Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Adorando a Deus em secreto (3): o conteúdo da oração – Salmo 106

Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 19 de fevereiro de 2012
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos ler o Salmo 106
1 Aleluia! Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre. 2 Quem saberá contar os poderosos feitos do SENHOR ou anunciar os seus louvores? 3 Bem-aventurados os que guardam a retidão e o que pratica a justiça em todo tempo. 4 Lembra-te de mim, SENHOR, segundo a tua bondade para com o teu povo; visita-me com a tua salvação, 5 para que eu veja a prosperidade dos teus escolhidos, e me alegre com a alegria do teu povo, e me regozije com a tua herança. 6 Pecamos, como nossos pais; cometemos iniquidade, procedemos mal. 7 Nossos pais, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho. 8 Mas ele os salvou por amor do seu nome, para lhes fazer notório o seu poder. 9 Repreendeu o mar Vermelho, e ele secou; e fê-los passar pelos abismos, como por um deserto. 10 Salvou-os das mãos de quem os odiava e os remiu do poder do inimigo. 11 As águas cobriram os seus opressores; nem um deles escapou. 12 Então, creram nas suas palavras e lhe cantaram louvor. 13 Cedo, porém, se esqueceram das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios; 14 entregaram-se à cobiça, no deserto; e tentaram a Deus na solidão. 15 Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma. 16 Tiveram inveja de Moisés, no acampamento, e de Arão, o santo do SENHOR. 17 Abriu-se a terra, e tragou a Datã, e cobriu o grupo de Abirão. 18 Ateou-se um fogo contra o seu grupo; a chama abrasou os ímpios. 19 Em Horebe, fizeram um bezerro e adoraram o ídolo fundido. 20 E, assim, trocaram a glória de Deus pelo simulacro de um novilho que come erva. 21 Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas, 22 maravilhas na terra de Cam, tremendos feitos no mar Vermelho 23 Tê-los-ia exterminado, como dissera, se Moisés, seu escolhido, não se houvesse interposto, impedindo que sua cólera os destruísse. 24 Também desprezaram a terra aprazível e não deram crédito à sua palavra; 25 antes, murmuraram em suas tendas e não acudiram à voz do SENHOR. 26 Então, lhes jurou, de mão erguida, que os havia de arrasar no deserto; 27 e também derribaria entre as nações a sua descendência e os dispersaria por outras terras. 28 Também se juntaram a Baal-Peor e comeram os sacrifícios dos ídolos mortos. 29 Assim, com tais ações, o provocaram à ira; e grassou peste entre eles. 30 Então, se levantou Finéias e executou o juízo; e cessou a peste. 31 Isso lhe foi imputado por justiça, de geração em geração, para sempre. 32 Depois, o indignaram nas águas de Meribá, e, por causa deles, sucedeu mal a Moisés, 33 pois foram rebeldes ao Espírito de Deus, e Moisés falou irrefletidamente. 34 Não exterminaram os povos, como o SENHOR lhes ordenara. 35 Antes, se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras; 36 deram culto a seus ídolos, os quais se lhes converteram em laço; 37 pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios 38 e derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e filhas, que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi contaminada com sangue. 39 Assim se contaminaram com as suas obras e se prostituíram nos seus feitos.40 Acendeu-se, por isso, a ira do SENHOR contra o seu povo, e ele abominou a sua própria herança 41 e os entregou ao poder das nações; sobre eles dominaram os que os odiavam. 42 Também os oprimiram os seus inimigos, sob cujo poder foram subjugados. 43 Muitas vezes os libertou, mas eles o provocaram com os seus conselhos e, por sua iniquidade, foram abatidos.44 Olhou-os, contudo, quando estavam angustiados e lhes ouviu o clamor; 45 lembrou-se, a favor deles, de sua aliança e se compadeceu, segundo a multidão de suas misericórdias. 46 Fez também que lograssem compaixão de todos os que os levaram cativos. 47 Salva-nos, SENHOR, nosso Deus, e congrega-nos de entre as nações, para que demos graças ao teu santo nome e nos gloriemos no teu louvor. 48 Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, de eternidade a eternidade; e todo o povo diga: Amém! Aleluia!
