Igreja Evangélica Presbiteriana
Domingo, 3 de novembro de 2013
Pr. Plínio Fernandes
Meus amados, vamos ler Mateus
19:13-15
13
Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e
orasse; mas os discípulos os repreendiam. 14 Jesus, porém, disse:
Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino
dos céus. 15 E, tendo-lhes imposto as mãos,
retirou-se dali.
Em seu livro “Senhor, em que posso
te servir?”, o conhecido cantor Marcos Witt conta sobre a importância das
reuniões da igreja em sua formação espiritual.
Seus pais dirigiam uma instituição
voltada para a edificação da igreja, em que havia um conjunto de instalações nas
quais os pregadores eram abrigados.
Ele diz:
“Este
complexo humilde de edifícios foi muito importante na minha infância. Foi neste
lugar que tive os meus primeiros encontros com Deus... Em uma dessas ocasiões,
quando tinha 8 anos de idade, senti fortemente o chamado de Deus de uma maneira
absoluta e definitiva. Sentado por muitas horas naqueles bancos duros e frios
desse lugar (meus pais me obrigavam a ficar ali), ouvia um pregador depois do
outro – por muito tempo – até perceber que desejava ser um deles no futuro. Com
oito anos não me preocupava como chegaria ser um pregador, nem onde, nem
quando; a única coisa que sabia era que havia um ardor e uma urgência em meu
pequeno coração: o mundo tinha que saber das boas novas da salvação em Cristo
Jesus”.[1]
A experiência deste então menino é uma ilustração muito boa de certas
verdades que aprendemos na Palavra de Deus acerca do valor que nossos pequeninos
têm aos olhos dele, e das responsabilidades que temos de conduzi-los em seu
relacionamento com o Senhor.
No texto de hoje, lemos que algumas pessoas levaram algumas crianças
para que Jesus as abençoasse.
Porém os discípulos, que sempre demonstravam zelo, mas nem sempre
entendimento, começaram a repreender estas pessoas.
Talvez pensassem que as crianças não eram tão importantes quanto os
adultos, ou que poderiam atrapalhar, com suas “criancices”.
Mas o fato é que Jesus se indignou com a atitude dos discípulos, e os
repreendeu.
Pois ele queria abençoar as crianças, às quais ele ama, e além disto, as
descreveu como gente com alma, a quem pertence o reino dos céus.
Em nossa tradição evangélica, sempre reconhecemos a importância de ensinar
aos nossos filhos o caminho pelo qual eles devem andar, de maneira que nunca
venham a se desviar.[2]
Isto inclui o nosso ensino informal e também formal, a partir de nossos
lares, e também as atividades da igreja, específicas para crianças.
Mas muitas pessoas, diante destas coisas, não consideram que seja também
importante a participação de nossos pequeninos nos cultos.
Pensam que na primeira infância eles não têm a capacidade necessária,
seja intelectual, seja a disciplina, para se assentarem e participar com os adultos.
Mas será que isto é verdade?
A minha resposta é que este é um pensamento errado, por várias razões, e
entre elas, esta na qual vamos nos concentrar: nossos filhinhos são possuidores
de faculdades espirituais, e pela graça de Deus operando em suas vidas, têm
capacidade de receber das coisas do Senhor, e também servi-lo.
Por isto, devem participar dos cultos conosco.
Antes de considerar as capacidades
de nossos filhos, gostaria de enfatizar o que eles representam aos olhos do Senhor
1.
Nossos filhinhos pertencem a Deus
Há um sentido, naturalmente, que todas as crianças pertencem a Deus, pois
ele é o Deus de todos os viventes [3]; e
todas as crianças têm necessidades e faculdades espirituais; mas hoje eu
gostaria de citar algumas palavras do Senhor que chamam nossa atenção para o que
a Bíblia diz sobre os filhos do povo da aliança.
Nossos filhinhos pertencem a Deus num sentido muito especial.
Nos dias do profeta Ezequiel o Espírito Santo repreendeu o povo de
Jerusalém por um pecado horrendo: eles haviam oferecido seus filhos aos deuses
pagãos.
Ez 16:20, 21
“Demais, tomaste
a teus filhos e tuas filhas, que me geraste, os sacrificaste a elas, para serem
consumidos. Acaso, é pequena a tua prostituição? 21 Mataste a meus filhos
e os entregaste a elas como oferta pelo fogo”.
Veja a que ponto podem chegar as abominações daqueles que se afastam de
Deus.
Por causa deste e de outros pecados, o Senhor enviou sua amorosa, mas
terrível disciplina contra a cidade de Jerusalém, entregando-a a inimigos ainda
mais perversos do que eles.
