Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

domingo, 27 de abril de 2014

Mais bem-aventurado é dar que receber - At 20:33-35

IPC em Pda. de Taipas
Domingo, 27 de abril de 2014
Pr. Plínio Fernandes
Amados irmãos, vamos ler Atos 20:33-35
33 De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; 34 vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. 35 Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber.
Certo filósofo muito famoso e influente expressou aquilo que, de modo geral, parece ser o sentimento dos seres humanos: “Mais bem-aventurado é receber do que dar”.[1]
Esta é a lógica humana; o homem prefere ganhar, mais do que dar.
Mas Deus pensa diferente. De acordo com Deus, quando um homem dá alguma coisa, isto é mais bem-aventurado; é melhor, é mais bênção na vida daquele que dá.
De acordo com Paulo, o Senhor Jesus ensinou: “Mais bem-aventurado é dar do que receber”.
Vejamos algumas razões pelas quais é melhor dar do que receber.
1. É um meio de nos tornarmos mais parecidos com Jesus
2ª Co 8:1-5, 9
1 Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; 2 porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.3 Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários,4 pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos.5 E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus…
... 9 pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.
Paulo está exortando aos irmãos de Corinto a contribuir com a assistência às igrejas pobres da Judéia.
Ele cita dois exemplos dignos de imitação:
O primeiro exemplo é dos macedônios.
Em meio a muita tribulação e pobreza, mas com alegria, com generosidade, e acima de suas próprias forças, eles fizeram a sua contribuição.
O segredo dos macedônios
A graça de Deus havia alcançado seus corações – v. 1
Eles entregaram-se a si mesmos, primeiramente ao Senhor, e depois aos irmãos – v.5
O segundo exemplo é o de Jesus – v. 9
Jesus, sendo rico, habitando o céu, junto ao trono de Deus, servido pelos anjos, rei e Senhor do universo, fez-se pobre: deixou toda aquela glória, fez-se homem, e homem pobre, humilde, e sofreu até à morte, por amor a nós.
O propósito de Jesus era que, através de sua pobreza, nós fôssemos enriquecidos – nós, que éramos pecadores miseráveis, agora temos uma herança eterna com Cristo, nos céus.
Ora, quando alguém abre mão de seu conforto, de seus bens, de seus direitos, de seu dinheiro, de seu tempo, em favor de outras pessoas, assim como fizeram os macedônios, está seguindo o exemplo de Jesus Cristo; é porque foi alcançado pela graça de Deus, e deseja ser também um instrumento desta graça.
E foi para isto mesmo que fomos chamados – para seguirmos nos mesmos passos de Jesus.
Veja 1ª Pe 1:21
Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos…
Embora neste contexto Pedro esteja nos encorajando a seguir o exemplo de Cristo em meio aos sofrimentos, ele se baseia neste princípio que deve ser aplicado em cada área de nossa vida: seguir os passos de Jesus.
Portanto, esta é uma primeira razão pela qual dar é uma coisa, em si mesma, abençoada para aquele que dá: está seguindo nos passos de seu Deus e Mestre.
2. É um meio de recebermos mais bênçãos da parte de Deus
Lc 6:36-38
35 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. 36 Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados;38 dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.
Aqui o Senhor Jesus está apresentando alguns exemplos do que significa amar ao próximo.
Entre eles, diz que amar é dar sem esperar retorno. O retorno virá de Deus.
Tanto espiritualmente como materialmente.
Devemos “dar perdão, dar graça, dar bênção”.
Alguns anos atrás eu trabalhei como missionário em Manaus. Quando cheguei ali, notei que certo irmão carecia de uma camisa e não podia comprar. Então eu dei uma de minhas camisas para ele. O tempo passou, e aquele irmão tornou-se bem-sucedido.
Depois disto, (e o engraçado é que eu nunca reparei nisto, a não ser muitos anos mais tarde), durante muito tempo ele me deu muitas camisas.
O Espírito Santo nos diz que “do Senhor é a terra e a sua plenitude; o mundo e os que nele habitam” (Sl 24:1).
Dele são o ouro, a prata, os bens todos que existem.
Dele é o coração humano, que ele move de acordo com o seu querer (Sl 33:15).
Se você desprender-se, desapegar-se das coisas materiais, apegar-se a Deus, ele cuidará de você.
3. É o meio através do qual a nossa fé em Jesus Cristo (nosso amor e esperança) serão comprovados para o dia do juízo final
Mt 25:31-40
31 Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória;32 e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas;33 e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda;34 então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.35 Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes;36 estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.37 Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber?38 E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos?39 E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar?40 O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Aqui Jesus está ensinando como ele agirá no dia do juízo final.
Mas alguém dirá: “Nós não conquistamos a nossa salvação através das nossas boas obras. A salvação é algo concedido pela graça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo”.
