Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. Jeremias 15:16

domingo, 27 de dezembro de 2015

A presença do Senhor - Êx 33:11-17

3ª IPC de São Paulo
Domingo, 15 de outubro de 2006
Pr. Plínio Fernandes
Amados, vamos ler Êxodo 33:11-17
Falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo; então, voltava Moisés para o arraial, porém o moço Josué, seu servidor, filho de Num, não se apartava da tenda.12 Disse Moisés ao SENHOR: Tu me dizes: Faze subir este povo, porém não me deste saber a quem hás de enviar comigo; contudo, disseste: Conheço-te pelo teu nome; também achaste graça aos meus olhos.13 Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é teu povo.14 Respondeu-lhe: A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso.15 Então, lhe disse Moisés: Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar.16 Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?17 Disse o SENHOR a Moisés: Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome.
Nós temos um cântico que diz: “Não existe nada melhor do que ser amigo de Deus”.
Este cântico reflete o ensino bíblico de que Deus, o nosso criador, este ser tão santo, tão majestoso, ama ao ser humano, mesmo pecador, e em seu grande amor, tal como um pastor que sai em busca de suas ovelhas perdidas, deixa, por assim dizer, a sua glória celestial e desce a este mundo em busca dos seus amados.
A Bíblia nos ensina que Abraão, nosso pai na fé, era considerado amigo de Deus, e andava com Deus. Que Noé achou graça aos olhos de Deus. Que Davi andava com Deus; e Samuel, e Jacó, e tantos outros.
A Bíblia, a Palavra de Deus dada a nós, nos ensina que Jesus veio do céu à terra, nasceu entre nós para estabelecer entre nós e o Pai celestial uma relação de amizade através de sua morte na cruz em nosso lugar.
Jesus nos diz que ele morreu na cruz em favor dos seus amigos.
E o apóstolo Paulo escreveu que através da morte de Jesus nós fomos reconciliados com Deus, de sorte que a inimizade foi desfeita.
No texto que temos diante de nós, o Espírito Santo está descrevendo um momento sublime na vida de Moisés, dizendo que Moisés falava com Deus, ou melhor, que Deus falava com Moisés face a face, como qualquer um fala com seu amigo.
Estavam na “tenda da congregação”, a cabana onde Moisés permanecia, e onde ele e o Senhor sempre se encontravam.
E com a liberdade de quem fala a um amigo, Moisés diz ao Senhor: – “O Senhor me diz que vou guiar teu rebanho, mas até agora não me disse quem irá comigo...”
Parece que Moisés pensava que o Senhor deveria colocar alguém com ele – este é o modo usual de Deus fazer as coisas, mas perece também que há certas exceções, como Moisés, José, Samuel, Jeremias, em que Deus, e apenas Deus, vai com seu homem. Seu Deus é tudo o que ele precisa.
Então Moisés prossegue: – “O Senhor me diz que me conhece pelo nome, que fui alcançado por tua graça. Se é assim, então me faça conhecer o teu caminho, para que eu te conheça; e considera que esta nação é teu povo; considera que estas pessoas são tuas.”
E o Senhor responde: – “Sim, Moisés, a minha presença irá contigo, e eu te darei descanso.”
Moisés torna a dizer: – “Se o Senhor não estiver comigo, não nos faça nem sair daqui... Pois como saberemos que de fato a tua graça nos alcançou? Não é pelo fato de o Senhor andar conosco, de maneira que eu e o teu povo seremos separados do resto do mundo?”
E mais uma vez o Senhor torna a falar a Moisés: – “Sim, Moisés, também farei isto que você está pedindo: pois é assim mesmo – você está debaixo da minha graça, eu conheço você pelo nome...”
Algum tempo atrás, meditando neste texto[1], nós nos concentramos no v. 13, onde Moisés pede ao Senhor: – “Rogo-te que me faças conhecer, neste momento, o teu caminho, para que eu te conheça...” E consideramos o que a Bíblia nos ensina sobre o caminho de Deus.
Hoje eu gostaria de me concentrar na resposta de Deus que é dada no v. 14: –“A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso”.
Isto porque Moisés dissera ao Senhor: –“Tu me deste esta missão, a de conduzir o teu povo por este deserto até a terra prometida, mas não colocaste ninguém para me ajudar. Mostra-me o teu caminho...”
Então o Senhor lhe responde: –“A minha presença, isto é, Eu, irei contigo...”
E veja o que Moisés diz ao seu amigo, v. 15: –“Se tua presença não for conosco, nem nos faça sair deste lugar.”
“A minha presença irá contigo.”
A mesma promessa que ele repetiu à sua igreja em Mt 28:20:  –“E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século...”
A presença de Deus. – “Se tu não fores conosco, não nos faça caminhar. Sozinhos não podemos ir.”
Porque a presença de Deus era tão importante para Moisés e a igreja no deserto? Porque a presença de Deus é tão importante para cada um de nós, para nossas famílias, para nossa igreja e para todas as igrejas do Senhor Jesus? O que a Palavra de Deus nos ensina nesta passagem?
1. É a presença de Deus que nos fortalece para os caminhos desta vida
v. 14 – “A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso.”
v. 15 – “Realmente, se a tua presença não vai comigo, não nos faça sair deste lugar. Se a tua presença não vai comigo, não me dê missão alguma: sozinho eu não vou, pois como eu vou saber se realmente estamos debaixo da tua graça?”