Hoje vamos considerar alguns aspectos daquela que é a nossa segunda principal prática na adoração em secreto, ou nosso culto particular a Deus.
Temos visto que adorar ao Senhor em particular, nalguns casos diariamente, sempre foi um costume regular na vida do povo do Senhor. Um dos exemplos mais destacados na Bíblia foi o profeta Daniel, a respeito de quem estudamos nos últimos cinco (5) meses.
Da mesma forma, Jesus pressupõe e espera que a oração seja um hábito em nossa vida diária: “entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai que está em secreto... [1]. Isto também está implícito na “oração do Pai nosso”, onde Jesus nos ensina a dizer: “o pão nosso de cada dia nos daí hoje...”[2]
Portanto, depois de, em nosso estudo anterior, havermos falado sobre a meditação na Palavra de Deus, vamos nos concentrar na oração. A oração é, por assim dizer, a consequência natural de duas coisas:
Primeira, a percepção de nossas necessidades. Quando nos deparamos com o fato de que a vida impõe sobre nós muitas situações que estão além das nossas forças; quando percebemos os nossos pecados, as nossas fraquezas, as nossas limitações, então nos sentimos naturalmente impulsionados a buscar alguém que seja maior que nós; mais sábio, mais forte, e que possa nos ajudar. Como disse João Bunyan, quanto alguém sente dor, você não precisa ensiná-lo a dizer “Ai!”.[3] Da mesma forma, quando alguém percebe suas necessidades, volta-se instintivamente para Deus, a fim de pedir ajuda.
O segundo fato que nos leva a Deus em oração é a sua Palavra dirigida a nós. Na verdade, de certa maneira, este é um fato modo inseparável daquele que eu citei anteriormente, pois até mesmo a percepção de nossas fraquezas e necessidades é também um modo de Deus falar conosco, através da nossa consciência, chamando-nos para perto dele.
Neste sentido Deus se revela a todos os homens. Mas agora estou falando da revelação especial que o Senhor nos dá de si mesmo através das Escrituras Sagradas. Pois através da Bíblia o Senhor nos diz quem ele é, o que ele faz no mundo inteiro, e mais especialmente para a salvação das nossas almas por meio de seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. Além disto, nas Escrituras o Senhor Deus nos ensina tudo quanto é necessário para que o conheçamos e tenhamos comunhão com ele.
E uma das coisas mais claras nas Escrituras, desde o Gênesis, até o Apocalipse, é, esta: por meio da oração nós podemos falar a Deus. E também nos ensina como devemos orar: que atitudes de alma, quais sejam, reverência, dependência, fé, alegre confiança, coisas que o Senhor espera ver em nossos corações.
Nos ensina que nós, pecadores, não teríamos estas virtudes espirituais em nós mesmos, mas que pela graça de Deus fomos capacitados, pois por meio do conhecimento de Jesus Cristo, o Espírito Santo veio habitar em nossos corações, e agora ele nos ajuda a orar como convém. E que também o nosso Salvador, o Senhor Jesus, está assentado à direita de Deus, vivendo sempre para interceder por nós.
O ensino bíblico sobre a oração é vasto. Em nossa meditação de hoje, eu desejo destacar apenas os conteúdos básicos que a nossa oração pode assumir. Sim, porque oração é falar com Deus, e não somente pedir coisas a ele.
Quando eu era recém-convertido, fui ensinado com base num acróstico: CASA.
Assim:
C – Confissão (dos nossos pecados)
A – Adoração
S – Súplicas
A – Agradecimento
Mais recentemente, li um livro chamado “Ocupado demais para deixar de orar”, no qual Bill Hybels muda este acróstico ligeiramente, mas sem desejar com isto fazer uma ordem dogmática.
Então ficou assim:
A – Adoração
C – Confissão
A – Agradecimento
S – Súplicas
A esta altura, acho interessante que nos recordemos de um ensino do Catecismo Maior a respeito da oração.
A pergunta 178: Que é oração?