Sim. Se você está pensando assim, está completamente certo.
Mas eu pergunto: O que acontece quando alguém tem fé? O que acontece quando alguém confia em Deus?
Ele coloca Deus em primeiro lugar, e o ama.
Confia em Deus para o suprimento de todas as suas necessidades.
Ama ao seu próximo como a si mesmo.
Faz de tudo para o progresso da obra de Deus.
Obedece a Deus – isto se chama “boas obras”.
Ef 2:10
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.
Tg 2:14-17
14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? 15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, 16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
Naquele dia, o Senhor Jesus não perguntará sobre a forma do nosso batismo, nem sobre a predestinação, nem sobre a nossa denominação.
Ele avaliará a nossa fé por meio dos frutos que ela apresentou
2ª Co 5:10
Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.
Conclusão
Por tudo isto, percebemos, irmãos: “Mais bem-aventurado é dar do que receber”.
As razões divinas são muito maiores e melhores que as nossas.
Dar é melhor do que receber, pois:
Quando assim fazemos, estamos sendo imitadores de Jesus, nosso Deus e Salvador.
Estamos também nos entregando aos cuidados de Deus, para que ele supra nossas necessidades.
Estamos demonstrando nossa fé em Deus, nosso amor a ele, nossa esperança somente nele. E esta será a medida com que seremos medidos no juízo final.
Aplicação
O que fazer então? Como os macedônios:
Entregar-se totalmente ao Senhor:
Entregar-se à sua obra, ao seu trabalho, a contribuir; entregar seu tempo (“Senhor, minha vida é tua...”).
Entregar-se aos irmãos:
Dar perdão, dar atenção, dar carinho, dar tempo, dar bens materiais – dar de acordo com o amor de Deus; dar de acordo com as necessidades de cada um.
Mais bem aventurada coisa é dar, que receber.
Eu não digo que você deve fazer um voto a Deus – se você fizer um voto, e depois não cumpri-lo, Deus não se agradará.
Mas você deve, em seu coração, entregar-se a Deus: a si mesmo, sua vida, seus dias, seus bens.
Deve reconhecer que, de si mesmo, não tem disposição nem capacidade para fazer a vontade de Deus.
Deve reconhecer que, de si mesmo, é um pecador, e só pode fazer a vontade de Deus se a graça dele estiver em você e sobre você.
Então ore a Deus de todo o coração; peça-lhe ajuda para viver assim; busque e confie em sua graça. Busque e confie no nome de Jesus.



[1] Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra III – De volta ao lar.

domingo, 20 de abril de 2014

Ver a Jesus - Lc 24:13-35

IPC em Pda. de Taipas
Domingo, 20 de abril de 2014
Pr. Plínio Fernandes

Amados irmãos, vamos ler Lucas 24:13-35
15 Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles.  16 Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer.  17 Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.  18 Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?  19 Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo,  20 e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.  21 Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.  22 É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo;  23 e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive.  24 De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram.  25 Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!  26 Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?  27 E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.  28 Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante.  29 Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles.  30 E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu;  31 então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles.  32 E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?  33 E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles,  34 os quais diziam: O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão!  35 Então, os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão.
Antes de sua morte, o Senhor Jesus havia feito certas promessas aos seus discípulos, dizendo a eles que, conforme ensinavam as Escrituras do Antigo Testamento, ele iria morrer na cruz, pelos pecados dos homens
Disse-lhes que isto era necessário. A Bíblia nos ensina que “o salário do pecado é a morte”, e sendo nós pecadores, caiu sobre nós a sentença de morte, a sentença de estarmos separados de Deus por toda a eternidade, mas ainda que mortos neste sentido, conscientes de uma existência de eterno sofrimento no inferno.
Por causa de nossos pecados estávamos não somente separados de Deus, mas também entregues nas mãos de Satanás, o inimigo de nossas almas.
Acontece que Deus, o Pai, e Seu Filho, o Senhor Jesus, por causa de seu grande amor para conosco,  determinaram em si mesmos um plano de ação através do qual o nosso pecado seria castigado, mas que ao mesmo tempo seria retirada de nós a sentença de morte e seríamos também libertados da escravidão e do domínio do pecado e do diabo. Um plano através do qual Satanás seria derrotado.
O Pai, o Filho, e também o Espírito Santo, determinaram que o Filho viria ao mundo, viveria neste mundo uma vida santa e reta, mas que no final de seus dias na terra seria levado à morte. Ele não precisava morrer por haver cometido algum pecado. Ele não cometeria pecado algum, sempre se manteria puro, mas ainda assim ele seria morto, não por causa dos pecados dele, mas por causa dos nossos pecados, em nosso lugar.