Moisés tinha uma grande missão de vida que lhe tinha sido dada por Deus
– “Moisés”, disse-lhe o Senhor, “escolhi você para por seu intermédio tirar o meu povo, a nação israelita, da escravidão no Egito, e conduzi-lo à terra de Canaã, a terra que eu lhes prometi.”
Por isto lemos que Moisés pede ao Senhor que lhe mostre o caminho pelo qual eles devem seguir.
Mas Moisés tinha consciência de que não bastava que Deus lhe desse um mapa, um manual de instruções ou qualquer coisa neste sentido. Não bastava que ele conhecesse os princípios de comportamento nos caminhos do deserto.
Ele precisava mais que isto: ele precisava que Deus estivesse com ele. Moisés tinha consciência de que nada poderia fazer sem a presença de Deus. 
E esta mesma consciência temos nós também.
Jo 15:5 - “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.
Sem a presença de Jesus nós não somos ninguém. Sem a presença de Jesus nós fracassamos como igreja, nós fracassamos como indivíduos. Sem a presença de Jesus fracassamos como pais, como cônjuges. Sem a presença de Deus, não demora para que nossa alma se torna cansada, o nosso corpo exausto, e nos sentimos sem forças espirituais.
Mas o Senhor disse a Moisés: “Eu irei contigo, e a minha presença te dará descanso.”
Será que a promessa de Deus é diferente com respeito a nós? Jesus nos diz que não:
Mt 11:28-30 – “28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. 30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”.
O mesmo Deus que estava com Moisés para lhe dar descanso se oferece a nós, para nos dar descanso.
– “Você está cansado? Você está se sentindo oprimido? As circunstâncias, os seus pecados, os pecados de outras são um peso sobre seu coração?”
– “Venha até mim, sente-se perto de mim, sente-se aos meus pés e eu vou lhe ensinar o meu caminho, e a minha presença e o meu ensino irão dar paz a você, irão renovar suas forças.”   
2. É a presença de Deus o que nos faz um povo santo, separado.
v. 16 – “Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?”
– “Se o Senhor andar conosco não seremos como os demais povos da terra; se o Senhor andar conosco não seremos com aqueles que não te conhecem.”
– “Se o Senhor andar conosco seremos um povo separado de todos os outros, isto é, seremos um povo santo, diferente.”
Sim, o andar com Deus faz com que os filhos de Deus sejam pessoas diferentes, que tem um modo de vida melhor.
Não por que eles sejam mais espertos, por si mesmos. Pois como Jesus nos diz , – “Sem mim nada podeis fazer.”
E como também cantamos: – “Sem ti nada posso fazer”.
Mas quando andamos com Deus, quando a igreja anda com Deus ela é um grupo de pessoas diferentes.
Veja as palavras de Deus a Abraão quando o convida a andar com ele:
Gn 17:1 – Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito.
Veja a instrução de Moisés a Israel no sentido de serem perfeitos diante do Senhor
Dt 18:9-15 - Quando entrares na terra que o SENHOR, teu Deus, te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos.  10 Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;  11 nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos;  12 pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de diante de ti.  13 Perfeito serás para com o SENHOR, teu Deus14 Porque estas nações que hás de possuir ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o SENHOR, teu Deus, não permitiu tal coisa.  15 O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás.
O que é ser “perfeito”? Andar com Deus, obedecer seus mandamentos, ouvir sua voz, e não a voz do mundo.
Mt 5:48 – Portanto, sede vós perfeitos, como é perfeito vosso pai celeste.
3. A presença de Deus evidencia que, de fato, somos povo do Senhor
“Como realmente iremos saber que de fato a tua graça está sobre nós, que o Senhor nos conhece pelo nome, isto é, que somos suas ovelhas? Não é por andares conosco, de sorte que somos um povo separado?”
Uma pessoa só é de fato, de Deus, se ela anda com Deus e Deus anda com ela.
Uma igreja só é, de fato, igreja de Deus, se ela anda com Deus e Deus anda com ela.
Se uma pessoa, ou uma igreja, estão envolvidas com as missões, com os grandes propósitos, mas não como resultado de andar na presença de Deus, e sim porque lança mão dos conselhos do mundo, precisa despertar, pois está dormindo nas trevas.
Se uma pessoa, ou igreja, determinar ser separada, santa, mas no poder de suas próprias forças, e não como resultado da comunhão com Deus, esta pessoa ou igreja se transforma apenas num grupo de fariseus que se acham melhores do que os outros.
Uma pessoa pode vir na igreja todos os domingos e não ser uma pessoa realmente de Deus.
Uma pessoa pode não fumar, não se embriagar e etc., e não ser realmente de Deus.
O que determina o verdadeiro caminhar, o verdadeiro comportamento, o ser verdadeiramente cristão é o andar com Deus.
Jo 10:27-28 – As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.  28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Conclusão e Aplicação
É andar com Jesus que trás descanso para nossas almas, que renova as nossas força para a vida.
É andar com Jesus que nos faz andar como um povo separado.
É andar com Jesus que faz de nós pessoas realmente dele.
E andar com Jesus não é difícil.
Pois ele diz que os pequeninos, isto é, aqueles que sabem que nada podem sem ele, os que estão cansados e sobrecarregados podem ir a ele.
