IPC
em Pda. de Taipas
Domingo,
31 de maio de 2015
Pr. Plínio Fernandes
Meus irmãos, vamos
ler João 6:16-21
Ao descambar o dia, os seus discípulos desceram
para o mar. 17 E, tomando um barco, passaram para o outro lado,
rumo a Cafarnaum. Já se fazia escuro, e Jesus ainda não viera ter com eles. 18 E o mar começava a empolar-se,
agitado por vento rijo que soprava. 19
Tendo navegado uns vinte e cinco a trinta estádios, eis que viram Jesus andando
por sobre o mar, aproximando-se do barco; e ficaram possuídos de temor. 20 Mas Jesus lhes disse: Sou eu.
Não temais! 21
Então, eles, de bom grado, o receberam, e logo o barco chegou ao seu destino.
Nós
lemos aqui sobre um evento extraordinário, narrado por Mateus, Marcos e João[1]: a
noite em que Jesus, dominando as “leis da natureza” [2],
andou por sobre as águas agitadas do mar da Galiléia, vindo ao encontro dos
seus discípulos, que estavam em apuros.
Foi
uma grandiosa demonstração do poder de nosso Senhor, de como ele é soberano, de
como ele governa sobre tudo.
Mas
além disto, segundo entendemos, é também uma verdadeira parábola narrada
através dos acontecimentos, para enriquecer nossa compreensão das nossas
experiências espirituais, da nossa vida com Deus.
Este
acontecimento ilustra como, nas noites escuras, nos mares agitados desta vida,
ainda que pareça tarde, Deus sempre vem ao nosso encontro, e em sua vinda
alcançamos descanso para nossas almas.
1. Primeiro, eu quero chamar a atenção dos irmãos para
o que diz o v.17 - ele nos faz saber que, por assim dizer, Jesus estava “atrasado”
para o encontro
Já se fizera escuro, e Jesus ainda não viera ter com
eles.
Até
aquele momento Jesus não havia chegado.
Além
de João, Mateus e Marcos nos contam que foi depois de um intenso dia de
trabalho de Jesus e seus discípulos: ele havia ensinado muito; depois, no fim
da tarde, preocupado com o bem-estar e saúde de tantas pessoas que passaram o dia a
ouvir seus ensinamentos, ele havia multiplicado os pães, alimentando a imensa
multidão[3].
Então
ordenou aos seus discípulos que atravessassem para o outro lado do mar,
enquanto despedia as multidões.
Depois
subiu à região montanhosa, para estar as sós com o Pai celestial e orar (ele
sabia que não é necessário ir ao monte para orar, mas como “não tinha onde
reclinar a cabeça” [4], os
montes e os desertos eram seus lugares secretos de oração[5]).
Enquanto
Jesus orava, os discípulos começaram a se ver em grandes dificuldades.
O
mar da Galiléia, na realidade é um imenso lago, de uns 20 km de extensão por 10
de largura.
Fica
numa profunda depressão, cerca de 200 m abaixo do nível do mar, cercado por
montanhas e alguns vales bem estreitos.
Durante
a maior parte do tempo o ar ali é quente e parado, mas às vezes, correntes de
ar frio passam por cima das montanhas, e são sugadas em redemoinhos para baixo,
formando assim, de repente, fortíssimas tempestades de vento.
E
era isto o que estava acontecendo. Imagine um barquinho pequenino, balançando
de um lado para outro, no meio de um imenso lago, alta madrugada, o céu turbado
e as águas agitadas pela força do vento, numa época em que não havia os
recursos de iluminação que temos agora.
Jesus
estava longe. E para uma situação como esta, homem algum, mesmo pescadores experimentados,
estão realmente preparados.
Em
outra ocasião, durante outra tempestade, estando Jesus com eles no barco, ele
tão somente levantou-se, repreendeu o vento e as ondas, e fez-se bonança[6].
Mas
agora Jesus não estava ali.
E
não é que Jesus não estivesse ali realmente:
Marcos[7]
nos diz que Jesus, do monte onde estava, contemplava tudo o que acontecia, e
percebia a dificuldade que os discípulos estavam tendo, porque o vento lhes era
contrário, e então desceu o monte, para vir ao encontro de seus discípulos.
Mas,
nos diz João, até aquele momento Jesus ainda não havia chegado. E
já eram pelo menos três horas da madrugada[8].
Irmãos,
existem horas, existem tempos
Em
que nossa vida se torna como que numa noite escura e longa.
Em
que os ventos das circunstâncias contrárias,
A
agitação dos problemas, das emoções, de crises em nossa existência, nos
transtornam.