Resposta: Oração é um oferecimento de nossos desejos a Deus, em nome de Cristo e com o auxílio de seu Espírito, e com a confissão de nossos pecados e um grato reconhecimento de suas misericórdias.
Nós percebemos que nesta definição a adoração e a ação de graças são colocadas numa só frase. Para nossas considerações, eu desejo tomar o Salmo 106 como um dos mais belos exemplos que encontramos na Bíblia.
Nos vs. 1-3, somos encorajados à adoração e à ação de graças.
Nos vs. 3-5, e 47, temos um exemplo de súplica.
Dos vs. 6-46, temos um exemplo de confissão de pecados.
E no v. 48, adoração novamente.
Então consideremos:
1. Devemos orar ao Senhor adorando-o por seus atributos divinos
vs. 1 e 2 – “Aleluia! Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre. 2 Quem saberá contar os poderosos feitos do SENHOR ou anunciar os seus louvores?”
É necessário dizer que a adoração, ou render graças ao Senhor, o louvor a Deus pelo que ele é, não é um aspecto dispensável de nossa oração devocional.
Como diz Bill Hybels:
“A adoração determina o tom de toda a oração. Faz-nos recor­dar a quem nos dirigimos, na presença de quem vamos entrar, de quem desejamos receber atenção... A adoração nos faz recordar a identidade e o caráter de Deus. À medida em que apresentamos seus atributos, enaltecendo-lhe o caráter e a personalidade, fortalecemos nossa compreen­são de quem Ele é”.
Se iniciamos nossas orações nos concentrando no fato de que estamos diante de um Deus santo, majestoso, poderoso, que conhece todas as coisas, que sabe o que é melhor, e também bondoso e amoroso, então a gratidão pelas coisas que ele faz se torna natural, a consciência de que somos pecadores, que nos leva à confissão, também.
Além disso, a nossa fé é fortalecida, de sorte que podemos lançar sobre ele todos os nossos fardos e ansiedades. Vem sobre nós a consciência de que nenhum mal pode resistir diante do infinito amor de Deus.
Qual é a melhor maneira de adorar a Deus? Me parece que é meditando em seus atributos, conforme revelados em sua Palavra.
Muitas vezes estes atributos são vistos indiretamente através de suas obras: por exemplo, se o Senhor salva, dizemos que ele é salvador. Se ele liberta, que ele é libertador. Pelas suas obras sabemos que ele é bondoso, justo, santo, e muitas outras coisas maravilhosas.
Mas muitas vezes os atributos são revelados através de palavras diretas:
“O Senhor é o Deus supremo”.
“Ele é o grande rei de toda a terra”.
“Ele é o Altíssimo”.
“O Senhor é fiel”, e muitos outros atributos, são afirmados milhares de vezes nas Escrituras.
Então louvemos a Deus por quem ele é.
2. Nossas orações podem assumir a forma de “agradecimento, ação de graças”
vs. 1 e 2 – “Aleluia! Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre. 2 Quem saberá contar os poderosos feitos do SENHOR ou anunciar os seus louvores?”
De certo modo, podemos dizer que render graças, e adorar ao Senhor são a mesma coisa. Mas a distinção que desejo fazer é a seguinte: quando rendemos graças, estamos louvando ao Senhor pelas coisas que ele faz; quando adoramos, estamos louvando ao Senhor pelo que ele é.
Quando dizemos: “Eu te louvo, ó Deus, porque o Senhor é grande, sábio, bondoso, generoso; eu me prostro diante da tua majestade, eu me rendo diante da tua santidade”, chamamos a esta atitude de adoração.
E quando dizemos: “Graças dou, ó Pai, porque nos deste teu Filho, nos deste teu Espírito, porque nos dás a tua Palavra, porque nos dás o pão de cada dia”, isto é ação de graças.
Eu gostaria de enfatizar dois fatos importantes sobre o agradecimento:
1.1 – O quanto ele é importante aos olhos do nosso Pai celestial
Acho que a melhor forma de mostrar isto é como uma história que temos no Novo Testamento:
Lc 17:11-19
11 De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galiléia. 12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, 13 que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! 14 Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. 15 Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, 16 e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. 17 Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? 18 Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? 19 E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou.
