o bem. Mas não faça assim, diz Jesus. Seja diferente do mundo, semelhante ao Pai celestial, e terá uma recompensa no céu. Jesus viveu assim. Ele nunca odiou, nunca revidou, nunca respondeu com ultraje. Ele sempre viveu em amor e ministrou amor, até à morte.
Aliás, ele nunca demonstrou tanto amor como quando estava na cruz, sendo humilhado, maltratado, sofrendo em si mesmo todo o ódio do mundo e do inferno. E porque ele fez assim? Será que Jesus era um covarde? Por certo que não! Será que ele não poderia chamar doze legiões de anjos e no mesmo instante os seus inimigos serem derrotados? Não poderia fazer chover fogo do céu? Poderia.
Mas era preciso mais poder para resistir a estas tentações do que para destruir os que o ofendiam e maltratavam. Assim como é preciso mais poder interior, mais domínio próprio e paz interior para não reagir do que para responder à altura (neste caso, descendo para ficar igual ao que nos ofende).
Onde foi que Jesus encontrou forças para isto? Em Isaías nós aprendemos qual era o segredo do Senhor, numa passagem profética muito bonita:
Is 50:4-10
4 O SENHOR Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos.5 O SENHOR Deus me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde, não me retraí. 6 Ofereci as costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam.7 Porque o SENHOR Deus me ajudou, pelo que não me senti envergonhado; por isso, fiz o meu rosto como um seixo e sei que não serei envergonhado.8 Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? Apresentemo-nos juntamente; quem é o meu adversário? Chegue-se para mim.9 Eis que o SENHOR Deus me ajuda; quem há que me condene? Eis que todos eles, como um vestido, serão consumidos; a traça os comerá.10 Quem há entre vós que tema ao SENHOR e que ouça a voz do seu Servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus.
Se você observar o título que é dado a este capítulo em nossas Bíblias, lerá que ele está falando de Jesus, o Servo de Javé. O Servo do Senhor, ultrajado, mas fiel. É o Senhor Jesus quem está falando através do profeta.
“Eu suportei a aflição porque o Senhor meu Deus está comigo e me ajuda”.
“A cada manhã eu tenho comunhão com Deus; a cada manhã ele me ensina, ele me aconselha, e assim eu posso ajudar os que sofrem”.
“E não somente isto: porque eu ouço ao Senhor, porque a cada manhã ele está comigo, porque ele me ajuda, eu posso suportar o sofrimento, eu não me sinto envergonhado”.
E termina convidando a que ouçamos a sua voz, que confiemos nele mesmo quando em trevas.
O segredo de Jesus, para suportar as afrontas com paciência, sem vingança, para andar a segunda e terceira milhas, para amar sempre, até o fim, era a sua comunhão com Deus, pela meditação nas Escrituras e pela oração.
Conclusão e aplicação
Da mesma forma somos chamados a viver como Jesus: em comunhão diária com o Pai.
Nós somos pecadores perdoados, redimidos que vão morar no céu. Mas ainda estamos na terra; numa terra de pecado, onde muitas vezes temos que suportar, além das nossas próprias fraquezas, as fraquezas e iniquidades daqueles que nos cercam.
Muitas vezes, como fizeram até com o Senhor Jesus, as pessoas pecam contra nós. Muitas vezes nos odeiam e nos consideram seus inimigos. Muitas vezes falam o que não deveriam, fazem o que não deveriam, torcem o que dizemos, abusam do que é direito, se comportam de modo injusto.
E isto pode dar ocasião a que o nosso senso de justiça, mesclado ao pecado que ainda reside em nós, dê lugar ao sentimento de ódio e vingança. Mas não fomos destinados para isto. Fomos destinados a ser parecidos com Jesus, e assim imitadores do Pai celestial, que derrama sua bondade sobre todos, que dá o sol e a chuva para os justos e os injustos.
Somente Deus pode retribuir a injustiça de maneira justa. Então deixemos em suas mãos toda a vingança. Não nos vinguemos a nós mesmos. A maneira de sermos justos é não nos vingando de ninguém, por nada, mas amando. Se vivermos assim, estamos honrando o nome daquele a quem chamamos de Pai.
Medite nestas coisas. Nós vivemos de acordo com aquilo que pensamos.


[1] Lv 19:18
[2] Contra a interpretação de muitos, por exemplo, A Bíblia Viva, que entende que Jesus está se contrapondo à lei de Moisés, e não ao ensino dos escribas e fariseus
[3] Pv 24:11, 12

2 comentários:

  1. muito bons todos os seus posts. Jesus o abençoe!! Muito grata por poder contar com seus ensinamentos

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  2. Que maravilha, ter o privilégio de aprender mais com esses ensinamentos...👍

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