Como Moisés, que diante daquela tão grande tarefa pediu: – “Se o Senhor não for comigo, nem me faça sair daqui.”
E o Senhor o atendeu. Peça. Chame, clame por ele. E ele atende.




[1] Êx 33 11-17 - O Caminho de Deus (Link aqui)

domingo, 20 de dezembro de 2015

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo - 2ª Co 8:9

IPC de Pda. de Taipas
Domingo, 20 de dezembro de 2015
Pr. Plínio Fernandes[1]
Queridos irmãos, vamos ler 2ª aos Coríntios 8:1-9
Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; 2 porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.  3 Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, 4 pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos.  5 E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus; 6 o que nos levou a recomendar a Tito que, como começou, assim também complete esta graça entre vós.  7 Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça.  8 Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor; 9 pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos. 
Estamos comemorando o Natal, o nascimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
O dia em que Deus, o nosso Criador, na pessoa de seu Filho, “se fez carne”, assumiu a forma humana e habitou entre nós, para que nós pudéssemos conhecê-lo.
Deus veio do céu até nós, que somos pecadores, a fim de nos salvar, de nos levar para o céu.
E porque ele fez isto? O que foi que o motivou?
No texto que acabamos de ler, temos uma das muitas reafirmações da Bíblia que nos explicam porque Jesus veio ao mundo.
Quando Paulo escreveu esta carta, muitas igrejas estavam, juntamente com os demais apóstolos, empenhadas em levantar uma generosa oferta financeira para as igrejas da Judeia, porque aquela região estava passando por um período de grande fome.
Então, nos primeiros cinco versículos aqui, lemos o testemunho que ele dá a respeito das igrejas da Macedônia, região ao norte da Grécia.
Ele diz que os crentes daquele lugar, mesmo sendo pobres, haviam feito questão de cooperar com as ofertas em favor dos seus irmãos em Jesus, e contribuíram não somente de acordo com o que podiam, mas até acima disto, pois eram pessoas cujo coração estava transbordante da graça de Deus.
Eles haviam entregado suas vidas a Jesus, o Deus que se entregou por nós, e também haviam se entregado aos irmãos, aqueles pelos quais Jesus se entregou.
Então, uma vez que amavam a Jesus e aos seus irmãos, quiseram contribuir e o fizeram generosamente.
Depois, a partir do v. 6, Paulo diz que esta mesma disposição generosa ele certamente veria também nos crentes da cidade de Corinto.
Aqueles irmãos de Corinto, a quem o apóstolo tanto amava, também costumavam manifestar abundância da graça de Deus – na fé, no cuidado, na sabedoria. Então Paulo não queria deixá-los de fora desta bênção, a bênção de contribuir.
Em resumo, com diz o v. 9, eles deveriam contribuir porque conheciam a graça de Jesus.
E neste versículo, amados, nós também temos de forma muito simples e completa, toda a doutrina do Evangelho.
Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.
Vamos tomar estas palavras do apóstolo como base para nossa meditação

1. Primeiro, ele nos lembra da graça de Jesus Cristo
Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo...
Quando a Bíblia usa a palavra “graça”, está se referindo à boa disposição que há no coração de Deus em relação aos que nele confiam.
É uma boa disposição em Deus que nós não alcançamos mediante os nossos esforços para agradá-lo, não é um pagamento pelas nossas boas ações, mas é atitude, um “estado de alma bondosa para conosco” que é inerente ao próprio coração de Deus.
Em outro lugar, a Palavra de Deus nos diz que, por meio de Jesus Cristo, antes mesmo de que fossem criadas todas as coisas, “num tempo em que não havia tempo”, quando nós existíamos apenas nos planos de Deus, pela sua graça, e não pelas nossas obras, ele determinou a nossa salvação.
2ª Tm 1:9
(Deus) que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos...
Neste contexto, vale trazer à nossa lembrança um registro do Evangelho de Lucas sobre esta graça de Jesus.
Lc 4:17-22
Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: 18 O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19 e apregoar o ano aceitável do Senhor.  20 Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele.  21 Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.  22 Todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e perguntavam: Não é este o filho de José?
Ele estava numa sinagoga na cidade de Nazaré. E tendo sido lhe dada a Palavra, tomou a profecia de Isaías explicando que ela se cumpria nele.
Ele veio para curar enfermos, libertar cativos do diabo, por em liberdade os oprimidos. Ele veio para anunciar aos pobres a boa notícia da salvação eterna. É o que nós o vemos fazendo o tempo todo nos evangelhos.
E aqui na sinagoga, as pessoas que o ouviam ficaram admirados, pois tudo quanto Jesus dizia não eram palavras próprias de um mero carpinteiro, mas palavras de quem conhece a Deus profundamente, palavras de graça, palavras que abençoavam.
Não é sem motivo que em João 1:14 o Espírito Santo diz que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade”.
Agora, em nosso primeiro texto, Paulo destaca o clímax da graça de Deus por nós, com estas palavras:
Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre, por amor de vós...
2. Elas nos dizem como Jesus manifestou a sua graça
Jesus era rico e se fez pobre.
Eu quero ler com vocês agora o que diz a Carta aos Filipenses.
Fp 2:5-8
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
A Palavra de Deus está exortando aos que conhecem a graça de Jesus a serem seus imitadores, nos pensamentos, nos sentimentos, nas atitudes.