Fica
difícil remar, conduzir o barco da nossa vida
E
muitas vezes sentimos que, ao contrário das promessas que nos faz, de socorrer
Jesus
ainda não veio, ainda está longe, está demorando.
As
águas estão revoltas, a noite escura, e ele não vem, não age, está atrasado
Você
avalia sua vida:
Você
é discípulo de Jesus. Está neste barco porque ele mandou, e prometeu estar com
você todos os dias
Por
outro lado, ele sabe tudo: seus problemas, suas aflições.
Ele
pode qualquer coisa: apenas com uma
ordem, um estalar de dedos, e tudo seria transformado.
Mas
ele não o faz, ele não age; pior: parece que ele nem está presente.
Irmão,
se é assim que você às vezes tem se sentido, deixe-me consolar seu coração
dizendo que o mesmo já sentiram muitos santos do passado.
Quero
citar alguns exemplos
Sl
74:1,11
Por que nos rejeitas, ó Deus,
para sempre? Por que se acende a tua ira contra as ovelhas do teu pasto?
Por que retrais a mão, sim, a
tua destra, e a conservas no teu seio?
Neste
salmo, Asafe, homem de Deus, expressa o sentimento de rejeição por parte do
Senhor. Deus como que “encolheu a mão”, virou o rosto, e não atende.
Ele
sente que Deus está se omitindo.
Sl
89:46
Até quando, SENHOR? Esconder-te-ás
para sempre? Arderá a tua ira como fogo?
Deus
está escondido, irado
Is
63:19 e 64:1
Tornamo-nos como aqueles sobre
quem tu nunca dominaste e como os que nunca se chamaram pelo teu nome. Oh! Se
fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença...
Moisés,
Davi, Elias, Jeremias, e tantos outros, muitas vezes sentiram que Deus estava
longe; e os discípulos ali no mar.
2. Mas, eu
também quero trazer à nossa mente este segundo fato: se Jesus ainda não havia
chegado, isto quer dizer que depois ele chegou.
De
repente, ele apareceu.
Eu fico imaginando
que coisa bonita deve ter sido aquela cena toda: as águas agitadas, o vento
forte, a escuridão.
E sobre as águas, o Senhor
Jesus.
O Senhor forte e
poderoso - nada o incomoda, nada lhe aflige, nada frustra o seu propósito, nada
o faz desviar-se de seus intentos, e seu propósito é dar segurança aos seus
discípulos
Mas os discípulos
ficaram tão espantados com aquela pessoa andando sobre as águas! Mateus nos diz
que eles pensaram que fosse um fantasma, e começaram a gritar apavorados[9].
Porque eles
simplesmente não conseguiriam sequer imaginar que o Senhor Jesus viesse a eles
desta maneira – eles ainda não haviam aprendido o que está escrito em Ef 3:20
que Deus é
Aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais
do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em
nós...
Sim, irmãos, muitas
vezes, é quando menos esperamos que Jesus vem, e age.
Se Jesus queria ir
onde estavam os discípulos, nós pensamos, ele deveria tomar outro barco, ou da
praia mesmo acalmar a tempestade.
Mas precisamos
entender que ele é soberano:
Ele age sobre as
circunstâncias – anda sobre as águas, anda contra o vento forte, pois é mais
forte que o vento; anda na escuridão, pois ele é a luz.
Ele é soberano sobre
o tempo – sabe a hora exata de intervir.
Ele age como quer,
conforme a sabedoria de sua vontade:
Por
exemplo
Em
Lucas 18, o Evangelho nos conta sobre a cura de um cego chamado Bartimeu. Jesus
disse: o – “Recupera a tua vista; a tua
fé te salvou”, e imediatamente, pela Palavra do Senhor, o homem tornou a
ver[10].
Em
João 9, Jesus cura outro cego. Mas desta vez ele cospe no chão, faz um pouco de
lodo com a saliva, aplica aos olhos do cego e ordena: – “Vai, e lava-te no tanque de Siloé”. O homem fez o que Jesus
ordenou, e foi curado[11].
E
em Marcos 8, Jesus está numa aldeia chamada Betsaida, quando cura outro cego.
Mas desta vez leva o cego para fora da cidade, coloca um pouco de saliva nos
olhos do homem e pergunta: – “Vês alguma
coisa?”
E
o homem responde: – “Vejo os homens, como
árvores os vejo andando”.
Então
o Senhor novamente coloca as mãos sobre os olhos do homem, e ele passa a ver
tudo perfeitamente[12].
É
o mesmo Jesus, mas de modos diferentes; seu caráter não muda: é sempre bom,
compassivo, mas ele é soberano em sua maneira de agir, não está preso a leis
fixas, a não ser ao seu próprio caráter.