Mas eu desejo destacar a maneira como o Senhor se refere aos filhos do
povo da aliança – no v. 20 ele diz: “teus filhos”. No v. 21 ele diz: “meus
filhos”.
Meus irmãos, que altíssima honra nós, pais cristãos, temos ao saber que
nossos filhos são assim tão amados por Deus.
São crianças que têm o privilégio de aprender as sagradas letras desde a
infância, de crescer num ambiente de fé, amor, proteção, justiça, santidade, de
valorização da igreja e da família. Um ambiente cristão é tudo de bom na vida
de uma criança.
Crianças assim se tornam espiritual e emocionalmente seguras.
Aprendem a viver com o propósito de amar e servir a Deus, seja qual for
a sua vocação.
Por isto o apóstolo Paulo escolheu uma palavra muito forte para
descrever o pensamento de Deus a respeito dos nossos filhos.
1ª Co 7:14
“Porque o
marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é
santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam
impuros; porém, agora, são santos”.
O cônjuge incrédulo é santificado no sentido de que é colocado sob a benção
de Deus por causa da convivência com o crente.
Naturalmente não entendemos que o texto está ensinando o casamento entre
crentes e incrédulos, mas apenas levando em consideração que muitas vezes
apenas um dos cônjuges se converte a Jesus.
Mas, o que ele diz a respeito dos filhos dos crentes, mesmo que apenas um
dos pais o seja? Que seus filhos são santos, isto é, são pessoas separadas das
demais, para pertencerem ao Senhor.
No sentido mais especial que pudermos dar a este conceito, de uma forma que
não pode ser superestimada, nossos filhos pertencem a Deus.
Isto é o que reconhecemos quando os apresentamos ao batismo e fazemos
nossos votos solenes, no sentido de orar com eles e por eles, de trazê-los à
igreja, de ensiná-los com nossas palavras e com nosso exemplo, a amar e confiar
e na Bíblia, de educá-los amorosamente na disciplina e na admoestação do
Senhor.
E por outro lado, se formos negligentes no cuidado com nossos filhos,
estaremos sendo negligentes no cuidado com pequeninos que pertencem a Deus.
2.
Nossos filhinhos têm faculdades espirituais
2.1. Uma criancinha tem capacidade de louvar
a Deus
Mt 21:15, 16
“Mas,
vendo os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que Jesus fazia e os
meninos clamando: Hosana ao Filho de Davi!, indignaram-se e perguntaram-lhe: 16
Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da
boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor”?
Eram os últimos dias de Jesus antes de ser crucificado.
E quando estava entrando em Jerusalém, muitas pessoas o aclamaram como o
Messias prometido por Deus, louvando a Deus, clamando: “Hosana nas maiores alturas”...
Hosana era uma palavra de entusiasmo religioso, que provavelmente derivava
da palavra “salvar”[4], algo
parecido com o nosso uso de “aleluia”, que deriva de “louvai a IAVÉ”.
E as crianças diziam: “Hosana ao
Filho de Davi...”.
Os sacerdotes e escribas, aquela gente tão amarga que criticava tudo o que
era bom, ficaram indignados.
Mas a resposta de Jesus revela o prazer que ele teve com o louvor dos
pequeninos.
Ele cita as Escrituras, dizendo que aquele louvor dos pequeninos havia sido
colocado por Deus nos lábios deles.
Assim percebemos que era um louvor aceitável a Jesus, no qual ele se
deleitou.
Quando estamos adorando a Deus com nossos hinos e cânticos, certamente
que o Senhor tem prazer em nós. Será que ele não teria prazer ao contemplar o
cântico de nossos pequeninos unidos a nós como famílias de Deus?
2.2. Uma criancinha pode ser cheia do Espírito Santo
Lc 1:15
“Pois ele
será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do
Espírito Santo, já do ventre materno”.
Em muitos sentidos, João Batista, a respeito de quem a Escritura está
falando aqui, foi uma pessoa excepcional, pois ele era o cumprimento de antigas
profecias, onde o Senhor falava sobre aquele que viria antes de Jesus,
preparando os corações para receberem sua Palavra.
Mas permanece o fato de que era também um ser humano comum. E este ser
humano comum foi cheio do Espírito Santo desde o ventre materno.
Quando um bebezinho está ainda dentro do ventre de sua mãe, ele já tem a
capacidade de receber certas influências que “vêm de fora”.
Sempre que penso nisto, eu me lembro de que quando minhas três filhas
estavam ainda no ventre da Tequinha, eu gostava de ficar conversando e cantando
prá elas.