E diz que Jesus subsistia em forma de Deus, isto é, vivia “na eternidade”, no céu.
Aqui e ali o Novo Testamento nos ensina que Jesus foi quem criou e quem sustenta todas as coisas, e todos os seres que existem: os homens e os anjos, os planetas, as estrelas, os céus e a terra e tudo o que neles se contém.
Antes de vir ao mundo, à direita do trono de Deus Pai, sendo adorado pelos anjos, e desfrutando de todas as alegrias inimagináveis da comunhão com seu Pai.
Mas então, subsistindo em forma de Deus, ele não se apegou a isto, mas deixou a sua glória celestial, e se fez um ser humano, no ventre da virgem Maria.
Jesus nasceu entre nós, como um menininho frágil e carente, que precisava ser alimentado, asseado, educado, que precisava crescer e aprender.
Um menino pobre, de uma família pobre e trabalhadora, temente a Deus. Era conhecido como carpinteiro, pois aprendera o ofício de seu “pai adotivo”, José, e assim deve ter trabalhado nos primeiros anos.
Ele era tão pobre que certa vez se comparou com os animaizinhos dizendo:
Mt 8:20
As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
Jesus viveu aqui de forma humilde, servindo, e não desejando ser servido.
Curando, abençoando, anunciando o reino de Deus e sua salvação.
Jesus dava atenção aos pecadores, aos marginalizados, às criancinhas; numa sociedade preconceituosa em relação às mulheres, o Senhor as tratava com dignidade.
Jesus lavou os pés dos discípulos.
Ele foi bondoso, puro e santo em tudo o que fez; nunca cometeu pecado algum, mas depois disto, através das mãos de homens iníquos, Jesus entregou sua própria vida, morrendo na cruz, pelos nossos pecados.
Sendo rico, se fez pobre, humilde, servo, esvaziou-se de si mesmo, obediente ao Pai até à morte, e morte de cruz, por amor de nós.
E em todas estas coisas Jesus tinha um grande propósito no coração...
3. Então vejamos a razão de Jesus ter manifestado a sua graça
...para que pela sua pobreza, fôsseis enriquecidos...
Qual o significado disto? Em que sentido o Evangelho diz que através da pobreza de nosso Senhor nós fomos enriquecidos? Será que Jesus morreu numa cruz para que nós pudéssemos ter dinheiro?
O apóstolo Paulo, o homem que escreveu estas palavras, foi um homem rico, de boa posição social, que possuía muitos bens?
E os demais apóstolos de Jesus, eram homens ricos?
Mas se assim fosse, não seria uma contradição com a doutrina de nosso Senhor? Pois ele ensinou que o tesouro do crente está no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde o ladrão não rouba.
Em que sentido então, o Senhor Jesus se fez pobre párea que nós fossemos enriquecidos?
São muitas as passagens bíblicas que nos ensinam sobre nossa riqueza, mas apenas quero citar duas ou três. Vamos apenas ler, pois o nosso tempo é curto.
Ef 1:3
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo,
1ª Co 1:4-7
Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; 5 porque, em tudo, fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento; 6 assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vós, 7 de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo,
Rm 8:17
Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.
Você percebe? Ele tem nos enriquecido com toda sorte de bênção espiritual, de maneira que tudo quanto precisamos para desfrutar das alegrias da comunhão com Deus já nos tem sido concedido.
O Senhor é o nosso pastor, e se ele é o nosso pastor, então não precisamos mais nada, e não precisamos mais ninguém.
Pois nele temos perdão, redenção, isto é, libertação de nossas almas do poder do pecado, temos aceitação, justificação, santificação, temos paz no coração, temos fé, amor e esperança, e toda sorte de bênçãos espirituais.
E por fim, todos os sofrimentos que muitas vezes experimentamos neste mundo, por amor a Jesus, serão recompensados, pois onde está Jesus agora, em sua glória, nós estaremos também.
Somos herdeiros de Deus, herdeiros da vida eterna em Cristo Jesus.
Conclusão e aplicação
É Natal, amados. Um dia em que a Cristandade, embora não deixe de fazê-lo a cada dia, comemora o dia em que o Deus eterno “nasceu entre nós”, na forma de um ser humano, num “humilde presépio”, pobre, servo de Deus e dos homens.
O dia em que Deus deixou a sua glória, e veio nos buscar para a sua glória.
Esta é a suprema graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Eu quero fazer duas aplicações gerais às nossas vidas, com base neste texto:
 1. Paulo diz aos coríntios: e conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Não são todas as pessoas que conhecem esta graça.
O Evangelho de João nos diz que Jesus veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, os que creem no seu nome, deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus.
Jesus, o Criador de todos, veio para o mundo inteiro, mas não são todos os que conhecem a Jesus.
Muitos nem relacionam o Natal com o nascimento de Jesus; apenas o têm como um feriado de final de ano.
Muitos ouvem falar de Jesus, mas irão comemorar o Natal em festas blasfemas, orgias, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes. Rejeitam a mensagem de Jesus.
Muita gente religiosa até não conhece a Jesus, não conhece a sua graça que perdoa, que santifica, que transforma o coração.