E então, depois de ter morrido por nós, Deus, o Pai, mediante o poder do Espírito Santo iria ressuscitá-lo. Ele iria triunfar sobre a morte, e por meio de sua ressurreição iria garantir que no dia do juízo todos nós, os que cremos nele, iremos ressuscitar também.
Foi o maravilhoso plano de Deus, através do qual a morte foi vencida, nossos pecados perdoados, e Satanás foi derrotado. Foi o triunfo do amor de Deus.
E antes de Jesus morrer ele disse aos discípulos que era isto o que iria acontecer. Ele disse mesmo que entre os seus contemporâneos havia muita gente que não passaria pela morte, antes que chegasse o reino de Deus com poder.
Então se cumpriram as palavras de Jesus. Em Jerusalém ele foi preso, julgado como se fosse um criminoso, levado à morte de um criminoso, e sepultado.
Era o plano de Deus que estava se realizando. Era chegada a hora em que as trevas pareciam estar vencendo, mas era precisamente nesta hora que o reino de Deus estava vencendo, chegando com poder.
Mas naquela hora, quando tudo estava acontecendo como previsto, os discípulos simplesmente se esqueceram de tudo quanto Jesus havia falado anteriormente.
Fugiram assustados. Mesmo depois, quando ouviram falar que Jesus havia ressuscitado, continuaram assustados, sem acreditar nisto.
Mesmo que mulheres piedosas estivessem falando que o reino de Deus veio com poder, eles ainda continuavam acreditando que o mal havia triunfado, e que eles estavam derrotados.
Estes dois estavam a caminho de uma pequena cidade, distante cerca de dois quilômetros de Jerusalém.
Jesus estava ali, caminhando com eles, mas eles estavam se sentindo derrotados, pois não conseguiam enxergar a Jesus. Tinham olhos mas não viam.
Depois, quando reconheceram a Jesus, toda a perspectiva mudou, e de gente triste e derrotada eles passaram a ser alegres testemunhas da ressurreição do Senhor
Perceber a presença de Jesus é indispensável para que sejamos pessoas vitoriosas, e testemunhas dele diante do mundo.
Reconhecer a presença de Jesus!
Tomando esta narrativa como ilustração, é sobre isto que desejo meditar com os irmãos.
Precisamos reconhecer que Jesus está presente
A Bíblia nos ensina que o reino de Deus está aqui; já chegou. Jesus já triunfou sobre a morte. Ele é Senhor do céu e da terra. Ele é quem tem autoridade sobre tudo e sobre todos
A Bíblia também nos ensina que Jesus está conosco todos os dias de nossa vida
Jesus nos afirma nas Escrituras:
Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.
Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.
No mundo, tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo;
E o Apóstolo João, para nos encorajar, falando a respeito de que Jesus, por meio de seu Espírito Santo, habita em nós, nos diz assim: “Maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo”.
Falando por meio de Isaías ele nos assegura: “Mesmo quando você estiver passando por rios, estou com você; mesmo quando você passar por provas de fogo, eu estou com você: tomando você pela mão, fortalecendo e dizendo - não tenha medo porque eu te ajudo”
A Bíblia também nos assegura que Jesus, o nosso Senhor e Deus, que está conosco todos os dias, não é um “deus com letra minúscula”, fraco, derrotado, que às vezes consegue fazer alguma coisa em nosso favor, às vezes não consegue.
Não! Jesus, o nosso Senhor, é todo poderoso. É Deus que derrotou Satanás na cruz, porque morreu e ressuscitou. Como diz a carta aos Hebreus, “Destruiu aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”.
É Deus que matou a morte. E é Deus que só morreu por que isto fazia parte de seu plano para nos salvar, para nos dar vida. E é Deus que dirige todo o universo, e todos os acontecimentos do universo, de acordo com o poder de sua vontade e de acordo com seu plano de amor e sabedoria
Nada de nossa vida escapa do controle de nosso Deus e Senhor. Não tem um fio de cabelo de nossa cabeça que caia sem o conhecimento dele (Lc 12:7)
“A vosso Pai”, disse Jesus, “agradou dar-vos o reino de Deus” (Lc 12:32)
Somos herdeiros de Deus, herdeiros do reino de Deus.
Tudo em nossa vida é dirigido pelo Deus todo poderoso, que faz todas as coisas “conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1:11).
Mas sabe o que acontece? Muitas vezes, nós somos como aqueles dois discípulos no caminho de Emaus.
Não conseguimos perceber a presença de Jesus. Não conseguimos ver que Deus está em tudo o que acontece
Não conseguimos perceber que Deus tem um plano em tudo o que acontece
E neste texto existem duas marcas daquele que não consegue enxergar o poder do Senhor
A primeira é tristeza
v. 17
Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.  