E depois que elas nasceram, todas manifestavam que as músicas haviam sido
ouvidas.
Por exemplo, desde os primeiros meses de vida, às vezes a Rutinha estava
chorando, com aquelas coisas de bebê, que demoram um pouco a gente perceber o
motivo.
Então eu a colocava nos braços, e começava a cantar:
Ó Pai bondoso, vem nos guiar
No bom caminho nos faze andar
Ou então:
Eu abri meu coração, e Jesus veio
habitar
De manso bateu, logo a porta abri eu
E ele veio aqui morar
Quando eu começava a cantar, era a coisa mais linda. Com os olhinhos ainda
marejados ela olhava pra mim e começava a sorrir. Era uma delícia de se ver.
Se desde o ventre nossos filhinhos podem receber as nossas influências,
quanto mais as influencias de nosso Deus todo poderoso!
E depois que nascem, da mesma forma como aprendem a falar, a engatinhar, a
andar, a se comportar convenientemente e tudo o mais, também podem aprender das
coisas de Deus.
Eu nunca me esqueço de certa ocasião, a Rutinha tinha cerca de 5 anos de
idade, e eu estava pregando num domingo à noite.
Ela estava “dormindo” no colo da Terezinha.
No dia seguinte, ele pediu que eu contasse uma história.
E eu comecei: “Era uma vez um homem
cego, que se chamava...”
- Bartimeu!, ela respondeu.
Então eu perguntei: “Como você sabe”?
- É que esta história você contou
ontem na igreja!
E eu pensara que ela estivesse dormindo.
2.3. Uma criancinha pode servir a Deus e ouvir sua voz
1º Sm 2:18, 19
“Samuel
ministrava perante o SENHOR, sendo ainda menino, vestido de uma estola
sacerdotal de linho. 19 Sua mãe lhe fazia uma túnica
pequena e, de ano em ano, lha trazia quando, com seu marido, subia a oferecer o
sacrifício anual”.
Que mãe maravilhosa a de Samuel, que consagrou seu filho ao Senhor e o
ajudou a viver de acordo com esta consagração desde pequenino. Então ele ministrava,
isto é, servia ao Senhor desde menininho.
1º Sm 3:10
“Então,
veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel!
Este respondeu: Fala, porque o teu servo ouve”.
Desde pequenino Samuel também aprendeu a ouvir a voz de Deus e anunciar sua
mensagem.
Orlando Boyer nos conta que assim também era com Carlos Spurgeon:
O avô de Spurgeon era pastor, e todos os domingos o pequenino estava lá,
ouvindo as pregações.
Um dia, quando tinha cinco anos de idade, Spurgeon viu um membro da igreja
que dava muito trabalho ao seu avô, na companhia de outros, fumando e bebendo.
Então o menino se aproximou e perguntou ao homem: “Que fazes aqui, Elias”?, numa alusão ao texto bíblico.[5]
O homem contou ao pastor que no começo ficou bravo com Spurgeon, mas que
depois se sentiu quebrantado e arrependido. Desde aquele dia passou a andar
mais perto de Deus. [6]
2.4. Uma criancinha pode conhecer os ensinamentos de Deus
2ª Tm 3:14, 15
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de
que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste 15 e que, desde a infância, sabes as
sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo
Jesus”.
Embora Paulo o considerasse como um “verdadeiro filho na fé” [7], o
fato é que desde a infância Timóteo aprendera a crer em Deus, pelos
ensinamentos de sua mãe e sua avó [8].
Foi delas que ele recebeu a boa semente, que a seu tempo veio germinar e
dar fruto.
Os que, pela graça de Deus, fomos criados em lares piedosos, sabemos de
experiência própria como muitos dos ensinamentos que recebemos na infância
simplesmente tem sido a nossa crença e nossa proteção em muitos momentos de
nossa vida, contra muitos males que afligem aqueles que não receberam a mesma
herança.
Como fomos livrados, pela graça de Deus, das drogas, da promiscuidade, das
más companhias, das falsas doutrinas, e de tantas outras coisas ruins.
Mesmo aqueles que em certos tempos foram grandemente tentados, graças ao
Espírito Santo falando através do que recebemos de nossos pais, voltamos aos
caminhos do Senhor.
Por outro lado, temos visto como é difícil para alguns pais o educar seus
filhos nos caminhos do Senhor quando estes pais se convertem na adolescência de
seus filhos.
Então os que têm filhos pequenos devem se esforçar ao máximo para criar
neles hábito de participar dos cultos, da leitura bíblica, da oração, e todos
os outros “meios de graça”, instrumentos pelos quais o Espírito Santo incute em
nós os princípios e modo de vida do reino de Deus nesta terra.