Então eu quero exortá-lo: se você ainda não conhece a graça transformadora de Jesus, se você ainda não tem esta riqueza, hoje é dia de ser enriquecido; arrependa-se de seus pecados, e creia em Jesus; receba Jesus em seu coração e siga-o. Você será feito herdeiro de Deus.
2. Uma palavra ao que conhecem esta graça
Seja agradecido. E você sabe: todos os dias. Porque todos os dias o Senhor “abre as janelas do céu” e derrama sobre nós toda sorte de bênçãos espirituais, e também para esta vida. A cada dia, seja agradecido por todas as coisas, em todas as circunstâncias. Porque em tudo temos sido enriquecidos.
Seja gracioso. E você sabe, todos os dias. Pela graça, você tem recebido o Evangelho. Tem recebido perdão, paz, alegria, amor, esperança. “De graça recebestes, de graça dai”.



[1] Devo esta mensagem a um comentário do Rev. Wilson Francisco da Silva, da IPC do Riacho Grande, São Bernardo do Campo, sobre este versículo, na posse da Comissão Executiva do Presbitério Piratininga, em 13 de dezembro de 2015

domingo, 6 de dezembro de 2015

A grande alma do nosso Senhor - Lc 9:51-56

3ª IPC de São Paulo
Domingo, 6 de maio de 2007
Pr. Plínio Fernandes
“E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém  52 e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada.  53 Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém.  54 Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?  55 Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.  56 Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia.”
O Evangelho de Marcos nos diz que Jesus acrescentou a Tiago e João o nome de “Boanerges”, que quer dizer “filhos do trovão”.[1]
Talvez por causa da impetuosidade que podemos observar neles, como neste  caso registrado em nosso texto.
Lucas nos conta que Jesus havia iniciado sua última viagem para Jerusalém. Lá ele seria entregue, julgado e crucificado.
Enquanto seguia viagem, nosso Senhor continuou a proclamar o reino de Deus, a ensinar seus discípulos e a curar os enfermos.
Quando estavam próximos de uma aldeia samaritana, ele enviou discípulos que o precedessem para preparar um lugar no qual pudessem repousar.
Mas diferente de uma outra cidade samaritana, aquela da história registrada em João cap. 4, que se converteu a Jesus, esta aqui recusou-se a recebê-lo.
Pois ele era um judeu, estava a caminho de Jerusalém, e os judeus não se davam com os samaritanos. Portanto, aqui ele não era bem-vindo.
Então, diante disto Tiago e João, os filhos do trovão, perguntam a Jesus: – “O Senhor quer que nós ordenemos que caia um fogo do céu que consuma estes samaritanos?”
Me parece que estavam muito indignados. E também cheios de fé: – “Se o Senhor quiser, nós ordenamos e cai fogo do céu”.
Claramente cheios de zelo. Talvez até estivessem com algum texto bíblico em mente.
Afinal, está escrito que quando Nadabe e Abiú ofereceram um “fogo estranho no altar de Deus”, um fogo da parte do Senhor os consumiu[2]; o mesmo aconteceu com aqueles duzentos e cinqüenta líderes de Israel que se rebelaram contra a autoridade de Moisés e de Arão[3]. E também aconteceu o mesmo com aqueles oficiais do rei Acazias que foram até o profeta Elias para prendê-lo[4].
Refletindo isto alguns manuscritos antigos acrescentam: – Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?” (Um acréscimo que consta nalgumas versões modernas).
Estavam cheios de zelo, mas um zelo sem entendimento[5].
Estavam de posse de conhecimento bíblico, porque o Deus da glória é um fogo consumidor[6], mas um conhecimento legalista e sem amor.
E por isto o Senhor os repreendeu dizendo: – “Vocês não conhecem que espírito é este o de vocês; eu não vim para destruir as almas dos homens; eu vim para salvá-las”.
E tendo dito isto, partiram para outra aldeia, onde os homens estivessem dispostos a recebê-los.
– “O Senhor quer que nós mandemos descer fogo do céu, de modo que sejam destruídos?”
Acho que nalguma ocasião seria de grande proveito concentrarmos nossa atenção num estudo a respeito da natureza humana, carnal, dos discípulos, conforme aqui revelada.
– “O Senhor quer que estes incrédulos, esses rebeldes, sejam destruídos?”
Como o coração deles era pequeno! E como num coração tão pequeno cabia tanta maldade! A natureza humana é assim.
Mas, em contraste com a pequenez do coração deles, veja a grandeza de Jesus.
Se Jesus assim o quisesse, ele mesmo poderia ordenar, e o fogo cairia do céu. Pois ainda que, para nos salvar, ele tenha se tornado um ser humano como nós, com necessidades como as nossas, de repousar, se alimentar, matar a sede, ele era um ser humano no qual estava encarnado o próprio Deus, o Todo poderoso Deus.
Mas Jesus não queria. Não foi para isto que ele veio. Ele não veio para destruir. Ele veio para salvar.
Nesta noite, meus queridos irmãos, vamos considerar a grandeza da alma de nosso Senhor. Esta história que temos diante de nossos olhos tem muito a nos ensinar sobre este assunto.
1. Primeiramente, consideremos a grande coragem de Jesus
O v. 51 nos diz que estavam se completando os dias em que Jesus deveria voltar para o céu.
Estava se aproximando a hora em que ele deveria ir a Jerusalém para ser crucificado.