Os irmãos sabem: eu não estou dizendo que nunca há lugar para a  tristeza na vida de um crente. O que estou dizendo é que quando sabemos que tudo está sob a direção de Deus, então temos a capacidade de nos alegrar, de nos fortalecer, mesmo em meio a toda a tristeza
Eu quero dar um exemplo do próprio Senhor
Jo 12:27
Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora.
Jo 13:21
Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá.
Agora vamos comparar com Jo 15:11
Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo.
Você vê? Mesmo em meio à profunda angústia que estava experimentando, o Senhor Jesus pode dizer que estava com o coração transbordante de uma alegria que podia até ser partilhada.
A segunda marca é a falta de esperança
v. 21
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.
Já não tinham mais a esperança de que o reino de Deus se manifestasse
Você se lembra que em meio a toda  sua tristeza Jesus tinha alegria? Qual era o segredo? - o porquê: Jo 16:20-22
20 Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.  21 A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. 22 Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.
Meu irmão: as mãos do Senhor dirigem o teu destino. Ele é vencedor; é um Deus todo poderoso. Não é um derrotado
Talvez você esteja passando por muitas tristezas. Muitas lágrimas. Mas se você ver que a mão de Deus está em tudo, então você verá também que as suas dores são como que dores de parto: dores que trazem vida, que trazem bênção
Ver a Jesus, ver o todo poderoso, mesmo quando parece que o mal está triunfando, é uma atitude de fé
v. 25-27
25 Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!  26 Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?
Notem uma coisa, meus irmãos: em lugar algum aqui está escrito que ele não estavam reconhecendo Jesus porque ele estava “disfarçado”, ou diferente.
No foi porque o Senhor estava cegando o entendimento deles ( aliás, quem cega o entendimento é o diabo).
Não - o que Jesus diz aqui é que o problema deles era falta de fé; era dureza de coração, e por isto não criam nas Escrituras. E este era o problema deles.
Então, o que faz o Senhor? Mais uma vez, pacientemente, desde Gênesis até Malaquias, vai explicando, cada detalhe, como nada estava fora de lugar; como tudo era plano de Deus
E à medida em que Jesus explica, o coração deles vai se aquecendo, eles vão sendo preparados, os olhos vão gradativamente se abrindo
Quando Jesus pega um pedaço de pão para servi-los, e abençoa este pão, os olhos deles se abrem, e eles reconhecem que era o Senhor
Eu entendo que neste acontecimento Jesus faz duas coisas para abrir os olhos destes homens:
A primeira é recordar o ensino das Escrituras. Recordar, porque na realidade eles já sabiam. Mas a nossa natureza é propensa a se esquecer, a não entender; então precisamos ser lembrados. E se não sabemos precisamos ser ensinados. De qualquer forma o que precisamos é ser encaminhados nas Escrituras
Vamos ler Rm 10:17
E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.
E agora Rm 15:4
Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.
A segunda coisa que Jesus fez foi provar para eles que as Escrituras são verdadeiras, estando ali com eles. Jesus honra sua palavra.
Amado: se você tem dificuldade de enxergar as mãos de Jesus nos acontecimentos de sua vida, volte-se para as Escrituras. Medite nelas, relacione elas com sua vida. Veja o que dizem os vs. 44-48. Peça que o Senhor abra os olhos do seu entendimento.
O que acontece quando vemos que Jesus está vivo. O que acontece quando sabemos que ele está presente
v. 35
Então, os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão.
Eles imediatamente passaram a ser testemunhas de Jesus também.
Vejam: ser testemunhas de Jesus era o propósito para o qual Jesus escolheu seus discípulos.
A partir do momento em que eles conheceram Jesus, a vida deles era destinada a isto. Assim como a nossa!
Todo aquele que conhece a Jesus passa a ter como propósito principal de vida o glorificar a Deus vivendo em santidade, amor, alegria, justiça e paz - ser uma testemunha de Jesus em sua maneira de viver.
Todo aquele que conhece a Jesus passa ater como propósito principal de sua vida o glorificar a Deus testemunhando de Jesus através do que disser.
Mas você já viu alguém triste ser uma testemunha eficaz?
Você já viu alguém sem esperança ser uma testemunha eficaz?
Você já viu alguém que “não vê” Jesus, com o coração endurecido, ser uma testemunha eficaz?
Mas o contrário também é verdadeiro: quando alguém vê o poder do reino de Deus em sua vida; quando alguém reconhece a mão do Senhor, então, mesmo que o mundo inteiro esteja dizendo que Deus está morto, ele sabe que não. Ele sabe que Deus está bem vivo, que Satanás é um derrotado, e então ele se alegra no Senhor, ele tem o coração cheio de esperança, e ele diz como Jó - mesmo que ele me mate, nele esperarei! Ele se torna uma testemunha do Senhor!