Certamente, irmãos, que cada um destes dez leprosos sentiu-se grato a Jesus por ter sido curado. Mas somente um deles voltou para agradecer. E Jesus sentiu-se imensamente feliz por causa deste que veio agradecer, ao mesmo tempo em que admirou-se de que os outros nove não fizeram o mesmo. No v. 19 lemos que, aos olhos de Jesus, o demonstrar gratidão foi uma demonstração de fé. E desta maneira, aprendemos que agradecer revela aquele tipo de fé que agrada a Deus.
1.2 – Outro princípio importante quanto a isto nos é ensinado em 1ª Ts 5:18 e Ef 5:20:
1ª Ts 5:18 – “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.
Em cada circunstância, em meio aos mais variados tipos de situação, Deus deseja que agradeçamos a ele.
Ef 5:20 – “...dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo...”
Os irmãos se lembram que nos contexto destas palavras o apóstolo Paulo está nos ensinando como devemos estar permitindo que o Espírito Santo encha a nossa vida com a sua presença. Enchei-vos do Espírito falando entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais, e acrescenta: dando graças (não apenas em tudo, mas) por tudo, em nome de Jesus.
Desejo acrescentar mais uma boa razão, além de ser esta a vontade de Deus:
Rm 8:28, 29 – “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.  29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.
Assim, dar graças por tudo, e em tudo, significa demonstrar a nossa fé no fato de que a nossa vida está toda nas mãos do Senhor. Significa demonstrar nossa fé em que Deus, o Deus que governa todos os acontecimentos do universo, que governa também cada momento da nossa vida, é sábio, amoroso, que faz tudo para o nosso bem. E desta maneira o Senhor é honrado.
3. Nossas orações também devem conter confissão dos nossos pecados
Outro aspecto da oração que surge naturalmente quando contemplamos a majestade e a graça de Deus é a consciência dos nossos pecados.
No Evangelho de Lucas, capítulo 5, lemos a respeito da pesca maravilhosa. Pedro e seus companheiros de pesca haviam trabalhado a noite inteira, sem ter conseguido apanhar peixe algum. Então Jesus, tomando conhecimento disto, ordenou que eles fossem novamente ao lago, e lançassem suas redes em determinada direção. Quando o fizeram, apanharam grande quantidade de peixes.Então, percebendo a grandeza de Jesus, temeu, e prostrando-se aos pés do Senhor, disse: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador”.[4]
De igual modo Isaías, quando viu a glória do Senhor, disse: “Ai de mim; vou perecer,  porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos.”[5] Mas nos dois casos a reação do Senhor foi de graça e misericórdia. O Senhor purificou estes homens que confessaram suas culpas.
E esta é a promessa feita pelo Espírito Santo a todos nós: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”.[6]
Desta forma, nós vemos no Salmo 106 esta consciência de pecados na presença de Deus, e a consequente confissão.
v. 6 – “Pecamos, como nossos pais; cometemos iniquidade, e fizemos o que é mal”.
E do v. 7 em diante ele recorda a história de Israel, desde a libertação no Egito até os dias dos juízes, mostrando que Deus é um Deus de aliança, e que cumpre a sua Palavra; mas que Israel repetidamente, pecou contra ele: foram cobiçosos, não souberam aguardar os desígnios de Deus, foram invejosos, rebeldes, adoraram ídolos, foram incrédulos, rebeldes contra o Espírito Santo, misturaram-se com os pagãos e aprenderam seus caminhos errados.
Agora eu gostaria de chamar a atenção para um pecado mencionado pelo menos três vezes aqui, e que se torna a fonte para todos os outros:
v. 7 – Nossos pais, no Egito, não atentaram às tuas maravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias e foram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho.
v. 13 – “Cedo, porém, se esqueceram das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios”.
v. 21 – “Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas”.
Esqueceram-se de Deus, esqueceram-se de suas obras, esqueceram-se de suas misericórdias.  Falando de outro modo: eles não cumpriram as palavras ordenadas nos Sls 103:2 e 105:5:
Sl 105:5 – “Lembrai-vos das maravilhas que fez, dos seus prodígios e dos juízos de seus lábios”.