Ele sabia que seu corpo não sofreria decomposição, por que ao terceiro dia iria ressuscitar, e depois seria recebido na glória dos mais altos céus[7].
Este era o plano entre ele, o Pai e o Espírito Santo, desde antes da criação do universo[8].
Mas antes da ressurreição, a morte.
E Jesus sabia tudo quanto aconteceria, em cada detalhe.
Durante toda a sua vida Jesus só fez o bem. E mais notavelmente desde o início de seu ministério, seus ensinos, suas obras, não somente refletiam a bondade de seu coração, como também demonstravam que por intermédio dele o reino de Deus, a salvação havia chegado entre os homens.
Ele deu pão aos famintos; ele curou enfermos; ele consolou os tristes; ele pregou o evangelho a todos.
No entanto, tudo quanto Jesus fez não foi, para a maioria das pessoas, razão suficiente para que se convertessem.
Não foi suficiente para a ganância material do povo em geral.
Mas foi suficiente obstáculo para a ganância de poder dos fariseus, dos zelotes, dos saduceus e escribas, de modo que eles se tornaram vingativos e assassinos.
E três anos depois do início de seu ministério as pessoas estavam decepcionadas com Jesus.
Alguns dias depois de sua entrada triunfal em Jerusalém, as mesmas pessoas que clamaram: – “Hosana ao Filho de Davi!”, agora gritavam diante de Pilatos: – “Crucificai-o! Crucificai-o!”, enquanto pediam que Barrabás, o criminoso, fosse solto, e Pilatos lavava solenemente as mãos.
Jesus sabia que seria traído. Traído com um beijo. Por trinta moedas de prata.
Sabia que seria julgado. De noite, às escuras.
Sabia que suas palavras seriam distorcidas. Que seria acusado de pecar, violando a lei. Que seria acusado de blasfêmias contra Deus. Que seria escarnecido, açoitado.
Sabia que levaria pancadas covardes na cabeça. Sabia da coroa de espinhos, dos pregos, do levar a cruz. Sabia que chegaria a hora em que com toda a verdade poderia clamar: – “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Pois ele estaria morrendo a morte de um maldito de Deus.[9]
Por que naquela hora, escreve o apóstolo, Deus o fez pecado em nosso lugar.[10]
Naquela hora, a hora da cruz, Deus, que é tão puro de olhos que não suporta ver o pecado, fez cair em Jesus o pecado de todos nós.
Jesus sabia de tudo isto.
No Evangelho de João está escrito que ele confidenciou aos seus discípulos: – “É chegada a minha hora. E como a minha alma está angustiada até que tudo aconteça. Que vou fazer? Pedir ao Pai que me livre desta hora. Mas eu vim justamente para isto.”[11]
Agora, note a angústia de Jesus, em João, em contraste com as Palavras de Lucas.
v. 51 – “E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém”.
Intrépida resolução. Intrepidez: destemor, ousadia, coragem.
A alma de Jesus se revelou grande, não porque não sentisse medo. Jesus sentiu medo, mas não foi um medo que o fez se acovardar. 
A alma de Jesus também se revelou grande, não porque ele escondesse de seus discípulos as suas reais emoções, porque ele não o fez.
Mas ainda assim ele prosseguiu. E aqui podemos então dizer que ser corajoso não é não sentir medo, mas ser fiel, ser constante, ser perseverante, ir em frente mesmo quando a alma está angustiada.
Jesus é fiel, constante.
2. Em segundo lugar, consideremos que esta coragem é fruto de seu grande amor
v. 56 – “Eu não vim para destruir as almas dos homens, mas para salvar”
“O meu desejo, o meu propósito, o que eu quero, é que os homens sejam salvos, e não que os homens sejam consumidos”.
Jesus bem que poderia, se quisesse, evitar a cruz. Ele poderia salvar-se a si mesmo.
Em outras ocasiões anteriores, quando ainda não era a hora, os homens intentaram tirar-lhe a vida, mas Jesus simplesmente retirou-se do meio deles e foi embora.[12]
Se ele quisesse, ele poderia pedir ao Pai, e legiões de anjos viriam ao seu socorro no mesmo instante [13].
Mas ele não quis. E não quis por amor.
Jesus amou ao seu Pai
Jo 14:29 – “Disse-vos agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais.  30 Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim;  31 contudo, assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.”
Agora observe: era a vontade do Pai que Jesus morresse em nosso lugar. Pois Deus nos amou tanto que deu seu único filho, para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. Pois Deus enviou seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele[14].
Como é grande o amor que o Pai tem por nós!
Ao mesmo tempo, Jesus também nos amou.
Jo 15:13 – “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.”
Mas é ainda mais admirável: quando Jesus morreu por nós, não éramos seus amigos. Foi por sua morte que ele nos atraiu a si mesmo.
Como escreve o apóstolo, foi pela morte de Jesus que fomos reconciliados com Deus[15].
Ora, este grande amor, foi o que levou Jesus a não pensar em si, mas a buscar a nossa salvação.
Há muitos anos, eu li a história de um homem que tinha verdadeiro pavor de atravessar pontes. Era um trauma de infância, pois quando menino ele havia sofrido um acidente numa ponte.
Era um medo terrível, e por mais que ele raciocinasse, não conseguia se libertar dele. Quando ele saia de casa, primeiro traçava a rota que iria seguir e assim evitava alguma ponte que houvesse pelo caminho.