Vamos encerrar nossa meditação lendo Pv 3:5,6
5 Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.  6 Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.

domingo, 13 de abril de 2014

Mc 15:33 - Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
IPC em Pda. de Taipas
Domingo, 13 de abril de 2014
Pr. Plínio Fernandes
Meus amados irmãos, vamos ler Marcos 15:33-39
33 Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona. 34 À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? 35 Alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Vede, chama por Elias! 36 E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de um caniço, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo! 37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. 38 E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. 39 O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.
Apenas alguns dias antes, nosso Senhor havia entrado pelas portas de Jerusalém entre gritos de louvor e saudações do povo de Israel. Louvores àquele que estava entre os homens, enviado da parte do Senhor.
Mateus registra que “as multidões, tanto as que precediam Jesus, como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” [1]
Mas cerca de uma semana depois as multidões, diante do governador Pôncio Pilatos, clamavam de modo diferente a respeito do Senhor: “Crucifica-o! Crucifica-o!”, gritavam eles. [2]
Então Pilatos, querendo contentar a multidão, primeiramente mandou açoitar Jesus, e depois o entregou para ser crucificado.
Jesus recebeu aquelas trinta e nove chibatadas nas costas, com aqueles ossos, ou pedaços de ferro nas pontas, diante da multidão.
Depois os guardas o levaram para o pátio interior do palácio, e todo o destacamento foi reunido.
Colocaram um manto escarlate sobre ele, como se fosse um palhaço.
Fizeram uma coroa com espinhos, e lha puseram na cabeça.
E uma cana, imitando o cetro de um rei foi colocada em sua mão.
E o saudavam: “Salve, rei dos judeus”.[3]
Depois, tirando a cana de sua mão batiam com ela em sua cabeça, cuspiam nele e, colocando-se de joelhos, o “adoravam”. [4]
Então, depois de escarnecerem e zombarem, despiram-lhe o manto púrpura e o vestiram com as suas próprias vestes.
E conduziram Jesus para fora, com o fim de crucificá-lo. 
Obrigaram um homem chamado Simão Cireneu, que passava por ali, a carregar-lhe a cruz.
E levaram Jesus para o monte do Calvário, o Lugar da Caveira. 
Deram-lhe a beber vinho com mirra, que era uma espécie de entorpecente, um anestésico, mas ele não tomou. 
E pregaram-no na cruz.
Eram nove da manhã quando o crucificaram. 
Por cima de sua cabeça estava, numa placa, a acusação: O REI DOS JUDEUS. 
As pessoas que iam passando, blasfemavam dele e diziam: “Ah! Tu que destróis o santuário e, em três dias, o reedificas! Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!”
E também os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, diziam entre si: “Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se; desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos.”
Seis longas horas de intensa agonia. Ao meio dia tudo ficou em trevas, uma escuridão terrível que se prolongou até as três da tarde.
Escuridão total. Silêncio. Dor. Muita dor física. E solidão.
Às três horas da tarde Jesus clamou em alta voz: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Mas do céu não se ouviu nenhum som, nenhuma resposta.
Então ele disse: “Está consumado. Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.” [5]
E morreu.
 “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
Você já passou por algum momento em sua vida em que estas palavras cairiam bem em seus lábios?
Estas palavras seriam, em certo sentido, normais na boca de qualquer outro ser humano, pois os homens são pecadores e estão destituídos da glória de Deus. Mas nos lábios de Jesus?!...
“Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
Porque Jesus pronunciou estas palavras?
Por que Jesus fez esta oração?
1. Primeiro: porque Jesus se sentiu desamparado por Deus
Jesus não pronunciou estas palavras como um recurso de retórica, diante de uma plateia à qual queria impressionar com palavras contundentes.
Aliás, Jesus nunca fez isto em momento algum, pois ele tinha como um princípio da vida o fato de que “a boca fala do que o coração está cheio”.[6]
Assim sendo, cada palavra que saía dos lábios de Jesus era fruto daquilo que ele cria em seu coração.
Portanto, quando ele clama: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”, isto era uma expressão do sentimento de sua alma, a realidade espiritual que ele estava experimentando, a realidade espiritual a respeito da qual ele não estava enganado.
Durante aquelas seis agonizantes e terríveis horas, senão antes, Jesus estava se sentindo completamente sozinho.
Sentiu que Deus estava longe. Sentiu que o Pai o havia abandonado.
Eu desejo fazer um contraste entre o que Jesus diz aqui e o que está registrado em Jo 16:32
“Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo.”
A hora havia chegado, disse o Senhor. Aquela hora em que todos o abandonariam.
O fato de que os escribas, os fariseus, as multidões, e os sacerdotes, todos se colocariam a uma contra Jesus não lhe dava desgosto; pois Jesus tinha consciência da oposição que havia entre ele e estes grupos.