Irmão,
se “as águas do mar da sua vida estão agitadas”, espere. Jesus irá agir. Ele
virá. Tenha certeza.
Talvez
seja da maneira como você menos espera
O
profeta Isaías nos diz que às vezes, Deus já está atendendo ao que vamos pedir
antes mesmo que nós oremos[13].
Mas
se isto não acontece sempre, espere só mais um pouco
Hb
10:37, 38
Não abandoneis, portanto, a
vossa confiança; ela tem grande galardão. 36
Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a
vontade de Deus, alcanceis a promessa. 37
Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará; 38 todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se
retroceder, nele não se compraz a minha alma. 39
Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da
fé, para a conservação da alma.
Aqui o Espírito Santo está nos
falando sobre o dia da volta de Jesus.
Não falta muito tempo, ele
diz. Aos nossos olhos, pode parecer demorado, mas à luz da eternidade, será
logo.
Mas para alcançar a promessa,
é necessário permanecer nesta esperança de fé.
Na
hora de Deus, do jeito de Deus, ele vem, intervém, age, opera.
E
sabe o que acontece quando ele vem?
3. Ele recupera todo o “tempo perdido”
v.21 - Então, eles, de bom grado, o receberam, e logo o barco
chegou ao seu destino
O tempo nunca é
preocupação para Deus. Ele está cima. Age no tempo, fora do tempo e até contra
o tempo, como no dia em que os israelitas lutavam contra os amorreus – o dia
estava acabando, e a batalha ainda não fora ganha. Então Josué orou, e o sol não
se pôs enquanto a luta não terminou[14].
No dia em que
Ezequias foi curado, o Senhor fez com que a sombra do relógio solar retrocedesse,
a fim de que o vacilante enfermo soubesse que seu milagre estava para chegar[15].
Quando Moisés tentou,
por suas próprias forças, libertar os israelitas da escravidão no Egito, não conseguiu.
Mas quarenta anos depois, Deus o fez, usando o mesmo Moisés, e de uma vez por
todas[16].
Ou Lázaro: João 11 nos
diz que Jesus soube que seu querido amigo Lázaro, que morava na cidade de Betânia,
estava gravemente enfermo. Dois dias depois foi até La, mas quando chegou, seu
amigo já estava morto e sepultado havia quatro dias.
Maria, a irmã do
morto, disse que Jesus havia chegado atrasado.
E Jesus manifestou a
sua glória, tirando a Lázaro de entre os mortos.
Quando Deus age, ele
recupera o “tempo perdido”.
Às vezes, ficamos
olhando para a vida, o tempo se esvai rapidamente, sentimos que estamos
perdendo tempo.
– “Senhor, por que o Senhor não age logo”?
– “Porque suas promessas demoram tanto”?
– “Porque meus problemas parecem não ter
fim”?
– “Por quê?”
Deus
tem seus tempos.
Vocês
todos que estão aqui conhecem a igreja de Vila Continental; uma das igrejas
mais bonitas que eu conheço. Ela não foi organizada de uma hora para outra. Na
verdade, foram longos 36 anos como congregação, antes que pudesse ser
organizada como igreja. Mas cada vez que chego lá, e participo da comunhão daqueles
queridos irmãos no Senhor, que santa delícia é estar ali.
Deus tem seus tempos.
Deus tem seus modos. Deus tem seu caráter: sua Palavra, seus desejos.
Conclusão e aplicação
Querido
irmão, como está sua vida?
O
mar está agitado? A noite está escura? Você se sente sem direção? Os ventos
contrários são fortes?
Jesus
está vendo tudo. Confie nele: não pule do barco, não fuja, fique, espere em Deus;
ele agirá.
Entregue
o teu caminho ao Senhor, confie nele, e o mais ele fará[17].
E
quando ele agir, você verá que não foi tempo perdido. Ele tira todo o atraso.
Amém?
[1] Mt
14:22-33; Mc 6:45-52
[2] Jeremias
chama as “leis da natureza” de “leis fixas do céu e da terra” (Jr 31:35, 36; Jr
33:25 – ARA)
[3] Mt
14:13-21; Mc 6:30-44
[4] Mt 8:20
[5] Mc 1:35;
Lc 6:12 etc.
[6] Mt 8:26
[7] Mc 6:48
[8] Mt 14:25
– “Quarta vigília da noite”: entre 3 e 6 horas da manhã.
[9] Mt 14:26
[10] Lc
18:35-43
[11] Jo
9:1-7
[12] Mc
8:22-26
[13] Is
65:24
[14] Jo
10:12-15
[15] Is
38:1-8
[16] At
7:23-36
[17] Sl 37:5