Mas um dia este homem recebeu um telefonema dizendo que seu filhinho havia se acidentado.  Então ele saiu de casa e com toda a pressa foi até o lugar onde estava o seu querido, e seu coração só teve sossego quando o socorreu e consolou.
Algum tempo depois se deu conta de algo que não havia notado na hora: quando, no dia do acidente, ele saiu de casa, angustiado para encontrar seu filho, não percebeu, mas atravessou duas pontes para chegar até ele. O seu amor, a sua preocupação com o filho foi maior que o medo que sentia de atravessar pontes. O perfeito amor lança fora o medo[16].
O amor que Jesus tem para conosco foi muito maior que a sua preocupação consigo mesmo, com seu próprio bem estar.
Não foi sem motivo que Paulo escreveu: – “A cada dia que agora estou neste mundo, eu vivo pela fé, eu vivo confiando no Filho de Deus, por que o Filho de Deus me amou, e a si mesmo se entregou por mim”[17].
A alma de Jesus é grande, é nobre, e esta grandeza é manifestada no grande amor que ele tem pelo Pai, e por nós.
3. E por último, consideremos que este grande amor também é evidenciado em sua grande longanimidade
Provérbios diz que “a discrição do homem o torna longânimo, e sua glória é ignorar as injúrias.”[18]
– “Senhor”, perguntam os discípulos, “queres que eles sejam destruídos?”.
Pois à língua fraudulenta, diz o salmo, Deus a destruirá;[19] esse é o destino dos ímpios.
E o apóstolo escreveu que se alguém destruir a igreja de Deus, Deus o destruirá[20].
E veja qual é a sentença preparada para todo aquele que se recusa a ouvir o Evangelho:
2ª Ts 1:7-9 – “a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder,  8 em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus.  9 Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder,  10 quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho).”
Sim, a destruição é o destino de todo aquele que se recusa a obedecer ao Evangelho de Jesus.
Mas, ainda que seja assim, este não é o prazer de Deus. Ao contrário, o prazer de Deus é que o homem se arrependa, converta de seus maus caminhos, e viva[21].
Esta é a grande razão, escreve o apóstolo Pedro, pela qual a promessa da volta de Jesus nos parece demorada.
2ª Pe 3:9 – “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.”
E esta foi a razão pela qual os discípulos estavam errados em pensar que Jesus poderia desejar que os samaritanos fossem consumidos.
– “Eu não desejo destruir, eu desejo salvar.”
Agora não é tempo de matar; é tempo de esperar com paciência que os homens se arrependam.
E vão para outra aldeia. Porque Jesus também não força homem algum a recebê-lo sem querer.
Mas a longanimidade de Jesus também é demonstrada para com Tiago e João
“Vós não sabeis de que espírito sois...”
Há uma repreensão aqui. Pois Jesus repreende a todos os que ama.
“Vós não sabeis de que espírito sois”.
Alguns dias depois Jesus diria a Filipe: – “Há tanto tempo que eu estou com vocês, e vocês ainda não me conhecem Filipe?”[22]
Pois os discípulos tinham grande dificuldade de conhecer, tanto a Jesus como a si mesmos.
Durante aproximadamente três anos Jesus lhes havia ensinado muito. Eles ouviram, em mais de uma ocasião, Jesus dizer: – “Bem aventurados os mansos...”
E Jesus não ensinava somente com palavras: ele era o exemplo perfeito do que é ser manso e humilde de coração.
Ninguém foi melhor Mestre do que Jesus. E ainda assim eles ainda não haviam aprendido.
Porque o ser humano, por natureza, tem um coração demorado em aprender. Tem um coração demorado para crer[23].
Um dia Tiago seria tão manso que seria levado à morte por amor a Jesus[24].
Um dia João seria tão dócil que passaria a ser descrito como “o apóstolo do amor.”
Mas ainda não eram assim. Por enquanto eram “Boanerges”, “filhos do trovão”.
Um dia seriam grandes em amor. Um dia seus corações não teriam limites. Mas agora eram pequenos. E Jesus tem paciência com eles.
Eles seguem a viagem. Vão por outros povoados, pregam o reino, e finalmente chegam a Jerusalém, para cumprir o propósito de Deus
Conclusão e aplicação
Você vê como é grande a alma de nosso Senhor? Vê como seu coração é terno, misericordioso, gentil? Você vê a doçura de nosso Senhor? Ele é ousado, forte, fiel, constante, destemido como um leão.
Ele é amoroso, altruísta, abnegado, decididamente em nosso favor.
Ele é longânimo com todos: os crentes e os incrédulos; é paciente, é manso, sabe esperar, porque o amor tudo espera, tudo suporta.
Amados, eu desejo fazer três aplicações  desta verdade, para o bem de nossas almas:
1. A primeira delas, para você que ainda não é convertido a Jesus. Você que ainda não o recebeu, que ainda não obedeceu ao evangelho
De acordo com a Palavra de Deus, você ainda está perdido. Jesus voltará para o dia do juízo final, e se você não tiver se convertido, sua alma perecerá. Será banida para o fogo eterno.
Mas o inferno, disse Jesus, Deus o preparou foi para o diabo e seus mensageiros[25].