O fato de que os discípulos abandonariam Jesus também não lhe afetava, pois ele sabia o que é a natureza humana.[7]
Fosse o abandono dos homens, fosse a oposição de Satanás, estas coisas não o perturbaram, “pois o Pai não me deixou só, o Pai está comigo”.
Antes de sua encarnação, desde a eternidade, Jesus vivia em comunhão com o Pai.
Durante aproximadamente trinta e três anos, e não somente nas longas noites de oração, de meditação na Palavra, Jesus desfrutou clara e ininterrupta comunhão com Deus.
Mas agora, na cruz, por trás de todos os ódios que os homens manifestavam, por trás de toda a sordidez dos ardis de Satanás, por trás de todo o peso dos nossos pecados, por trás de toda a dor física, a exaustão mental, o que realmente doía na alma do Senhor era isto: ele se sentia abandonado por Deus.
Mas antes de desenvolvermos mais a ideia da razão deste sentir-se abandonado pelo Pai, deixem-me dizer que esta é a experiência de muitos crentes.
É assim que se sentem muitas vezes os filhos de Deus.
Muitas vezes, nos misteriosos desígnios de Deus, para o nosso bem espiritual, o Senhor permite que experimentemos aquilo que alguns escritores descrevem como “a noite escura da alma”.[8]
Períodos de trevas espirituais, sem luz, mas nos quais ele em sua graça apenas concede que sejamos guiados por uma esperança interna, uma esperança que espera contra todas as incertezas que as circunstâncias oferecem.
Uma esperança que pode ser descrita como uma luz interior; nos quais os dons da fé e do amor, a despeito de tudo, permanecem ardendo em nossos corações.
Como nas palavras de Jó, quando disse: “Ainda que ele me mate, nele esperarei”.[9]
Eu gostaria de ilustrar isto com algumas passagens tiradas dos Salmos:
Os Salmos bíblicos refletem as experiências espirituais dos mais devotos servos de Deus; são um espelho no qual todas as pessoas piedosas podem se contemplar nas mais variadas circunstâncias da vida.
Ora, os escritores dos Salmos, entre as muitas experiências da alma cristã, descrevem o desamparo de alguém que se sente abandonado pelo Senhor.
Eu quero citar algumas passagens, de modo breve. Se você de algum modo se identificar nalguma delas saiba que não é mera coincidência.
Muitas vezes é a experiência dos servos do Senhor; você poderá voltar a estes salmos depois, e meditando neles encontrar o conforto para a sua alma.
Sl 10:1
Por que, SENHOR, te conservas longe? E te escondes nas horas de tribulação?”
Sl 42:9-10
Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? 10 Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está?”
Sl 43:2
Pois tu és o Deus da minha fortaleza. Por que me rejeitas? Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos?”
Sl 44:23-24
“Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta! Não nos rejeites para sempre! 24 Por que escondes a face e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão?”
Sl 88:14-15
Por que rejeitas, SENHOR, a minha alma e ocultas de mim o rosto? 15 Ando aflito e prestes a expirar desde moço; sob o peso dos teus terrores, estou desorientado.”
Quando Jesus clama: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, era assim que ele estava se sentindo: só, desamparado por Deus.
2.  Segundo, ele também ora desta maneira porque, de fato, Deus o deixou só
Porque Deus, de fato, o desamparou.
E era necessário que fosse assim porque, na cruz, Jesus estava sendo feito pecado no lugar de nós todos.
Uma das afirmações mais claras da Palavra de Deus sobre o que aconteceu na cruz nos é dada em 2ª aos Coríntios 5:21:
“Aquele que não conheceu pecado (isto é, Jesus), ele (Deus) o fez pecado (quer dizer, um homem cheio de pecado) por nós; para que, nele (Jesus), fôssemos feitos justiça de Deus.”
O apóstolo Pedro também descreve o que aconteceu na cruz com palavras semelhantes
1ª Pe 2:22-24
“O qual (Jesus) não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; 23 pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, 24 carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados.”
Pensemos por um pouco no significado destas coisas.
Jesus, que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós.
Ele não foi feito somente um homem pecador, mas um homem tão cheio de pecados, dos nossos pecados, que era como se fosse a encarnação do próprio pecado.
Quando penso nisto, a figura que me vem à mente é a do “Retrato de Dorian Gray”, o livro de Oscar Wilde.
Você se lembra daquela interessantíssima estória?
Dorian Gray era um belo rapaz, mas muito vaidoso, de alma feia, que cometia muitos pecados. Ele tinha um retrato que fora pintado em sua juventude.
À medida em que o tempo passava, algo misterioso acontecia: Dorian Gray não envelhecia, mas as marcas de suas maldades iam sendo lançadas naquele quadro.