Sl 103:2 – “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios”.
Então, no Salmo 106, por três vezes o Espírito Santo se queixa de que Israel se esqueceu das obras de Deus na vida deles, e isto resultou em pecado, rebelião e apostasia; resultou em mundanismo.
Mas no v. 6, o salmista diz: “Mas em nós não há diferença: somos como nossos pais”. E nós, irmãos, somos diferentes? Não temos a tendência de nos esquecer muitas vezes?
Cada um de nós, meus irmãos, tem certas coisas, certas maravilhas, certas bênçãos que o Senhor tem feito em sua vida, das quais não pode se esquecer. Por exemplo, o apóstolo Pedro nos ensina que não podemos nos esquecer da purificação dos nossos pecados de outrora, para que sejamos frutíferos em nossa vida espiritual.
2ª Pe 1:9 – Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora”.
Não podemos nos esquecer do dia da salvação. Do dia em que o Espírito Santo falou com firmeza e ternura à nossa alma, nos convenceu dos nossos pecados, e amorosamente nos trouxe aos pés de Jesus, para que confiássemos nele, só nele, para a nossa salvação.  Não podemos nos esquecer de que éramos pecadores perdidos, ovelhas cansadas, desorientadas, sem pastor, mas que o Senhor nos acolheu, nos perdoou, e se tornou o nosso guia.
Existem certas coisas que eu não posso esquecer, quanto à minha vida:
1.      O dia da minha salvação
2.      O dia em que me senti vocacionado por Deus para o ministério da Palavra
3.      O dia em que Deus me disse que a Tequinha era a mulher que ele preparou para mim
4.      Não posso esquecer as muitas respostas às orações, as muitas vezes em que o Senhor falou comigo, em situações difíceis, mostrando o caminho pelo qual andar, as muitas vezes nas quais sua provisão se manifestou de forma clara, quase miraculosa.
Se nos esquecemos das obras de Deus, as tentações, as circunstâncias, os problemas se tornam tão grandes aos nossos olhos que nos tornamos desobedientes e incrédulos.
Mas, ao mesmo tempo, que maravilha: aquele que perdoou os nossos pecados no passado, também continua disposto a perdoar no presente.
Por isto, ao tomar consciência de suas iniquidades, o salmista, ajudado pelo Espírito Santo, confessa: “Pecamos, como nossos pais; cometemos iniquidade; procedemos mal”.
E assim somos instruídos a fazer o mesmo, pois o Deus grande, santo, temível e justo, é fiel à sua Palavra, e nos perdoa.
4. Em quarto lugar, as nossas orações também devem conter súplicas
Usando as palavras do Catecismo Maior, devemos oferecer a Deus os nossos desejos.
A Bíblia nos ensina no sentido de que todas as coisas boas que desejamos, todas as coisas que nos preocupam, todos os nossos planos, todas as nossas ansiedades, a nosso respeito, a respeito das pessoas que amamos, da nossa igreja, tudo, devemos levar ao Senhor em oração, e simplesmente agradecer porque ele nos ouve, e nos concede o que é bom, de acordo com a sua insondável, perfeita e amorosa sabedoria, de acordo com seu planos eternos, de nos fazer conformes à imagem de seu Filho Jesus.
Desta maneira, aqui no Salmo 106 também temos um exemplo de súplica:
vs. 4 e 5 – “Lembra-te de mim, SENHOR, segundo a tua bondade para com o teu povo; visita-me com a tua salvação,  5 para que eu veja a prosperidade dos teus escolhidos, e me alegre com a alegria do teu povo, e me regozije com a tua herança”.
Este é o desejo do teu coração? Você quer ser visitado pela bondade do Senhor? Quer ser visitado por sua salvação? Quer ver a prosperidade dos escolhidos de Deus? Quer se alegrar com a alegria do povo de Deus, vendo a igreja alegre com a bênção de Deus? Este é um desejo dado pelo Espírito Santo, de conformidade com a vontade de Deus. Este era um desejo que o apóstolo João tinha em seu coração, quando escreveu para um querido amigo.