Eu me lembro de que certo tempo atrás, nós decidimos que não teríamos mais
um culto em separado para nossos filhinhos, mas que eles deveriam participar
conosco.
E alguns irmãos encorajaram aos seus pequeninos que já sabiam ler, a fazer
anotações sobre as mensagens. Como ficamos surpresos ao ver que eles realmente
estavam seguindo as exposições e aprendendo o que ouviam.
Me lembro de que quando o Gustavo nasceu, nalgumas ocasiões a Leninha não pode
vir à igreja.
Mas num desses dias em que não veio, ela perguntou a uma das filhinhas (só
não me lembro qual das duas), o que havia sido pregado.
E a filhinha respondeu que foi sobre “os ídolos do coração” (foi no dia 8
de maio de 2005), e “explicou direitinho”.
Nossos filhos são capazes de entender, aprender e praticar a Palavra de
Deus.
Conclusão
Nossos filhos são filhinhos de Deus, pela aliança que temos com ele na fé
em Cristo Jesus.
Com isto não quero dizer que são, “automaticamente crentes e salvos”, pois
eles é que precisam crer, individualmente, mas estou dizendo que eles estão
dentro da aliança que Deus fez conosco, de ser o nosso Deus e de nossos filhos.
Se somos povo da aliança, significa que temos certos compromissos com nosso
Deus, e entre eles, o de criar amorosamente nossos filhos de acordo com os ensinamentos
da Bíblia, para que eles, através destes meios de graça, venham a crer, a amar
e a servir a Deus.
Aplicações
Eu gostaria de encerrar citando dois pontos importantes em nosso cuidado da
vida espiritual de nossos filhos.
1º.
É claro que nosso dever não se limita em trazê-los à igreja, sem ao mesmo tempo
ensiná-los por nossas próprias palavras e maneira de viver.
Alguns anos atrás, um presbítero que conheço estava ministrando aula a uma
classe de adolescentes, e dizendo sobre como é gostosa e abençoada a vida da
família cristã.
Então um de seus alunos, cujos pais eram líderes na igreja, contestou ao
presbítero, dizendo que este não era o caso de sua família. Que na igreja, os
seus pais eram uma coisa, mas na igreja, outra.
Sim, irmãos: é muito ruim quando os pais dão mau exemplo de cristianismo
para os filhos.
2º Além de ensiná-los com nossas
palavras e exemplo, a Bíblia diz que precisamos discipliná-los em amor.
Isto não quer dizer somente repreensão, ou alguma forma de castigo, mas
também, e principalmente, “treinamento bom comportamento”.
Isto é um pouco (nalguns casos, muito) trabalhoso, mas sempre trás bons
resultados.
Eu sei que muitas pessoas dizem que está errado incutir crenças religiosas
nas crianças, que elas é que devem, ao crescer, escolher no que crer, ou não.
Mas esse pensamento, é certo que o tem as pessoas que não dão à religião o
valor que nós damos, e com certeza não pensam do ponto de vista bíblico.
Se acreditamos que dessa fé depende a salvação de nossos filhos, é claro
que temos o dever de incutir neles os ensinos de nossa fé.
Há crianças que não gostam de tomar banho. Seus pais deixam que eles fiquem
sem tomar banho?
Há crianças que não gostam de estudar. Há crianças que gostam de mexer onde
não devem, que gostam de comer o que faz mal à saúde, e tantas outras coisas
semelhantes. Pais amorosos e responsáveis deixam-nas entregues à sua própria
vontade?
Você se lembra do testemunho que lemos no início de nossa mensagem? É com
gratidão que Marcos Witt se recorda de que seus pais o obrigavam a participar
dos cultos.
A estultícia está ligada ao coração da criança (e não só da criança, mas de
todo ser humano entregue a si mesmo), mas a vara da disciplina a afastará dela.[9]
[1]
São Paulo, W4ENDOnet Comunicação e Editora Ltda., 2004, págs. 10, 11.
[2] Pv
22:6
[3] Jr
32:27
[4] J. D. Douglas,
ed., Novo Dicionário da Bíblia (São Paulo, Vida Nova, 1988, 7ª reimpr.), pág.
725
[5] 1º
Rs 19:9
[6]
Orlando Boyer, Heróis da Fé (Rio de Janeiro, CPAD, 2005, 31ª edição), pág. 188
[7] 1ª
Tm 1:2
[8] 2ª
Tm 1:5
[9] Pv 22:15
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