A cada dia o quadro se tornava mais deformado, de modo que quando Dorian Gray já tinha mais idade o seu retrato estava irreconhecível: era um monstro todo deformado, uma figura demoníaca horrenda, pavorosa, feia.
Quando eu penso no que Jesus se tornou na cruz, diante da santidade de Deus, eu penso que ele se tornou como que o retrato de Dorian Gray.
Mas ali, em Jesus, o que estava sendo lançado eram os nossos pecados, e não os dele.
Todos os nossos pecados recaíram sobre ele.
As nossas maldades, as nossas malícias.
As nossas vaidades, a nossa soberba.
Os nossos crimes, as nossas mentiras.
As nossas mesquinharias.
As nossas infidelidades, as nossas loucuras.
A nossa ganância, a nossa hipocrisia.
E você pode acrescentar à minha lista todos os outros pecados que nós cometemos em nossa insensatez, em nossa falta de amor por aquele que é santo.
Naquela hora, o ser mais puro do universo, o mais santo, o mais lindo, Jesus, se tornou horrendo aos olhos do Pai, se tornou o representante de toda a nossa fealdade, diante daquele que é tão puro de olhos, que não pode contemplar o mal.
Por que recaiu sobre ele o pecado de todos nós.
E neste sentido, Deus “virou as costas” para o seu próprio Filho.
Pois ele se tornou pecado em nosso lugar.
E você sabe o que faz o pecado, pois
Rm 3:23
“Todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus”. (Rm 3:23)
e
“O salário do pecado é a morte...” (Rm 6:23)
Uma vez que Jesus foi feito pecado, Deus o abandonou. E ele morreu.
Agora veja porque ele morreu:
Rm 5:8
“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de haver Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores...”
O amor que Jesus tem por você não é pequeno.
O amor que Deus tem por você não é pequeno.
Um amor que os levou ao sofrimento, à morte, morte terrível, morte de cruz.
3. Terceiro, Jesus também fez esta oração porque, nas horas de aflição, assim como em todas as outras horas de sua vida, a Palavra de Deus era a sua Palavra
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Todo judeu piedoso sabia que estas exatas palavras já haviam sido ditas antes
Veja o Salmo 22:1
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido?”
As palavras deste Salmo retratavam, num primeiro momento, a experiência de Davi, num daqueles dias de conflitos interiores. Numa daquelas “noites escuras da alma”.
Mas os escritores do Novo Testamento viram nele também uma Palavra profética a respeito de Jesus.
Por isto este Salmo é citado em vários lugares do Novo Testamento, como apontando para Jesus.
Uma breve vista no Salmo nos mostra isto:
Sl 22:6-8
Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. 7 Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: 8 Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer.”
Mt 27:39-43
Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: 40 Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus, e desce da cruz! 41 De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo, diziam: 42 Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele. 43 Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus.”
Sl 22:18
Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes.”
Mt 27:35
“Depois de o crucificarem repartiram entre si as suas vestes, tirando sorte.”
Sl 22:22
A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação”
Hb 2:11-12
Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12 dizendo: A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação.”
Não é lindo perceber a unidade de pensamento, a conexão entre textos escritos em épocas e pessoas tão diferentes, mas que revelam por trás de seus escritos uma mente maior, a mente do Espírito Santo, em cada Escritura nos falando de nosso Salvador?
Mas eu quero focalizar sua atenção nesta outra verdade maravilhosa: assim como cada parte da Bíblia nos fala de Jesus, assim como em todo lugar a Escritura fala de Jesus, em todo lugar Jesus fala da Bíblia.
Por exemplo:
Quando estava sendo tentado por Satanás, Jesus respondia às tentações do diabo citando as Escrituras. Ele dizia: “Assim está escrito”.[10]
Quando estava ensinando aos seus discípulos, ele começando por Moisés, passando pelos Salmos e todos os profetas lhes ensinava a seu respeito.[11]
Quando questionado por seus opositores, citava as Escrituras.
As Escrituras eram o alimento de sua alma, pois como ele dizia, citando as Escrituras, “não só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus”.
A Bíblia era a sua fonte de comunhão com o Pai, pois ele dizia: “assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também todo aquele que de mim se alimenta, por mim viverá”.[12]
A Bíblia, neste sentido, era tudo para ele.
Por isto, neste momento em que ele se sente desamparado, neste momento em que ele está desamparado, sofrendo sobre si toda a dor da nossa maldade, ele se ampara na Palavra sagrada, e ora segundo a Bíblia: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”,
Como quem diz: “Meu Deus, estou clamando a ti, estou esperando em ti; tu ainda és o meu Deus...”.
Agora veja o comentário da carta aos Hebreus
Hb 5:7
Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade...”