3ª Jo 2 – “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”.
A palavra traduzida por “faço votos”, significa oro, como na NVI; “peço a Deus”. Há três sentidos em que João desejava a prosperidade de seu amigo Gaio: que ele fosse próspero nas coisas materiais e em sua saúde, assim como era próspero espiritualmente. Mas veja a ordem de importância: antes de qualquer coisa, a prosperidade espiritual, que Gaio já possuía.
Agora, para que não sejamos conduzidos por uma mentalidade errada, veja a atitude da pessoa espiritualmente próspera:
Pv 30:7-9 – Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: 8 afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; 9 para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus”.
Pois se uma pessoa for próspera materialmente, mas não o for espiritualmente, não adianta nada. Ela será uma pessoa miserável, sempre insatisfeita com o que tem, e precisará sempre “correr atrás de ter mais”. Tal pessoa, no reino de Deus, não ajuda. Primeiro porque ama este mundo. Segundo, porque não gosta de contribuir; ela se sente pobre, e sente que se contribuir ficará mais pobre.
Mas quando uma pessoa é próspera espiritualmente, então vê todas as outras coisas apenas como provisões de Deus para o avanço do seu reino.
Noutro lugar, o Espírito Santo também diz que Deus ama a prosperidade dos seus servos:
Sl 35:27 – Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão; e digam sempre: Glorificado seja o SENHOR, que se compraz na prosperidade do seu servo!”.
Ora, quando alguém tem no coração o mesmo sentimento do Senhor, então ele deseja e se alegra na prosperidade dos eleitos de Deus. Olhe para os irmãos à sua volta: você deseja a prosperidade deles? Eu desejo a prosperidade de cada um de vocês.
Se vocês forem prósperos espiritualmente, em sua saúde, em seu trabalho, a igreja o será também.  E se virmos a prosperidade da igreja, a nossa alma só tem que se alegrar, como a alma de Deus.
E que coisa bendita: isto o Espírito Santo está nos ensinando a pedir. Então deseje, e peça.
Conclusão e aplicação
Eis aqui, irmãos, o que o Senhor espera de nós:
Que movidos pelo amor, pela fé e pela esperança, entremos nosso quarto para adorar ao Senhor. Que meditemos em sua Palavra. Que alimentemos nossas almas com o conhecimento dele, de sua vontade, e nos ponhamos a adorá-lo com nossas orações.
Orações de adoração, nas quais reconheçamos sua grandeza, sua majestade, seu poder, sua justiça, seu amor, sua santidade, sua bondade, sua sabedoria. Orações de gratidão, nas quais o louvemos por todos os seus benefícios para conosco. Orações de confissão, reconhecendo nossos pecados, e pela fé lançando mão de seu perdão que nos é dado em Cristo Jesus. Orações de súplicas, por nós, por nossa igreja, e por tudo o que é bom, na confiança e expectativa de que ele no-lo concede em seu eterno amor.
Você observou que cada um destes aspectos da oração devocional, a saber, Adoração, Confissão, Agradecimento e Súplica, nos podemos observar na Palavra de Deus, inclusive nos Salmos.
Faço esta sugestão: em suas devocionais diárias, depois de ter meditado, quando for orar, faça estas perguntas:
Que motivos, neste texto, tenho para adorar? Quais atributos de Deus posso ver aqui?
Que motivos tenho para agradecer? Que obras de Deus este texto me revela? Posso relacioná-las em minha vida?
Há algum pecado que devo confessar? O Senhor me falou alguma coisa sobre isto?
Que súplicas posso fazer ao Senhor, que são a sua vontade revelada na Palavra?
Bendito seja Deus, que não rejeita a nossa oração, que não afasta de nós a sua graça.



[1] Mt 6:6
[2] Mt 6:11
[3] Bunyan, J. La oracion (Barcelona, El Estandarte de la Verdad, 1990, reimpressão), pág 37.
[4] Lc 5:11
[5] Is 6:5
[6] 1ª Jo 1:9

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