E lançar a alma dos homens no inferno não é o prazer de Deus. Ao contrário, o que dá satisfação ao coração de Deus é que o homem se converta.
Considere o adúltero, ou o ladrão (pois adultério nada mais é que outra forma de roubo). O ladrão pensa estar lucrando, tomando para si o que pertence aos outros (seja a esposa, o dinheiro, a posição, o bom nome). Mas ele não percebe que enquanto rouba o que é dos outros o diabo está lhe roubando a paz, a vida e até a sua alma.
Considere o mentiroso: ele engana ao seu próximo, ele engana a seu pai, à sua mãe, à sua esposa. Ele engana a si mesmo pois não percebe que, enquanto mente, Satanás, o pai da mentira, está mostrando para ele o caminho do inferno como se fosse o caminho da felicidade.
Considere o homossexual, a lésbica, o fornicário[26]: buscando prazeres que só lhe trarão destruição, em lugar de vida feliz.
Considere o mesquinho, o avarento, o alcoólatra, o seqüestrador, o idólatra.
Gente infeliz, cega, pobre, espiritualmente nua, desnorteada, cambaleando numa longa fila de cativos de Satanás[27].
O Senhor Deus não tem prazer em que essas pessoas sofram eternamente.
Ao contrário, o seu coração terno deseja que se arrependam, que creiam, se convertam e sejam salvas.
Se você ainda está perdido, hoje é dia de aceitar Jesus. Hoje é dia de crer. Hoje é dia de confessar seus pecados. Hoje é dia de clamar a Deus. E todo aquele que assim o fizer será salvo[28].
Então venha a Cristo. Venha hoje. Porque ficar demorando? Creia nele, confie sua vida a ele.
2. Uma aplicação para você que já é salvo; você que já veio a Cristo
Você percebe quanto Jesus o ama? Você percebe o quanto Jesus é paciente?
Você percebe que Jesus sempre continuará lhe ensinando, cuidado de você?
Talvez você ainda não possa ser chamado “apóstolo do amor”. Talvez você seja “Boanerges”.
Talvez você não possa ainda ser chamado maduro, como uma palmeira, como um cedro do Líbano[29]. Talvez você esteja mais para “um pé de alface”. Talvez você seja tardo de coração.
Mas você tem um Mestre perfeito.
E este Mestre sabe que não é apenas com palavras e com bons exemplos que os homens aprendem e são transformados, assim como as plantas não crescem apenas se você colocar água e luz. Existe o elemento tempo. Existem as estações do ano.
E é assim que os homens crescem espiritualmente: eles ouvem, eles vêem, eles guardam no coração.
E a vida vai lhes dar o crescimento: os sofrimentos da vida, os tempos a sós com Deus em oração, os quebrantamentos, a adoração, a comunhão com a igreja, as batalhas interiores contra o pecado, todas estas coisas, e muitas outras, cooperam para o bem dos que amam a Deus, para que eles cresçam.
Jesus sabe disto. Você pode confiar na fidelidade do caráter dele. Você pode confiar que ele é fiel e constante nos planos que ele tem para você. Você pode confiar no amor, na amizade dele. Você pode confiar na paciência dele.
3. Uma aplicação para todos nós
Jesus tem um caráter excepcional, e uma vez que ele é o nosso Deus, aliás, uma vez que, com o Pai e o Espírito, ele é o único Deus, nós devemos adorá-lo por sua dignidade. Nós devemos nos prostrar, assim como os anjos do céu, diante do Cordeiro que foi morto pelos nossos pecados, e dar-mos glória a ele, e reverência. Devemos dar nossas vidas: tudo o que somos e tudo o que temos.
Mas Jesus também a si mesmo se chama “Filho do Homem”, porque ele se fez carne e habitou entre nós. E como homem, o seu caráter é admirável. Nós podemos olhar para Jesus e admirá-lo.
E quando admiramos alguém, nós queremos ser como esse alguém. Se você admira um pregador, você o imita. Se você admira um cantor popular, você o imita. Se você admira a sua mãe, você a imita. Se você admira a Jesus, você o imita.
Admire a coragem de Jesus. Admire sua fidelidade: fidelidade a Deus, aos seus discípulos, ao mundo que veio salvar. Admire o seu amor, a força de sua alma. Admire a sua paciência, a sua longanimidade.
E aprenda a ser como ele. Aprenda a ter um coração nobre, não pequeno. Não se esqueça que ele pacientemente está procurando lhe ensinar isto todos os dias




[1] Mc 3:17
[2] Lv 10
[3] Nm 16
[4] 2o  Rs 1
[5] Rm 10:2
[6] Hb 12:29
[7] At 2:27, 28
[8] 1ª Pe 1:19, 20
[9] Gl 3:13
[10] 2ª Co 5:21
[11] Jo 12:27
[12] Por exemplo, Lc 4:29, 30
[13] Mt 26:53
[14] Jo 3:16,17
[15] Rm 5:10
[16] 1ª Jo 4:18
[17] Gl 2:20
[18] Pv 19:11
[19] Sl 52:3
[20] 1a Co 3:17
[21] Ez 18:23; 33:11
[22] Jo 14:9
[23] Lc 24:25
[24] At 12:1, 2
[25] Mt 25:42
[26] 1ª Co 6:9-11
[27] Ef 2:1-3
[28] Rm 10:13
[29] Sl 92:12
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