Jesus, nos dias de sua carne, nos dias em que estava neste mundo, ofereceu orações e súplicas a Deus como forte clamor e lágrimas.
Orações, lágrimas e clamores àquele que o podia livrar da morte.
E foi ouvido! Isto é, Deus livrou Jesus da morte.
Mas que coisa tremenda! Quão inescrutáveis são os caminhos do Senhor.
Como os pensamentos dele são diferentes dos nossos.
Pois, segundo a nossa maneira de pensar, Deus livrar a Jesus da morte significaria dar um escape, um livramento para que Jesus não morresse.
Mas Deus livrou a Jesus da morte, não segundo a maneira de pensar humana.
Deus livrou ao seu Filho da morte por meio da ressurreição.
Jesus precisava morrer, pois se ele não morresse, não haveria salvação para nós.
Mas seu corpo não foi deixado na morte.
Quando ele clamou naquela hora: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”, o mesmo Deus que o abandonou também ouviu o seu clamor, aceitou a sua oração, aceitou o seu sacrifício, em suas mãos recebeu o espírito, o fôlego de vida de Jesus.
O mesmo Deus o livrou da morte, o tirou da sepultura.
Conclusão
“Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
Houve um momento, um breve momento à luz da eternidade, mas um longo momento na vida de Jesus,
Em que ele se sentiu desamparado por Deus, sozinho, solitário, e sofrendo as mais terríveis dores físicas e mentais.
Em que ele foi, de fato, desamparado por Deus, porque ele foi feito pecado por nós, ficou destituído da glória de Deus, e morreu em nosso lugar.
Mas mesmo neste momento ele se amparou na Palavra eterna de Deus, ele havia guardado a Palavra no coração para não pecar contra Deus; ele orou a Palavra, e o Pai o ouviu. O Pai o livrou das garras da morte.
Aplicação
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Primeiro:
Olhe para o Salvador, olhe para o Salvador ali na cruz: desamparado por Deus, feito pecado em nosso lugar. Ele foi feito pecado no seu lugar. Veja como é grande o amor que ele tem por você.
E veja o resultado do sofrimento de nosso Salvador
Is 53:5
Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”
Tenha paz no amor do Salvador.
Tenha paz nos sofrimentos do Salvador.
Tenha cura para sua alma nos sofrimentos do Salvador.
Leve teus pecados aos pés da cruz, e deixe que o sangue de Jesus lave os teus pecados todos.
Segundo:
Existem ocasiões em que você, filho de Deus, se sente desamparado por Deus? Ocasiões em que parece que Deus não ouviu as suas orações? Em que você precisa dizer: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? Porque não me ouviste?”
Tenha calma, bichinho de Jacó; não tenha medo, vermezinho de Israel. [13]
Os melhores homens de Deus se sentiram assim: Davi, Jó, Moisés, José.
Pois Deus, Deus que, como diz o profeta, é um Deus de mistérios,[14] um Deus cujos caminhos são muitas vezes ocultos.
O Deus de toda a sabedoria, de todo o amor, de toda a graça, sabe o que faz, e ele em sua graça tem designado as noites escuras da alma para o teu bem.
Você ainda vai olhar para trás e dizer: foi bom eu ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos.
Mas acima de todos, o teu Salvador também se sentiu desamparado por Deus.
E te compreende. E se compadece. É um Salvador misericordioso. E ele diz: quando passares pelos rios, eu serei contigo; quando pelas muitas águas, não te submergirão... [15]
Muitas vezes, para nos livrar do mal, Deus nos faz passar pelo mal.
Assim como iremos, se Jesus não vier antes, passar pela morte, a fim de ressuscitarmos para a vida.
Terceiro:
Você precisa forças para enfrentar as horas de tribulação, confusão?
Olhe para o Salvador: como ele alimentava sua alma com a Palavra.
Não só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus.
Mesmo que “o Pai se agrade em moê-lo”, nunca deixe de orar.
Ore a Palavra. Nunca abandone esta Palavra, pois esta Palavra é de Deus, é a tua vida.
Guarde esta Palavra no teu coração.
Depois do inverno vem a primavera, depois da tempestade vem a bonança, depois da morte vem a ressurreição para a vida eterna.


[1] Mt 21:19
[2] Mc 15:13, 14
[3] Mc 15:18
[4] Mc 15:19
[5] Lc 23:46
[6] Lc 6:45
[7] Jo 2:25
[8] Título do famoso livro de S. João da Cruz (sec. XVI)
[9] Jó 13:15 – ARC
[10] Por exemplo: Mt 4:4, 7, 10; 21:13; 26:24; 26:32, etc.
[11] Lc 24:27, 44
[12] Jo 6:57
[13] Is 41:14
[14] Is 45:15
[15] Is 43:2
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